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Na quarentena, o aleitamento materno em livre demanda devido à licença-maternidade estendida, além de trazer benefícios imediatos para mãe e bebê, possibilitará novas perspectivas na formação de adultos mais resilientes, com melhora da capacidade intelectual e saúde mental equilibrada
A despeito das
consequências trazidas pelo novo coronavírus, especialistas do Hospital do
Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE) acreditam que com a
amamentação e a licença-maternidade estendida, o futuro dos bebês nascidos
durante a quarentena serão decisivos para o bom desenvolvimento cognitivo da
criança. Entre os meses de março e meados de agosto, cerca de 400 crianças
nasceram no HSPE.
Os primeiros 100
dias de vida, conhecidos como primeiríssima infância determinam a autoestima,
as habilidades sociais, entre outras capacidades que o ser humano desenvolve ao
longo da vida.
De acordo com
Luciana Gutierres, psicóloga do HSPE, com a nova rotina, considerando a
proximidade, o afeto e o cuidado, quanto mais favorável e acolhedor o ambiente
da criança for, mais chances ela terá de se tornar um adulto mais equilibrado e
produtivo. "O isolamento social, imposto pela pandemia da Covid-19, trouxe
desafios e mudou a rotina da sociedade, mas também possibilitou que mães e pais
tivessem mais tempo para cuidar dos filhos recém-nascidos", reforça.
A primeira infância
de uma criança vai de zero até os seis anos de idade e é neste período em que
ocorre o desenvolvimento do cérebro com a maioria das ligações entre os
neurônios. Por essa ótica, percebe-se que, ao mesmo tempo em que mães e pais
tiveram que se adaptar à quarentena, também foi possível construir laços mais
fortes por meio da amamentação. "O ato de amamentar possibilita que a mãe
aumente o vínculo com o seu filho, com os sons de sua fala, de seu canto, de
seu cheiro e toque", explica Luciana.
Para a Dra. Kátia
Antunes, médica neonatologista e diretora técnica do HSPE, a permanência da
mulher em casa para além dos quatro meses potencializou o aleitamento materno
em livre demanda. "Mesmo que esteja em home office, não é mais
necessário armazenar o leite materno para ser oferecido ao bebê por outra
pessoa. Isso também evita o risco de contaminação pela manipulação do leite
ordenhado", destaca.
O aleitamento na
primeira infância é extremamente importante, pois os primeiros meses de vida
são caracterizados por um crescimento acelerado com amplo desenvolvimento do
organismo. O leite materno é a principal e mais completa fonte de alimento para
o bebê e os benefícios para a saúde da criança são inúmeros, destaca o Dr.
Walter Nelson Cardo Jr., médico do Serviço de Neonatologia do HSPE. "A
amamentação é essencial para a saúde do recém-nascido, principalmente nos
primeiros seis meses de vida e complementado até os dois anos, pois por meio do
leite o bebê recebe nutrientes e os anticorpos da mãe que o protegem contra
doenças respiratórias, diarreia, infecções e alergias", destaca.
A amamentação também
é benéfica para a formação da microbiota - grupo de micro-organismos que também
vive no intestino. O leite materno age de maneira positiva tanto no funcionamento
intestinal e favorece melhora no metabolismo, na imunidade e no sistema nervoso
da criança. Dentre os muitos nutrientes, o leite materno é composto por
oligossacarídeos, açúcares que nutrem as bifidobactérias e os lactobacilos,
predominantes nas microbiotas benéficas. Um estudo realizado em 2018 por
pesquisadores da Universidade de Helsinki (Finlândia) com mais de 200 crianças,
indicou que crianças amamentadas por pouco tempo apresentavam baixos níveis de
bifidobactérias na microbiota. Esse desequilíbrio pode agravar o
desenvolvimento de doenças sistêmicas e infecções causadas por bactérias
resistentes a antibióticos, podendo levar até a morte.
Muitas dúvidas
surgiram desde o início da pandemia da Covid-19 como se é seguro amamentar
apresentando sintomas de doença respiratória ou com diagnóstico positivo da
Covid-19.
De acordo com Dr.
Walter, que também é supervisor do Banco de Leite Humano do HSPE, as mães que
estiverem em condições clínicas adequadas podem amamentar desde que usem
máscara e façam higienização constante das mãos. O neonatologista ressalta que
em caso de dúvidas a mãe deve procurar especialistas habilitados em
amamentação.
A legislação e a
importância do pai na amamentação
A
licença-paternidade prevista em lei é de cinco dias, em alguns casos pode ser
estendida por até 20 dias, quando a empresa estiver cadastrada no programa
Empresa Cidadã. Assim como as mulheres, os homens também estão cumprindo a
quarentena e passaram a trabalhar em casa. Logo o papel do pai e a sua
participação ativa na dinâmica familiar também foram ampliadas.
Quando o pai divide
as tarefas com o bebê como trocar a fralda e dar colo quando estiver chorando,
a criança não associa este momento ao aleitamento e, assim, faz um intervalo
mais adequado entre as mamadas.
Segundo Luciana, o
pai tem papel fundamental na primeira infância, proporcionando as melhores
condições para o momento do ato de amamentar, dividindo tarefas domésticas,
participando dos cuidados com o bebê, pois seu lugar na dinâmica familiar é tão
importante quanto o da mãe, não como auxílio, mas como lugar de quem tem papel
ativo nesta dinâmica. "O fato de o pai poder estar junto à família em
licença-paternidade estendida pode trazer benefícios e melhorar a qualidade nas
relações da dinâmica familiar. O pai deve ser um modelo de referências
diferente da mãe para a criança, contribuindo para um desenvolvimento mais rico
de possibilidades. É muito importante que a mãe permita a participação do
marido nos cuidados com o bebê", destaca a psicóloga.
Benefícios da
amamentação para a mãe
De acordo com Flávia
Nakamoto, enfermeira especializada do Setor de Obstetrícia do HSPE, a
amamentação acelera a recuperação da mulher no pós-parto por ação da ocitocina,
hormônio responsável pela contração uterina. Com isso, o risco de hemorragia
diminui, acelera a perda de peso pela produção de calorias e em longo prazo
promove redução na incidência de câncer de mama, ovários e endométrio, além de
doenças cardiovasculares.
"Durante a
amamentação é comum a mulher sentir cólicas, pois a sucção do bebê estimula a
liberação de ocitocina, hormônio responsável pela contração uterina e ejeção do
leite, fazendo o útero voltar ao tamanho normal. A mãe poderá sentir
desconforto mais intenso durante os primeiros dias, mas a tendência é ir
amenizando espontaneamente", explica Flávia.
Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo
(Iamspe)
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