Profissionais
desempenham funções estratégicas na área epidemiológica e têm importante missão
no âmbito preventivo contra a Covid-19
Neste 17 de junho celebramos o Dia da Medicina
Veterinária Militar. A área está ligada não apenas à história da profissão no
Brasil, mas, também, à sua essência fincada na Saúde Única, termo que
representa a lida com a saúde humana, animal e ambiental de forma integrada. Se
esta tríade, neste delicado momento de enfrentamento a uma pandemia, já se
mostra latente na rotina do médico-veterinário de forma geral, um olhar focado
na atuação do profissional em âmbito militar permite visualizar, ainda mais
claramente, quão estratégico ele é para a prática do conceito de Saúde Única.
No Exército Brasileiro (EB), diante da necessidade
iminente de prevenção à Covid-19, houve intensificação do trabalho de ações
integradas que já faz parte das práticas de médicos-veterinários em diferentes
contextos (rotineiros ou de missões especiais).
O Capitão Felipe Borges Soares, chefe da Seção de
Cães de Guerra do 2° Batalhão de Polícia do EB, em São Paulo, é um dos oficiais
médicos-veterinários que atuam nas ações de combate à Covid-19. Para ele, a
capacitação em epidemiologia que a formação em Medicina Veterinária oferece aos
profissionais permite que eles contribuam como assessores técnicos em aspectos
relativos à interpretação epidemiológica dos dados da doença, por exemplo.
Este tipo de trabalho é crucial para que as tomadas
de decisão sejam mais assertivas no sentido de evitar o contágio pelo novo
coronavírus (Sars-CoV-2), que provoca a Covid-19. A tarefa com o assessoramento
mencionado por Soares, portanto, tem papel balizador para as ações necessárias.
Profissionais são chave para a prevenção
Além das funções de inteligência, os
médicos-veterinários de carreira militar têm atuações bastante práticas.
Exemplo disso são a delimitação e a implementação de protocolos sanitários, com
base nos dados epidemiológicos.
“Temos atuado na orientação ao público interno
sobre todas as medidas individuais de higiene, procedimento fundamental para
dificultar contaminação de militares, e na instrução daqueles que atuarão em
operações de desinfecção”, conta o oficial, referindo-se a diretrizes como a
paramentação e desparamentação da forma correta, tipos de desinfetantes que
devem ser utilizados, bem como a diluição adequada dos produtos, além da forma
de aplicação e tempo de ação das substâncias para a eliminação do Sars-CoV-2.
Serviço à sociedade
Soares enfatiza que, especialmente em meio a uma
pandemia com consequências tão drásticas, todas as ações que contam com a
aplicação de saberes inerentes ao médico-veterinário visam à promoção da saúde
do efetivo e da população, bem como a garantia de prontidão das tropas em prol
da sociedade. Sob esta perspectiva, trata-se de uma contribuição da profissão
que ultrapassa os aspectos sanitários, refletindo-se de forma direta no âmbito
social.
“Como oficial, o profissional pode auxiliar a
sociedade em qualquer situação de calamidade ou em ações humanitárias como a
Operação Acolhida”, enfatiza a Tenente-Coronel Orlange Sodré Rocha, chefe da
carteira de Cães de Guerra na Seção de Gestão Logística de Remonta e
Veterinária da Diretoria de Abastecimento do Exército, em Brasília,
referindo-se ao acolhimento a refugiados venezuelanos, realizado pela
Força-Tarefa Logística Humanitária para o estado de Roraima, da qual o Capitão
Soares participou.
O médico-veterinário, que escolheu a profissão por
amor aos animais, interessou-se pela carreira militar logo após concluir a
graduação, há dez anos, o que ele atribui ao fato de ter descoberto no Exército
mais uma oportunidade para se exercer a Medicina Veterinária em sua plenitude.
À época, o recém-formado talvez ainda não tivesse a real dimensão dos reflexos
deste exercício. Hoje, porém, vivencia a experiência de ser parte do time de
profissionais que colocam em prática, fardados, as mais variadas expertises da
Medicina Veterinária.
Atualmente é um dos responsáveis por manter a
sanidade do plantel de cães. Mas a atuação em uma década como
médico-veterinário militar foi diversificada. “Desempenhei atribuições como
oficial de meio ambiente, sendo responsável por propor e implementar medidas de
conservação e sustentabilidade nas organizações militares; auditor em segurança
alimentar, fiscalizando a cozinha de batalhões para que as estruturas e os
processos estivessem adequados às recomendações de higiene alimentar; e oficial
de controle da qualidade da água, de gestão de efluentes, de gestão de resíduos
sólidos e de controle de zoonoses, pragas, vetores e animais sinantrópicos”,
conta o capitão, que ainda ressalta que tais conhecimentos foram-lhe exigidos
ainda mais quando atuou na Operação Acolhida.
“Outra importante atuação dos médicos-veterinários
do Exército Brasileiro foi a participação na Missão das Nações Unidas para a
Estabilização do Haiti (Minustah), em que desempenharam fundamental papel na
vigilância epidemiológica e no controle ambiental”, menciona Orlange, sobre o
trabalho realizado pelo contingente brasileiro no Haiti, ao longo de 13 anos,
apoiando a estabilização de um país cujo povo possui cultura e características
muito particulares e, em alguns aspectos, semelhantes às do brasileiro que vive
em comunidades periféricas.
Multidisciplinares
A experiência de Orlange como oficial do EB é
também uma pequena amostra da ampla contribuição do médico-veterinário e do
quanto ele é um agente promotor de saúde também por meio do trabalho
desempenhado em instituições militares.
Ela cresceu em meio aos animais da fazenda do avô e
decidiu que se tornaria médica-veterinária por sugestão dele, certo da aptidão
da neta. Já o ingresso no EB, em 1996, tem a ver com admiração dos pais dela
pela corporação. Ao longo desses 24 anos no Exército, atuou em inspeção de
alimentos e em clínica de equinos, chefiou um serpentário e foi instrutora de
Medicina Veterinária no Curso de Formação de Oficiais, até chegar ao posto
atual, sendo responsável pelo assessoramento em todos os assuntos relativos a
Cães de Guerra, desde a aquisição, reprodução e treinamento de animais, até a
garantia de suprimentos, como medicamentos e alimentação, e instalações adequadas
em canis.
O preparo para a atuação multissetorial do
médico-veterinário militar mencionada por Orlange e por Soares é apontado como
fundamental para a prevenção e controle das principais endemias emergentes e
reemergentes pelo conselheiro do Conselho Regional de Medicina Veterinária do
Estado de São Paulo (CRMV-SP), Martin Jacques Cavaliero, que tem entre suas
experiências profissionais a passagem pelo EB, em 1988, como oficial
temporário.
O médico-veterinário lembra que, de acordo com o
que preconiza o Ministério da Defesa (MD), dentre as tarefas de abrangência da
medicina preventiva está o apoio dos profissionais de Medicina Veterinária. “O
Manual de Logística de 2014 do EB, que trata sobre a conduta operacional, traz
a Medicina Veterinária como campo estratégico para a Saúde. Nota-se um
reconhecimento cada vez maior da importância desta contribuição.”
No que tange à diversidade das frentes de trabalho
do médico-veterinário militar para a promoção da Saúde Única, Cavaliero cita o
conjunto de ações que visam a proteção contra agentes químicos, biológicos,
radiológicos e nucleares que produzem efeitos nocivos à saúde, a chamada Defesa
Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (DQBRN), enfatizando tópicos como a
biossegurança, pesquisa e inovação.
Estes papéis-chave são mencionados pelo próprio
“Manual de Campanha de DQBRN” do Exército, argumenta Cavaliero. “Neste material
consta que o médico-veterinário militar está plenamente capacitado a atuar,
juntamente com um grupo multifuncional de saúde, em áreas de inteligência,
estimativas e vigilância de saúde; análise laboratorial; coleta de amostras;
triagem e descontaminação; planos de evacuação; entre outras.”
Na opinião do Capitão Soares, apesar de a
contribuição da Medicina Veterinária Militar ser mais conhecida pela atuação em
clínica médica e cirúrgica de equinos e caninos, cada vez mais o EB conta com
médicos-veterinários trabalhando em outras frentes. “Temos a oportunidade de
aproveitar ao máximo nossa formação generalista, de forma e contribuir com o melhor
que ela nos permite.”
Sobre o CRMV-SP
O CRMV-SP tem como missão promover a Medicina
Veterinária e a Zootecnia, por meio da orientação, normatização e fiscalização
do exercício profissional em prol da saúde pública, animal e ambiental, zelando
pela ética. É o órgão de fiscalização do exercício profissional dos
médicos-veterinários e zootecnistas do estado de São Paulo, com mais de 39 mil
profissionais ativos. Além disso, assessora os governos da União, estados e
municípios nos assuntos relacionados com as profissões por ele representadas.
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