Assim como os setores da aviação, turismo, bares, restaurantes, shoppings, vestuário e tantos outros, o mercado audiovisual foi mundialmente afetado pela covid-19 e, em decorrência dela, pelos meses de paralização. Mesmo as recentes alterações de procedimentos de segurança – roteiristas atuando em home office, fim da impressão de roteiros que passam pelas mãos de elenco, diminuição do número de pessoas em cada set, higienização constante de materiais de uso coletivo (microfones e câmeras) e EPI obrigatórios (máscaras, luvas e viseiras) – no set de filmagem são insuficientes para manter esse setor como uma força comprovada da economia criativa. Segundo o estudo da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o valor adicionado pelo setor audiovisual à economia brasileira cresceu, em termos nominais, 192% entre 2007 e 2014, chegando a R$ 24,5 bilhões em renda gerada em 2016. De 2017 a 2019, registrou um crescimento proporcional, o que nos leva a contabilizar bilhões de prejuízo tanto em 2020 quanto em alguns dos anos seguintes.
Mas, quais os possíveis novos caminhos? É óbvio que
é difícil prever com exatidão todos os desdobramentos da pandemia no setor
audiovisual, entretanto, alguns deles já estão claros. Para além da
simplificação de roteiros e a diminuição na quantidade de atores, figurantes e
equipe na produção nos projetos de live action, surgem algumas
possibilidades que ensaiam conquistar um certo protagonismo de agora em diante.
A primeira delas é animação. Como o trabalho pode
ser feito remotamente, os estúdios de animação evitam os atuais complexos
problemas de segurança. A 20th Century Fox Television, controlada
pela Walt Disney, registrou aumento de 25% dos pedidos de desenvolvimento nos
últimos meses. O mesmo foi sentido em estúdios de animação nacionais. Esse
crescimento no número de projetos gera a demanda de profissionais da animação
e, com isso, o mercado de cursos e formação a distância (EaD) se torna
essencial.
Portanto, o segundo caminho é a produção
audiovisual dessas aulas e cursos. Segundo números do último Censo do Ensino
Superior – divulgado em 2019 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) – entre 2008 e 2018, as matrículas de
cursos de graduação a distância já tinham aumentado 182,5%, enquanto na
modalidade presencial o crescimento foi apenas de 25,9%. A pesquisa Coronavirus
e Educação Superior: o que pensa os alunos e prospects, divulgada
em junho deste ano pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino
Superior (ABMES), em parceria com a empresa de pesquisas educacionais Educa
Insights, confirma que o Brasil terá, em 2022, mais alunos do ensino superior
estudando na modalidade a distância do que na presencial.
Esse contexto abre espaço para outra mudança
esperada: a diversidade na produção audiovisual. O mercado cultural no Brasil
emprega 5,2 milhões de pessoas em mais de 300 mil empresas, mas ainda
trabalhamos de forma muito regional, localizada e pouco diversificada. É
esperado que com o crescimento mundial do setor de animação e de efeitos
especiais – usados recentemente para resolver questões como cenas de beijo e de
aglomeração – e o crescimento mundial do EaD, seja possível o crescimento
exponencial de colaborações entre profissionais de localidades fora do eixo das
grandes cidades, raças, gêneros e visões de mundo diferentes. Isso tem
potencial para gerar uma produção de conteúdo cada vez mais diversificada e
inclusiva.
Com intuito de colaborar com algumas iniciativas de
capacitação inclusiva, firmei uma parceria com a Escola Superior de Propaganda
e Marketing. Juntos, criamos o curso Direção de Filmes e Propaganda que
conta com um conteúdo voltado a capacitar o aluno a compreender e dominar
noções básicas de direção como a escolha e formação de equipe; liderança no set
de filmagem; estruturação de um filme a partir da planilha de custos; criação
de tratamento; concepção de storyboard; e como construir e
apresentar um pitch para clientes ou para um canal. O objetivo é capacitar
profissionais de visões de mundo diferentes para atuar como diretores de filmes
para os mercados cinematográfico e publicitário. A proposta do curso –
ministrado no formato on-line, em tempo real, composto de cinco aulas – é
contribuir para essa diversidade necessária para o audiovisual nacional. As
aulas serão ministradas de 14 a 18 de setembro de 2020, das 19 às 22 horas e as
inscrições estão abertas e podem ser feitas pelo link: https://www.espm.br/educacao_continuada/direcao-de-filmes-e-propaganda/
Enquanto esperamos pela vacina, essa inclusão
digital talvez traga ao mercado audiovisual mundial e brasileiro uma visão de
mundo cada vez mais ampla, diversa e criativa. Que possamos aprender com ela!
Roney Giah -
diretor e produtor musical, fundador da Doiddo Filmes. Vencedor de 4 Leões de
Cannes e 3 Clio Awards, Giah é formado em música pelo MIT de Los Angeles e em
Engenharia de som pelo I.A.V. Em sua carreira, produziu trilhas e dirigiu
filmes para marcas como Colgate, HSBC, Pringles, Mattel, Zorba, Bank of
America, AOC, Lojas Marisa, NET, Nestlé, ASICS, TNT Energy Drink, Kaiser,
Telecine, Credit Suisse, TEVA e Merck Sharp & Dhome para agências como
WMcCann, Young & Rubicam, Talent Marcel, Havas WW, Hogarth WW, Live e
Mullen Lowe Brasil. Como músico, artista e produtor de conteúdo, Roney Giah
lançou 10 CDs e foi reconhecido pela Billboard Awards e John Lennon
Festival Award, assim como pelo Prêmio VISA. Giah também compõe
trilhas para séries de TV; desenvolveu uma séria animada – Escolinha
de Deuses – selecionada pelo canal 20th Century Fox, em
2018.
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