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terça-feira, 8 de setembro de 2020

O mercado audiovisual na pandemia e as novas possibilidades de crescimento do setor

Assim como os setores da aviação, turismo, bares, restaurantes, shoppings, vestuário e tantos outros, o mercado audiovisual foi mundialmente afetado pela covid-19 e, em decorrência dela, pelos meses de paralização. Mesmo as recentes alterações de procedimentos de segurança – roteiristas atuando em home office, fim da impressão de roteiros que passam pelas mãos de elenco, diminuição do número de pessoas em cada set, higienização constante de materiais de uso coletivo (microfones e câmeras) e EPI obrigatórios (máscaras, luvas e viseiras) – no set de filmagem são insuficientes para manter esse setor como uma força comprovada da economia criativa. Segundo o estudo da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o valor adicionado pelo setor audiovisual à economia brasileira cresceu, em termos nominais, 192% entre 2007 e 2014, chegando a R$ 24,5 bilhões em renda gerada em 2016. De 2017 a 2019, registrou um crescimento proporcional, o que nos leva a contabilizar bilhões de prejuízo tanto em 2020 quanto em alguns dos anos seguintes. 

Mas, quais os possíveis novos caminhos? É óbvio que é difícil prever com exatidão todos os desdobramentos da pandemia no setor audiovisual, entretanto, alguns deles já estão claros. Para além da simplificação de roteiros e a diminuição na quantidade de atores, figurantes e equipe na produção nos projetos de live action, surgem algumas possibilidades que ensaiam conquistar um certo protagonismo de agora em diante.

A primeira delas é animação. Como o trabalho pode ser feito remotamente, os estúdios de animação evitam os atuais complexos problemas de segurança. A 20th Century Fox Television, controlada pela Walt Disney, registrou aumento de 25% dos pedidos de desenvolvimento nos últimos meses. O mesmo foi sentido em estúdios de animação nacionais. Esse crescimento no número de projetos gera a demanda de profissionais da animação e, com isso, o mercado de cursos e formação a distância (EaD) se torna essencial.

Portanto, o segundo caminho é a produção audiovisual dessas aulas e cursos. Segundo números do último Censo do Ensino Superior – divulgado em 2019 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) – entre 2008 e 2018, as matrículas de cursos de graduação a distância já tinham aumentado 182,5%, enquanto na modalidade presencial o crescimento foi apenas de 25,9%. A pesquisa Coronavirus e Educação Superior: o que pensa os alunos e prospects, divulgada em junho deste ano pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), em parceria com a empresa de pesquisas educacionais Educa Insights, confirma que o Brasil terá, em 2022, mais alunos do ensino superior estudando na modalidade a distância do que na presencial.

Esse contexto abre espaço para outra mudança esperada: a diversidade na produção audiovisual. O mercado cultural no Brasil emprega 5,2 milhões de pessoas em mais de 300 mil empresas, mas ainda trabalhamos de forma muito regional, localizada e pouco diversificada. É esperado que com o crescimento mundial do setor de animação e de efeitos especiais – usados recentemente para resolver questões como cenas de beijo e de aglomeração – e o crescimento mundial do EaD, seja possível o crescimento exponencial de colaborações entre profissionais de localidades fora do eixo das grandes cidades, raças, gêneros e visões de mundo diferentes. Isso tem potencial para gerar uma produção de conteúdo cada vez mais diversificada e inclusiva.

Com intuito de colaborar com algumas iniciativas de capacitação inclusiva, firmei uma parceria com a Escola Superior de Propaganda e Marketing. Juntos, criamos o curso Direção de Filmes e Propaganda que conta com um conteúdo voltado a capacitar o aluno a compreender e dominar noções básicas de direção como a escolha e formação de equipe; liderança no set de filmagem; estruturação de um filme a partir da planilha de custos; criação de tratamento; concepção de storyboard; e como construir e apresentar um pitch para clientes ou para um canal. O objetivo é capacitar profissionais de visões de mundo diferentes para atuar como diretores de filmes para os mercados cinematográfico e publicitário. A proposta do curso – ministrado no formato on-line, em tempo real, composto de cinco aulas – é contribuir para essa diversidade necessária para o audiovisual nacional. As aulas serão ministradas de 14 a 18 de setembro de 2020, das 19 às 22 horas e as inscrições estão abertas e podem ser feitas pelo link: https://www.espm.br/educacao_continuada/direcao-de-filmes-e-propaganda/

Enquanto esperamos pela vacina, essa inclusão digital talvez traga ao mercado audiovisual mundial e brasileiro uma visão de mundo cada vez mais ampla, diversa e criativa. Que possamos aprender com ela!




Roney Giah - diretor e produtor musical, fundador da Doiddo Filmes. Vencedor de 4 Leões de Cannes e 3 Clio Awards, Giah é formado em música pelo MIT de Los Angeles e em Engenharia de som pelo I.A.V. Em sua carreira, produziu trilhas e dirigiu filmes para marcas como Colgate, HSBC, Pringles, Mattel, Zorba, Bank of America, AOC, Lojas Marisa, NET, Nestlé, ASICS, TNT Energy Drink, Kaiser, Telecine, Credit Suisse, TEVA e Merck Sharp & Dhome para agências como WMcCann, Young & Rubicam, Talent Marcel, Havas WW, Hogarth WW, Live e Mullen Lowe Brasil. Como músico, artista e produtor de conteúdo, Roney Giah lançou 10 CDs e foi reconhecido pela Billboard Awards e John Lennon Festival Award, assim como pelo Prêmio VISA. Giah também compõe trilhas para séries de TV; desenvolveu uma séria animada – Escolinha de Deuses – selecionada pelo canal 20th Century Fox, em 2018.


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