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terça-feira, 1 de setembro de 2020

No Brasil, falta de planejamento financeiro inviabiliza aposentadoria digna

Nem mesmo as barreiras colocadas pela Reforma da Previdência foram capazes de provocar mudança na forma do brasileiro se relacionar com o dinheiro. Segundo o Relatório Global do Sistema Previdenciário 2020, da seguradora Allianz, cerca de 90% das pessoas com mais de 25 anos não poupam dinheiro pensando na aposentadoria.

O que historicamente é tido como um hábito ruim pode resultar, com as mudanças na previdência, em grandes prejuízos futuros. “Essa falta de planejamento financeiro leva os idosos a terem que trabalhar por muito mais tempo para complementarem a renda após a aposentadoria, já que os benefícios pagos pela Previdência Social não são capazes de suprir todas as necessidades e manter o padrão de vida de muita gente”, explica o gestor de riscos financeiros Yuri Utida.

Utida conta que a Reforma, somada ao aumento da expectativa de vida do brasileiro, derrubará a renda de muitas famílias, levando boa parte dos idosos a buscarem uma complementação de renda. “O problema na mentalidade do brasileiro, que historicamente não costuma investir ou guardar dinheiro, é não planejar o futuro. Vemos que muita gente conta com a sorte para não sofrer um revés financeiro e que ainda se apoia na ideia errônea de que a Previdência Social pode garantir um futuro digno para todos. Há também aqueles que vivem da ilusão de enriquecer do dia para a noite com loterias. E quando isso não acontece, as consequências podem ser desastrosas”, acrescenta o gestor.

Yuri espera que a crise causada pela pandemia mude
a relação do brasileiro com o dinheiro
Divulgação

Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com o Banco Central do Brasil (BCB), comprova a análise do gestor de riscos e revela que a ideia de descanso após décadas de trabalho está saindo do horizonte dos brasileiros. Segundo o levantamento, pelo menos 21% da população idosa continua ativa no mercado de trabalho, mesmo depois de aposentada. “Este número já é alto e deve crescer ainda mais com a pandemia de coronavírus, que retirou parte ou toda a renda de muitos trabalhadores, fazendo com que muitas famílias fiquem ainda mais dependentes dos benefícios recebidos pelos idosos”, alerta Utida.

A pandemia evidenciou para muita gente a necessidade de fazer um planejamento que permita manter o padrão de vida em momentos de crise. “Sem poder trabalhar, muitos profissionais liberais sentiram na pele a importância de guardar dinheiro. A incerteza que a pandemia despertou nas pessoas levou ao aumento da procura por seguros de vida”, afirma.

A esperança do gestor é que este mal alavanque uma mudança na forma do brasileiro se relacionar com o dinheiro. “Podemos estar diante de uma mudança que fará com que as pessoas se preocupem com o futuro e planejem uma aposentadoria tranquila, afinal, viver cinco meses sem uma renda que lhe garanta o sustento é uma pequena amostra de como pode ser a velhice sem uma segurança financeira”, pontua Utida.

Na avaliação do especialista, há uma ideia equivocada que fazer o planejamento financeiro é algo apenas para os ricos. “Todo mundo pode se planejar para ter um futuro digno. O quantos antes começamos a investir na construção de um patrimônio, mais segurança e dignidade conseguimos oferecer a nós mesmos e às nossas famílias, mesmo após parar de trabalhar”, afirma.


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