Por causa da crise, retomada do mercado pegou os
fornecedores despreparados e quase 70% das indústrias tem dificuldade em
comprar insumos; agronegócio também foi impactado
Após o auge do impacto econômico causado pela crise
do coronavírus, a indústria já dá sinais de retomada. Isso poderia até ser uma
boa notícia se não fosse por um detalhe: falta matéria-prima no mercado.
Segundo dados de uma pesquisa realizada, em outubro, pela Confederação Nacional
da Indústria (CNI), 68% das empresas consultadas revelam dificuldades para
comprar insumos ou matérias-primas no mercado doméstico e 56% no
internacional.
Essa dificuldade é relatada em 10 dos 27 setores
industriais consultados. O setor de móveis foi o mais afetado, 70% das empresas
estão com dificuldade para atender a demanda. Em seguida vem o setor têxtil
(65%) e o de produtos de material plástico (62%). Se não bastasse a incerteza e
preocupação devido a pandemia, esse cenário atrapalha e implica diretamente na
recuperação das atividades e na estabilidade da indústria.
De acordo com a sondagem, 44% das empresas estão
deixando ou demorando para atender os clientes por causa do estoque reduzido.
Além disso, há falta de trabalhadores e de recursos. Para 23% das indústrias
falta mão de obra, e 22% dizem que não têm recursos ou capital de giro para
aumentar a produção.
Segundo a CNI, em setembro, as fábricas já vendiam
mais do que antes da crise causada pelo COVID-19, mas os fornecedores não
voltaram no mesmo ritmo. Isso porque, no início da pandemia a demanda caiu, o
que levou as empresas optaram por reduzir seus estoques para enfrentar, além da
queda no faturamento, o difícil acesso ao capital de giro. O que não se
esperava era a reação rápida do mercado, que pegou os fornecedores
despreparados e provocou um desequilíbrio entre oferta e procura por insumos e
matéria-prima.
O estudo também indicou que, além da falta desses
itens, mais de 80% das empresas perceberam aumento nos preços, sendo que 30%
delas evidenciaram um aumento acentuado. De acordo com a CNI, tanto produtores
quanto fornecedores estavam com os estoques baixos, o que gerou escassez e,
após a retomada econômica, maior demanda. Somado a isso, ainda houve a alta do
dólar e forte desvalorização do real, que contribuiu para o aumento do preço
dos insumos importados.
Agronegócio
Apesar de o agronegócio ser um dos poucos setores
que se desenvolveram em ritmo acelerado em 2020, com perspectiva de crescimento,
há também dificuldade na busca por insumos. Um exemplo disso é a Casale, líder em tecnologia pecuária. A
empresa é fabricante de equipamentos com tecnologia avançada para alimentação
bovina, em especial misturadores de ração.
De acordo com Mario Casale, CEO da empresa, “há
dificuldades em obter alguns materiais necessários para a fabricação dos nossos
equipamentos, principalmente produtos cuja matéria prima é o aço. Outra
consequência disso é que perdeu-se a referência de preço, quem tem produto
cobra muito caro”, afirma.
No caso do aço, por exemplo, segundo a Abimaq -
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, só empresas de
grandes porte têm condições de comprar esse item diretamente nas usinas, ou
seja, mais de 90% compram o material nas distribuidoras e, por isso,
nesse momento, há uma demora para atender a demanda e aumento no valor do
produto.
O aço é fundamental e utilizado em diversos setores
da indústria, como na construção civil, na produção de veículos,
equipamentos e máquinas agrícolas. “Esse insumo é a principal matéria-prima
utilizada na Casale e nas indústrias de máquinas em geral. Essa escassez
está limitando muito a capacidade de retomada e do aumento na produção. Até o
momento, para não deixar nossos clientes na mão, reduzimos nossas margens e
conseguimos trazer as matérias primas pagando mais caro, mas alguns
fornecedores informam que não terão produtos para entregar, o que é muito
preocupante”, enfatiza Jaqueline Casale, Diretora de Compras da
Casale.
De acordo com o Instituto Aço Brasil, a retomada
econômica está ocorrendo de forma mais rápida que o previsto, mas a
estabilidade só deve ocorrer mesmo em 2021. O fato é que, em um contexto
geral, até os estoques serem repostos e o mercado normalizado, o Brasil terá
que lidar com a falta de alguns produtos e os altos preços.
Casale
Redes sociais: @casalebrasil
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