O home office é uma metodologia de trabalho com base tecnológica. Visto, na maioria das vezes, como um privilégio já que essa modalidade tende a ser ofertada ao redor do mundo em empresas capacitadas e com profissionais que demonstram qualificação e habilidades necessárias.
No Brasil, também se nota esse mesmo privilégio,
mas temos uma considerável parte da população que exerce trabalhos não
enquadrados na categoria de trabalho remoto como, por exemplo, serviços
informais, vendas, entre outros.
Devido às adaptações necessárias para o combate ao
coronavírus, as empresas que já realizavam home office intensificaram seu uso,
ao passo que outras adotaram o modelo pela primeira vez. Até mesmo pequenos
negócios foram obrigados a aderir à transformação digital, migrando para
formatos de delivery e e-commerce, por exemplo.
Ainda que esse tipo de trabalho tenha várias
vantagens, como a redução de custos e a otimização do tempo, ainda é preciso
considerar alguns aspectos preocupantes. Um deles é a preservação do ambiente
empresarial saudável, ainda que ele esteja ‘espalhado’, com cada colaborador
trabalhando de um local diferente.
Quando a organização não disponibiliza tecnologias
e informações necessárias para que o trabalho seja realizado, o colaborador tem
o risco de desenvolver sérios problemas, prejudicando até mesmo a sua saúde
mental.
Outro ponto importante é a hierarquia e o
planejamento: como se dá a exigência e a investigação da produtividade? Quais
são as regras formais que permeiam essa organização? Será que elas são
contraditórias com aquilo que é exigido do próprio trabalho?
Ainda é possível identificar outras variáveis
subjetivas, que dizem respeito às interações remotas entre colaboradores. Elas
estão sendo realizadas corretamente? Como os integrantes da equipe estão se
comunicando e se comportando uns com os outros durante o home office? Há algum
vestígio de atitude tóxica por parte de líderes, funcionários e até mesmo
clientes?
Esse comportamento tóxico individual também reflete
na própria cultura da organização. Afinal, uma empresa pode se preocupar apenas
com a produtividade do colaborador, mas negligenciar esse cuidado com seu
comportamento interpessoal, que não deixa de ser fundamental no ambiente de
trabalho remoto.
A falta de interação interpessoal também faz com
que o trabalho remoto traga contratempos. Por isso, vale lembrar que ele não é
completamente distinto do regime tradicional, uma vez que todos os processos se
mantêm, apenas utilizando recursos digitais, e-mails, videoconferências,
ligações e outras estratégias de interação remota.
O indivíduo, contudo, continua sendo o mesmo. Ele
deve se portar profissionalmente e usar a flexibilidade do home office de forma
positiva, otimizando sua produtividade sem deixar de lado sua vida pessoal e
saúde mental.
O colaborador deve ficar atento à sua conduta
profissional, mesmo fora das dependências físicas da empresa, pois a falta de
supervisão direta tende a tornar os funcionários mais suscetíveis a engajar em
atividades não relacionadas ao trabalho ou mesmo incompatíveis com ele.
O ideal é que a organização realize treinamentos de
melhores práticas, como eleger um ambiente calmo para trabalhar, evitar distrações,
como celular ou televisão, ter metas diárias e semanais, entre outros. Isso é
essencial, principalmente agora, em que o home office foi instituído ‘às
pressas’, sem muito planejamento, devido ao coronavírus.
Carlos Schlottfeldt - coordenador de Pesquisa e
Desenvolvimento na Mapa Avaliações. É graduado em psicologia pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
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