Nem mesmo as barreiras colocadas pela Reforma da Previdência foram capazes de provocar mudança na forma do brasileiro se relacionar com o dinheiro. Segundo o Relatório Global do Sistema Previdenciário 2020, da seguradora Allianz, cerca de 90% das pessoas com mais de 25 anos não poupam dinheiro pensando na aposentadoria.
O que historicamente é tido como um hábito ruim
pode resultar, com as mudanças na previdência, em grandes prejuízos futuros. “Essa falta
de planejamento financeiro leva os idosos a terem que trabalhar por muito mais
tempo para complementarem a renda após a aposentadoria, já que os benefícios
pagos pela Previdência Social não são capazes de suprir todas as necessidades e
manter o padrão de vida de muita gente”, explica o gestor
de riscos financeiros Yuri Utida.
Utida conta que a Reforma, somada ao aumento da
expectativa de vida do brasileiro, derrubará a renda de muitas famílias,
levando boa parte dos idosos a buscarem uma complementação de renda. “O problema
na mentalidade do brasileiro, que historicamente não costuma investir ou
guardar dinheiro, é não planejar o futuro. Vemos que muita gente conta com a
sorte para não sofrer um revés financeiro e que ainda se apoia na ideia errônea
de que a Previdência Social pode garantir um futuro digno para todos. Há também
aqueles que vivem da ilusão de enriquecer do dia para a noite com loterias. E
quando isso não acontece, as consequências podem ser desastrosas”,
acrescenta o gestor.
Yuri espera que a crise causada pela pandemia mude
a relação do brasileiro com o dinheiro Divulgação |
Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional
de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil),
em parceria com o Banco Central do Brasil (BCB), comprova a análise do gestor
de riscos e revela que a ideia de descanso após décadas de trabalho está saindo
do horizonte dos brasileiros. Segundo o levantamento, pelo menos 21% da
população idosa continua ativa no mercado de trabalho, mesmo depois de
aposentada. “Este número já é alto e deve crescer ainda mais
com a pandemia de coronavírus, que retirou parte ou toda a renda de muitos
trabalhadores, fazendo com que muitas famílias fiquem ainda mais dependentes
dos benefícios recebidos pelos idosos”, alerta Utida.
A pandemia evidenciou para muita gente a
necessidade de fazer um planejamento que permita manter o padrão de vida em
momentos de crise. “Sem poder trabalhar, muitos profissionais liberais
sentiram na pele a importância de guardar dinheiro. A incerteza que a pandemia
despertou nas pessoas levou ao aumento da procura por seguros de vida”,
afirma.
A esperança do gestor é que este mal alavanque uma
mudança na forma do brasileiro se relacionar com o dinheiro. “Podemos
estar diante de uma mudança que fará com que as pessoas se preocupem com o
futuro e planejem uma aposentadoria tranquila, afinal, viver cinco meses sem
uma renda que lhe garanta o sustento é uma pequena amostra de como pode ser a
velhice sem uma segurança financeira”, pontua Utida.
Na avaliação do especialista, há uma ideia
equivocada que fazer o planejamento financeiro é algo apenas para os ricos. “Todo mundo
pode se planejar para ter um futuro digno. O quantos antes começamos a investir
na construção de um patrimônio, mais segurança e dignidade conseguimos oferecer
a nós mesmos e às nossas famílias, mesmo após parar de trabalhar”,
afirma.
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