Em plena quarentena, especialista em psicologia da mentira dá dicas preciosas de como analisar o comportamento de alguém que mente, inclusive em home office.
Em tempos de
pandemia, o uso constante de máscaras esconde algumas expressões, especialmente
os diversos movimentos da boca, como os sorrisos, e os seus inúmeros
significados possíveis. Mesmo assim, é possível perceber indícios de meias
verdades ou mentiras completas em muitos gestos e sinais, até mesmo em
atividades à distância e online, como o home office.
Segundo o pesquisador
e especialista em psicologia da mentira, Georg Frey, “mesmo
com limitação da leitura dos micro sinais faciais por conta do uso de máscaras
ou por estar a distância, é possível perceber indícios de que a pessoa está
tentando fazer com que algo não verdadeiro, uma mentira, seja assimilado como
sendo uma verdade. Para isto, é fundamental analisar um conjunto de gestos e
comportamentos”.
Entre as diversas
possibilidades de comportamentos, gestos e ações corporais a serem observados,
Georg Frey destaca:
Pessoalmente ou em vídeo chamadas
Olhos
- Observe se a pessoa está piscando muito. Piscar rapidamente e com frequência
maior que o normal é forte indício de que a fisiologia dessa pessoa está
alterada. Piscamos mais quando mentimos porque não conseguimos controlar o
nosso sistema nervoso autônomo (SNA). Quando nos sentimos em perigo, com risco
de sermos pegos e sofrermos algum tipo de punição ou vergonha, nossa adrenalina
dispara, aumentando a freqüência cardíaca, dilatando as nossas pupilas. O piscar
mais faz parte desse conjunto de reações, inclusive como tentativa natural do
corpo em manter os olhos abertos por mais tempo, caso uma fuga imediata seja
necessária.
Mãos
– Perceba os gestos feitos com as mãos. Como o corpo fala o tempo todo, os movimentos
das mãos podem revelar esforços adicionais para que uma afirmação seja aceita.
Um indicativo de esforço extra para que acreditem em nossas mentiras são o
esfregar de mãos, o estalar e/ou apertar de dedos, um reflexo de uma força a
mais que se faz para conter a ansiedade causada pelo ato de mentir.
Voz
- Atenção se a pessoa gagueja em algum momento. Tropeçar em alguma sílaba ou
ter dificuldade na pronúncia contínua e natural de uma palavra ou frase
frequentemente pode ser associado a um comportamento ansioso. Ansiedade
resultado de um cérebro que está trabalhando, freneticamente, na elaboração de
histórias que convençam e garantam algum reconhecimento, privilégio, impunidade
ou qualquer outro tipo de vantagem.
Pés
- A posição dos pés, se eles apontam, mesmo que involuntariamente, para um
desejo ou intenção de fuga. De forma absolutamente natural, o corpo programa
posturas de fuga, como que para escapar de uma situação inconveniente por causa
de uma mentira descoberta.
“É bom lembrar que mentir é algo absolutamente comum a qualquer tipo
de pessoa. Independe do nível social, econômico, identidade sexual, idade,
geografia ou religião. A única diferença já constatada é a de que homens mentem
mais e as mulheres mentem melhor”, afirma Georg Frey. A mentira, também, varia
em seus graus de perigo e intensidade. O psicopata é o detentor das mais
elaboradas, convincentes e destrutivas mentiras. “Estar na teia de um
psicopata, geralmente é sinônimo de ter a sua vida destruída”,
lembra Georg. O mentiroso patológico, muitas vezes, precisa de intervenção e
tratamento, como um dependente de drogas.
Para aqueles que
acreditam que a modernidade inventou a mentira, é bom lembrar que
historicamente a mentira está registrada como um traço da nossa humanidade.
Encontramos vetores da mentira nas mitologias nórdica (Loki), grega (Hemera e
Hermes), egípcia (Seth) e indígena brasileira (Anhangá). Mentir sempre fez e
fará parte da condição humana. Não mentimos mais do que os nossos antepassados.
Se hoje temos essa impressão, é por conta das redes sociais que têm a
capacidade de multiplicar uma mentira, transformando-as em fake news.
O especialista lembra
que as pessoas mentem pelos mais variados motivos, na maior parte das vezes
esperando ter algum tipo de vantagem, seja financeira, profissional, social ou
sexual. Quem mente dessa forma sabe dos riscos que corre, mas sempre acha que,
de alguma forma, pode valer a pena. Em uma relação afetiva ou familiar, com as
pessoas forçadas a uma maior convivência por causa da quarentena, as mentiras
podem surgir com mais frequência e ter suas motivações expostas mais
claramente.
Georg Frey -
pesquisador, criminólogo, palestrante, comissário especial da Polícia, gestor
em segurança pública, pós-graduado em Criminologia e Psicologia
Criminal, fundador da U.A.C.H - Unidade de Análise do Comportamento
Humano, autor do livro Eu Sei Que Você Mente! Aprenda a Detectar
Mentiras (Ed Littera, 2019). Com 35 anos de experiência na
análise do comportamento humano, tem ministrado a empresas e famílias
consultorias particulares, treinamentos coletivos, cursos e workshops, no
Brasil e no exterior.
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