Já
são 90 dias de trabalho em casa, dias que modificaram as relações de trabalho
mais profundamente do que nos últimos 10 anos. Tudo precisou acontecer muito
rápido, diríamos que, de um dia para o outro. Aquele modelo tão desejado por
muitos, que reduziria a obrigatoriedade de idas e vindas ao escritório, que
diminuiria as horas dentro das organizações e proporcionaria o privilégio de trabalhar
de casa, dispondo de tempo com a família, melhorando a qualidade de vida e
conforto, agora é uma realidade em meio à pandemia e ao distanciamento social.
Essa
crise agiu como aceleradora de todo um processo que exigia tempo e
planejamento, e em poucos dias ou semanas, foi necessário estabelecer e
concretizar o trabalho nesse novo formato. No home office, os resultados do
trabalho devem continuar aparecendo e da mesma forma crescendo para que a
gestão tenha controle e confiança nas equipes.
Por
muitas vezes em local improvisado, na mesa da sala de jantar, no sofá ou em
móveis próximos ao cabeamento de internet, trabalhadores de todas as
localidades do Brasil precisaram adaptar sua rotina com funções à frente de
computadores ou notebooks, a fim de produzir da mesma maneira que em seus
antigos postos de trabalho dentro das organizações.
No
entanto, não são poucas as vezes em que as horas de permanência neste
mobiliário improvisado têm trazido inúmeras consequências às articulações e
musculatura envolvidas na atividade laboral tendo relação às posturas adotadas,
resultantes desses novos locais e mobiliários utilizados.
A
Fisioterapia concentra em uma das suas habilitações profissionais reconhecidas pelo
Conselho Federal, técnicas e medidas que conseguem prevenir e amenizar
possíveis lesões referentes ao trabalho e ainda, promover benefícios tanto para
os trabalhadores como para as organizações, reduzindo desconforto ou queixas
musculoesqueléticas e melhorando o rendimento e produtividade desses
trabalhadores.
Sempre
que o trabalho tenha que ser executado na posição sentada, o posto de trabalho
deve ser planejado ou adaptado para essa posição (NR17), nesse sentido, a
altura do assento deve ser proporcional à altura da bancada que apoiará o
computador ou notebook de forma a acomodar os punhos e mãos sem elevação ou
tensionamento em ombros. Posturas que oferecem tensão às regiões corporais
limitam a oxigenação das células musculares e favorecem o acúmulo de
metabólitos que culminam com a fadiga e propensão a lesões de estruturas, como
ligamentos e tendões.
A
coluna cervical é uma das regiões mais afetadas, pois é fortemente exigida pela
grande mobilidade que possui e por conseguir, mesmo que erroneamente, se
adaptar à linha visual para execução de tarefas. Porém, não é a coluna cervical
que deve ser a protagonista da adaptação e sim o mobiliário, a tela do
computador deve ser erguida na linha dos olhos. Alterações da visão também
podem requerer a anteriorização do pescoço e, portanto, é importante verificar
se a visão está suficiente e procurar atendimento oftalmológico, se for o caso.
Proteger a visão de reflexos é um outro item importante que deve ser cuidado.
Outras
considerações para melhorar a postura e os movimentos, levando em consideração
as alavancas funcionais e biomecânica do corpo humano, assim prevenindo várias
lesões laborais são:
-
Ajustar os itens de trabalho ao alcance das mãos, para que não haja rotações,
alongamentos e inclinações desnecessárias durante as atividades;
-
Utilização de suportes para os pés evitando assim que a angulação do joelho
seja inferior a 90 graus;
-
Utilização de suportes para o teclado e mouse para auxílio ergonômico;
Para
finalizar, é importante lembrar das pausas durante as atividades, pois o tempo
de permanência em determinadas posições estáticas sobrecarregam pescoço,
ombros, dorso, membros superiores e inferiores. As pausas de 10 minutos para
cada 50 minutos de trabalho são essenciais para alongamento e descanso, proporcionando
assim a melhora da circulação nos tecidos, o retorno venoso e a flexibilidade
necessária para o bom funcionamento do sistema musculoesquelético e do
organismo como um todo.
Fernanda
M. Cercal Eduardo - fisioterapeuta, mestre em Tecnologia em Saúde e
coordenadora do curso de Bacharelado em Fisioterapia do Centro Universitário
Internacional Uninter.
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