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terça-feira, 8 de setembro de 2020

Amamentação estendida na quarentena trará impactos positivos na primeira infância, afirmam especialistas do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE)

Foto: Freepik

 Na quarentena, o aleitamento materno em livre demanda devido à licença-maternidade estendida, além de trazer benefícios imediatos para mãe e bebê, possibilitará novas perspectivas na formação de adultos mais resilientes, com melhora da capacidade intelectual e saúde mental equilibrada

 

 

A despeito das consequências trazidas pelo novo coronavírus, especialistas do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE) acreditam que com a amamentação e a licença-maternidade estendida, o futuro dos bebês nascidos durante a quarentena serão decisivos para o bom desenvolvimento cognitivo da criança. Entre os meses de março e meados de agosto, cerca de 400 crianças nasceram no HSPE.

Os primeiros 100 dias de vida, conhecidos como primeiríssima infância determinam a autoestima, as habilidades sociais, entre outras capacidades que o ser humano desenvolve ao longo da vida.

De acordo com Luciana Gutierres, psicóloga do HSPE, com a nova rotina, considerando a proximidade, o afeto e o cuidado, quanto mais favorável e acolhedor o ambiente da criança for, mais chances ela terá de se tornar um adulto mais equilibrado e produtivo. "O isolamento social, imposto pela pandemia da Covid-19, trouxe desafios e mudou a rotina da sociedade, mas também possibilitou que mães e pais tivessem mais tempo para cuidar dos filhos recém-nascidos", reforça.

A primeira infância de uma criança vai de zero até os seis anos de idade e é neste período em que ocorre o desenvolvimento do cérebro com a maioria das ligações entre os neurônios. Por essa ótica, percebe-se que, ao mesmo tempo em que mães e pais tiveram que se adaptar à quarentena, também foi possível construir laços mais fortes por meio da amamentação. "O ato de amamentar possibilita que a mãe aumente o vínculo com o seu filho, com os sons de sua fala, de seu canto, de seu cheiro e toque", explica Luciana.

Para a Dra. Kátia Antunes, médica neonatologista e diretora técnica do HSPE, a permanência da mulher em casa para além dos quatro meses potencializou o aleitamento materno em livre demanda. "Mesmo que esteja em home office, não é mais necessário armazenar o leite materno para ser oferecido ao bebê por outra pessoa. Isso também evita o risco de contaminação pela manipulação do leite ordenhado", destaca.

O aleitamento na primeira infância é extremamente importante, pois os primeiros meses de vida são caracterizados por um crescimento acelerado com amplo desenvolvimento do organismo. O leite materno é a principal e mais completa fonte de alimento para o bebê e os benefícios para a saúde da criança são inúmeros, destaca o Dr. Walter Nelson Cardo Jr., médico do Serviço de Neonatologia do HSPE. "A amamentação é essencial para a saúde do recém-nascido, principalmente nos primeiros seis meses de vida e complementado até os dois anos, pois por meio do leite o bebê recebe nutrientes e os anticorpos da mãe que o protegem contra doenças respiratórias, diarreia, infecções e alergias", destaca.

A amamentação também é benéfica para a formação da microbiota - grupo de micro-organismos que também vive no intestino. O leite materno age de maneira positiva tanto no funcionamento intestinal e favorece melhora no metabolismo, na imunidade e no sistema nervoso da criança. Dentre os muitos nutrientes, o leite materno é composto por oligossacarídeos, açúcares que nutrem as bifidobactérias e os lactobacilos, predominantes nas microbiotas benéficas. Um estudo realizado em 2018 por pesquisadores da Universidade de Helsinki (Finlândia) com mais de 200 crianças, indicou que crianças amamentadas por pouco tempo apresentavam baixos níveis de bifidobactérias na microbiota. Esse desequilíbrio pode agravar o desenvolvimento de doenças sistêmicas e infecções causadas por bactérias resistentes a antibióticos, podendo levar até a morte.

Muitas dúvidas surgiram desde o início da pandemia da Covid-19 como se é seguro amamentar apresentando sintomas de doença respiratória ou com diagnóstico positivo da Covid-19.

De acordo com Dr. Walter, que também é supervisor do Banco de Leite Humano do HSPE, as mães que estiverem em condições clínicas adequadas podem amamentar desde que usem máscara e façam higienização constante das mãos. O neonatologista ressalta que em caso de dúvidas a mãe deve procurar especialistas habilitados em amamentação. 



A legislação e a importância do pai na amamentação

A licença-paternidade prevista em lei é de cinco dias, em alguns casos pode ser estendida por até 20 dias, quando a empresa estiver cadastrada no programa Empresa Cidadã. Assim como as mulheres, os homens também estão cumprindo a quarentena e passaram a trabalhar em casa. Logo o papel do pai e a sua participação ativa na dinâmica familiar também foram ampliadas.

Quando o pai divide as tarefas com o bebê como trocar a fralda e dar colo quando estiver chorando, a criança não associa este momento ao aleitamento e, assim, faz um intervalo mais adequado entre as mamadas.

Segundo Luciana, o pai tem papel fundamental na primeira infância, proporcionando as melhores condições para o momento do ato de amamentar, dividindo tarefas domésticas, participando dos cuidados com o bebê, pois seu lugar na dinâmica familiar é tão importante quanto o da mãe, não como auxílio, mas como lugar de quem tem papel ativo nesta dinâmica. "O fato de o pai poder estar junto à família em licença-paternidade estendida pode trazer benefícios e melhorar a qualidade nas relações da dinâmica familiar. O pai deve ser um modelo de referências diferente da mãe para a criança, contribuindo para um desenvolvimento mais rico de possibilidades. É muito importante que a mãe permita a participação do marido nos cuidados com o bebê", destaca a psicóloga. 



Benefícios da amamentação para a mãe

De acordo com Flávia Nakamoto, enfermeira especializada do Setor de Obstetrícia do HSPE, a amamentação acelera a recuperação da mulher no pós-parto por ação da ocitocina, hormônio responsável pela contração uterina. Com isso, o risco de hemorragia diminui, acelera a perda de peso pela produção de calorias e em longo prazo promove redução na incidência de câncer de mama, ovários e endométrio, além de doenças cardiovasculares.

"Durante a amamentação é comum a mulher sentir cólicas, pois a sucção do bebê estimula a liberação de ocitocina, hormônio responsável pela contração uterina e ejeção do leite, fazendo o útero voltar ao tamanho normal. A mãe poderá sentir desconforto mais intenso durante os primeiros dias, mas a tendência é ir amenizando espontaneamente", explica Flávia.




Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo (Iamspe)

  

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