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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O amor é possível no isolamento

Uma discussão sobre modelos de relacionamentos e afetividade em tempo de pandemia 



Em um mundo polarizado e em isolamento social por causa da pandemia do novo coronavírus, há espaço para falar de amor?

"Sim", responde Ieda Tucherman, doutora em comunicação e professora titular do Programa de Pesquisa e Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ. "Como teriam sido escritas as lindas cartas de amor se não houvesse distância, qualquer que fosse a razão?", rebate.

Com o tema "Uma história do amor: o que ainda temos a dizer", Ieda dará curso on line na Casa do Saber Rio (
http://rj.casadosaber.com.br/), a partir de 17 de setembro, em que abordará questões sensíveis, como amor e religião, o mito da cara-metade e amores múltiplos. E adianta uma conclusão pessoal:
"Se for do bem, todo amor é festejável". 



Confira a entrevista:

Pandemia e isolamento social permitem falar de amor?
Pandemia e isolamento social permitem, sim, falar de amor. Podemos dizer que o amor sabe inventar e usar as formas de comunicação possíveis: quantos romances falam dos sentimentos de saudades? Como teriam sido escritas as lindas cartas de amor se não houvesse distância, qualquer que fosse a razão: guerra, imigração, peste etc? 



História e literatura são feitas de amor e ódio. São estes os sentimentos que movem o mundo e as letras?

Sim, mas não são os únicos: esperança e medo, curiosidade, desejo e memória, que não se opõem ao amor e ao ódio, participam do jogo. 



Religião é uma barreira para o amor?

Não. Religião vem de "religare", que significa tornar comum, e pode ser, em si mesma, uma forma de amor. Fanatismo, sim, é uma barreira para o amor porque se alimenta, principalmente, do ódio. 



É preciso dizer "eu te amo"?

Roland Barthes brinca no seu lindo livro, "Fragmentos do discurso amoroso" que o primeiro que diz "eu te amo" é quase um covarde: o outro só pode responder eu também ou eu não. Se torna um passivo. Dizer "eu te amo" é uma forma de ser ativo, assumindo para si e para o outro a existência nova de um sujeito apaixonado. 



Amor real ou virtual? Amor romântico ou poliamor? Qualquer maneira de amor vale a pena?

Penso como alguns filósofos, como Espinosa, que concordariam com nossos músicos populares; toda forma de amor que aumente a potência de sentir e perceber o mundo e as pessoas vale super a pena. Não é desejável, e isto é uma posição pessoal, o amor que vitimiza, que escraviza, que maltrata. Se for do bem, todo amor é festejável.

 

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