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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Qual a melhor hora de demitir o seu chefe?

Mas quando é a hora certa?

 

O que aprendi ao longo de 20 anos dentro de grandes empresas e exercendo papéis de liderança desde muito nova, é que nós não aprendemos nos livros de gestão ou cursos tradicionais de liderança como lidar com as relações de poder e que no fundo esse é o maior conflito entre as pessoas nos bastidores corporativos.

Todo o ser humano tem uma programação básica para fazer o melhor para si e buscar ser bem sucedido em suas ações, no entanto, ao longo do dia a dia, nos deparamos com pessoas que acreditamos que não combinam com nossos valores, e por não saber lidar com isso, nos desgastamos e desistimos desses relacionamentos nos escondemos por trás da crença que não é possível conviver com pessoas que têm valores diferentes dos nossos, até porque é mais fácil julgar o valor do outro do que ter clareza exata dos próprios.

Quem nunca disse: "Não combino com os valores da liderança", "Não combino com os valores dessas pessoas".

O ponto em questão é que as pessoas têm valores diferentes sim e precisamos aprender a conviver com pessoas que fazem coisas que você não faria para chegar a determinados resultados e isso não quer dizer que você tem que ser como elas, concordar ou ferir os seus valores para entregar resultados esperados mas entender que esse convívio não pode ser uma limitação para o seu desenvolvimento ou crescimento.

É fácil lidar com pessoas que pensam como nós e têm as mesmas afinidades, mas não é possível crescer na vida convivendo somente com pessoas que estão na mesma sintonia.

A motivação central de 90% dos desligamentos voluntários, ou seja, quando a pessoa por vontade própria decide sair da empresa e ir para outra oportunidade, é não conseguir lidar com a liderança que, na maioria das vezes, realmente estão despreparadas. Ou seja, as pessoas demitem seus chefes.

Eu acredito que em muitos casos, principalmente com as mulheres, essa decisão pode ser precipitada pela falta de habilidade de lidar com essas relações de poder e seus respectivos desgastes, e as consequências acaba sendo retardar uma ascensão que poderia ser mais efetiva.

Compartilho algumas reflexões importantes para te ajudar a entender se é a hora de demitir o chefe ou insistir mais um pouco no seu crescimento no mesmo lugar.


# Reflexão 01

Você precisa ferir os seus valores para entregar resultados?

Se a resposta é não, isso é um sinal que ainda existe chance de você crescer onde está.

Isso é diferente de conviver com alguém que não faria o que você faria. Lidar com diversidade é lidar com as diferenças. A maioria dos chefes que mais me desenvolveu tinham valores distintos dos meus e fizeram coisas que eu não faria, mas tive a clareza que para eu entregar o que era esperado pela empresa eu não precisava ferir os meus valores precisava apenas exercer influência de forma mais estratégica no dia a dia, ganhando no processo, fazendo os outros ganhar também de forma ética e íntegra.

A liderança efetiva não tem a ver com cargo, tem a ver com autogestão e com saber a hora de pedir para sair. Para isso, antes da decisão, é necessário trazer-se outro questionamento: o que te faz pensar que sair deste emprego vai te impedir a encontrar outra pessoa igual à essa? Você fez tudo que cabia a você nesse lugar?

Mudar de empresa implica convencer novamente as pessoas da sua competência, ganhar a confiança do chefe novo, correr o risco de não ser um lugar legal. Então, você já tentou tudo que você podia onde está, ou simplesmente prefere começar tudo do zero? Às vezes, falta apenas uma habilidade de exercer influência ou fazer perguntas inteligentes e pode-se pensar em canalizar a essa energia para aprender isso, mudar de área ou até de chefe na mesma empresa ao contrário de começar tudo de novo em outro lugar.

Outro aspecto básico e que não é feito de maneira efetiva é perguntar claramente para a sua liderança qual a expectativa que ela tem sobre você, alinhar de forma clara esse ponto é muito importante. Fazer um acordo de expectativas entre o que é valor para a gestão e para o profissional. Perguntas como : Qual cenário traduziria para você (liderança) que eu terei atendido a sua expectativa como profissional? O que é esperado sobre o meu comportamento e meus entregáveis em determinado período de tempo?. Sem tem essa resposta efetiva fica difícil ter clareza das reais motivações de conflitos nessa relação com a liderança. E o problema pode continuar em outra empresa se essa pergunta continuar não sendo feita.


# Reflexão 02

Como chegar lá?

Primeiramente, onde é o seu lá? Relação com a gestão é relação de poder. Se a pessoa que faz sua gestão vê que você faz ela ganhar, ela vai te querer você por perto. Mas, fazer ela ganhar não é somente resolver os problemas dela sem alinhar expectativas de ambos.

Além de ouvir o que a sua liderança tem a te dizer, é necessário fugir de afirmações genéricas, busque exemplos e fatos.

O meu mantra pessoal replicado para as alunas da Escola ELAS é: se você é o bem, você merece o bem. Não tem problema nenhum querer crescer na vida. Muitas vezes você não pode vincular sua promoção exclusivamente à sua liderança direta, o ambiente também te promove, seus colegas de trabalhos podem te enxergar como referência. Para isso, é necessário ter clareza do seu potencial e do seu trabalho e isso implica em ser uma pessoa mais estratégia. Ou seja, antes de questionar seu chefe, se questione. Você está sendo influente o suficiente no ambiente mostrando o seu valor de maneira estratégica além dos muros da sua mesa para outras pessoas relevantes na empresa? Como as pessoas te conhecem? Além da sua sua liderança direta como as pessoas e outras lideranças conhecem o que você faz e o resultado que você já promoveu?


# Reflexão 03

A vida é um jogo, qual você quer jogar?

Quando mudamos a nossa perspectiva mudamos a nossa forma de agir, por isso te convido a pensar que a vida é um jogo e a nossa carreira também. Pensando sobre essa ótica, quando uma determinada etapa da sua carreira está "emperrada" você pode se lembrar que você é o bem e merece o bem e que se você é merecedora de sucesso, você pode pensar que existe alguma sacadinha para você mudar de fase nesse jogo, e não simplesmente alegar que esse jogo não é para você. Faz sentido?

Enquanto as pessoas procuram culpados para seus problemas, você na perspectiva de jogo pode pensar "Qual a sacada que eu ainda não percebi para mudar de fase, sendo ética e íntegra com os meus valores". Quando olhamos a vida a partir desta pergunta, saímos na frente e descobrirmos várias formas diferentes de avançar na vida sem perder o foco do que é mais importante, sem desfocar dos nossos objetivos. Só saia do jogo depois de ter certeza que ele não é mais conveniente para você.

Afinal, quando é a hora de demitir nosso chefe? Quando as expectativas foram combinadas e você não está progredindo. Você já fez tudo que cabia e somente há desgaste.

O mais desafiador do processo é ter clareza do que se quer e você não precisa estar sozinha, para descobrir essas habilidades, procure bons exemplos para dialogar, mentorias e invista em autoconhecimento para aprender a jogar sendo autêntica e feliz com seu progresso.

 



Amanda Gomes - especialista em análise comportamental e co-fundadora da ELAS, primeira escola de liderança feminina do Brasil.


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