Mas quando é a hora certa?
O que aprendi ao longo de 20 anos
dentro de grandes empresas e exercendo papéis de liderança desde muito nova, é
que nós não aprendemos nos livros de gestão ou cursos tradicionais de liderança
como lidar com as relações de poder e que no fundo esse é o maior conflito
entre as pessoas nos bastidores corporativos.
Todo o ser humano tem uma programação
básica para fazer o melhor para si e buscar ser bem sucedido em suas ações, no
entanto, ao longo do dia a dia, nos deparamos com pessoas que acreditamos que
não combinam com nossos valores, e por não saber lidar com isso, nos
desgastamos e desistimos desses relacionamentos nos escondemos por trás da
crença que não é possível conviver com pessoas que têm valores diferentes dos
nossos, até porque é mais fácil julgar o valor do outro do que ter clareza
exata dos próprios.
Quem nunca disse: "Não combino com
os valores da liderança", "Não combino com os valores dessas
pessoas".
O ponto em questão é que as pessoas têm
valores diferentes sim e precisamos aprender a conviver com pessoas que fazem
coisas que você não faria para chegar a determinados resultados e isso não quer
dizer que você tem que ser como elas, concordar ou ferir os seus valores para
entregar resultados esperados mas entender que esse convívio não pode ser uma
limitação para o seu desenvolvimento ou crescimento.
É fácil lidar com pessoas que pensam
como nós e têm as mesmas afinidades, mas não é possível crescer na vida
convivendo somente com pessoas que estão na mesma sintonia.
A motivação central de 90% dos
desligamentos voluntários, ou seja, quando a pessoa por vontade própria decide
sair da empresa e ir para outra oportunidade, é não conseguir lidar com a
liderança que, na maioria das vezes, realmente estão despreparadas. Ou seja, as
pessoas demitem seus chefes.
Eu acredito que em muitos casos,
principalmente com as mulheres, essa decisão pode ser precipitada pela falta de
habilidade de lidar com essas relações de poder e seus respectivos desgastes, e
as consequências acaba sendo retardar uma ascensão que poderia ser mais
efetiva.
Compartilho algumas reflexões
importantes para te ajudar a entender se é a hora de demitir o chefe ou insistir
mais um pouco no seu crescimento no mesmo lugar.
# Reflexão 01
Você precisa ferir os seus valores para
entregar resultados?
Se a resposta é não, isso é um sinal
que ainda existe chance de você crescer onde está.
Isso é diferente de conviver com alguém
que não faria o que você faria. Lidar com diversidade é lidar com as
diferenças. A maioria dos chefes que mais me desenvolveu tinham valores
distintos dos meus e fizeram coisas que eu não faria, mas tive a clareza que
para eu entregar o que era esperado pela empresa eu não precisava ferir os meus
valores precisava apenas exercer influência de forma mais estratégica no dia a
dia, ganhando no processo, fazendo os outros ganhar também de forma ética e
íntegra.
A liderança efetiva não tem a ver com
cargo, tem a ver com autogestão e com saber a hora de pedir para sair. Para
isso, antes da decisão, é necessário trazer-se outro questionamento: o que te
faz pensar que sair deste emprego vai te impedir a encontrar outra pessoa igual
à essa? Você fez tudo que cabia a você nesse lugar?
Mudar de empresa implica convencer
novamente as pessoas da sua competência, ganhar a confiança do chefe novo,
correr o risco de não ser um lugar legal. Então, você já tentou tudo que você
podia onde está, ou simplesmente prefere começar tudo do zero? Às vezes, falta
apenas uma habilidade de exercer influência ou fazer perguntas inteligentes e
pode-se pensar em canalizar a essa energia para aprender isso, mudar de área ou
até de chefe na mesma empresa ao contrário de começar tudo de novo em outro
lugar.
Outro aspecto básico e que não é feito
de maneira efetiva é perguntar claramente para a sua liderança qual a
expectativa que ela tem sobre você, alinhar de forma clara esse ponto é muito
importante. Fazer um acordo de expectativas entre o que é valor para a gestão e
para o profissional. Perguntas como : Qual cenário traduziria para você
(liderança) que eu terei atendido a sua expectativa como profissional? O que é
esperado sobre o meu comportamento e meus entregáveis em determinado período de
tempo?. Sem tem essa resposta efetiva fica difícil ter clareza das reais
motivações de conflitos nessa relação com a liderança. E o problema pode
continuar em outra empresa se essa pergunta continuar não sendo feita.
# Reflexão 02
Como chegar lá?
Primeiramente, onde é o seu lá? Relação
com a gestão é relação de poder. Se a pessoa que faz sua gestão vê que você faz
ela ganhar, ela vai te querer você por perto. Mas, fazer ela ganhar não é
somente resolver os problemas dela sem alinhar expectativas de ambos.
Além de ouvir o que a sua liderança tem
a te dizer, é necessário fugir de afirmações genéricas, busque exemplos e
fatos.
O meu mantra pessoal replicado para as
alunas da Escola ELAS é: se você é o bem, você merece o bem. Não tem problema
nenhum querer crescer na vida. Muitas vezes você não pode vincular sua promoção
exclusivamente à sua liderança direta, o ambiente também te promove, seus
colegas de trabalhos podem te enxergar como referência. Para isso, é necessário
ter clareza do seu potencial e do seu trabalho e isso implica em ser uma pessoa
mais estratégia. Ou seja, antes de questionar seu chefe, se questione. Você
está sendo influente o suficiente no ambiente mostrando o seu valor de maneira
estratégica além dos muros da sua mesa para outras pessoas relevantes na
empresa? Como as pessoas te conhecem? Além da sua sua liderança direta como as
pessoas e outras lideranças conhecem o que você faz e o resultado que você já
promoveu?
# Reflexão 03
A vida é um jogo, qual você quer jogar?
Quando mudamos a nossa perspectiva
mudamos a nossa forma de agir, por isso te convido a pensar que a vida é um
jogo e a nossa carreira também. Pensando sobre essa ótica, quando uma
determinada etapa da sua carreira está "emperrada" você pode se
lembrar que você é o bem e merece o bem e que se você é merecedora de sucesso,
você pode pensar que existe alguma sacadinha para você mudar de fase nesse
jogo, e não simplesmente alegar que esse jogo não é para você. Faz sentido?
Enquanto as pessoas procuram culpados
para seus problemas, você na perspectiva de jogo pode pensar "Qual a
sacada que eu ainda não percebi para mudar de fase, sendo ética e íntegra com
os meus valores". Quando olhamos a vida a partir desta pergunta, saímos na
frente e descobrirmos várias formas diferentes de avançar na vida sem perder o
foco do que é mais importante, sem desfocar dos nossos objetivos. Só saia do
jogo depois de ter certeza que ele não é mais conveniente para você.
Afinal, quando é a hora de demitir
nosso chefe? Quando as expectativas foram combinadas e você não está
progredindo. Você já fez tudo que cabia e somente há desgaste.
O mais desafiador do processo é ter
clareza do que se quer e você não precisa estar sozinha, para descobrir essas
habilidades, procure bons exemplos para dialogar, mentorias e invista em
autoconhecimento para aprender a jogar sendo autêntica e feliz com seu
progresso.
Amanda Gomes - especialista em análise
comportamental e co-fundadora da ELAS, primeira escola de liderança feminina do
Brasil.
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