Desde meados da década de 1990, uma infinidade de
projetos com indicadores têm sido desenvolvidos e adotados por cidades que
buscam medir e monitorar vários aspectos dos sistemas urbanos. Recentemente, os
dados que sustentam esses projetos começaram a se tornar mais abertos aos
cidadãos e mais realistas em natureza. Gerados por meio de sensores, mídias
sociais e locativas, são exibidos por meio de visualizações interativas e
painéis que podem ser acessados pela internet.
Essas iniciativas avançam uma epistemologia prática
concebida de forma estreita, mas poderosa: a cidade com fatos visualizados está
remodelando a forma como os cidadãos e gestores vêm a conhecê-la e governá-la.
Pode-se questionar como e para que fins as
iniciativas de indicadores e painéis urbanos são empregados pelas cidades. O
fato é que eles revelam em detalhes e muito claramente o estado das cidades.
Permitem conhecê-la como realmente é por meio de dados objetivos, confiáveis e
factuais que podem ser estatisticamente analisados e visualizados para revelar
padrões e tendências.
Os dados dos indicadores fornecem uma base de
evidência racional, neutra, abrangente e de senso comum para monitorar e
avaliar a eficácia dos serviços e políticas urbanas, desenvolver novas
intervenções e aprender a gerenciá-las por meio de medições.
Como as cidades veem os tipos de indicadores e de
sistemas e como as empregam no uso comum se divide em dois grandes campos:
primeiro, alguns municípios usam iniciativas de indicadores para orientar
práticas operacionais com relação a metas específicas e fornecer evidências de
sucesso ou fracasso, como desempenho, e para orientar novas estratégias
políticas e orçamentárias. Segundo, usam indicadores de maneira mais contextual
para fornecer inteligência de cidade robusta e clara, que complementa uma
variedade de outras informações para ajudar a informar e formular políticas e
sua implementação.
Assim, entende-se que as cidades consistem em
sistemas múltiplos, complexos e interdependentes que funcionam, muitas vezes,
de maneira imprevisível. Por isso, os indicadores são elementos importantes,
dada a sua natureza factual, padronizada e temporal, que ajudam a orientar a
tomada de decisões estratégicas.
Um exemplo existe na Bélgica, onde várias cidades
empregaram um monitoramento para desenvolvimento urbano e sustentável
envolvendo quase 200 indicadores para fornecer evidências contextuais para
políticas públicas. Neste caso, esses indicadores funcionam como uma fonte de
informações úteis e aprimoram o processo de mapeamento da situação atual,
tecendo a ligação de diversas formas de conhecimento. Isso facilita a
coordenação, integração e interação entre departamentos e partes interessadas,
fornecendo um conjunto de dados confiável para a cidade.
Os painéis podem ser usados de três maneiras
principais: para monitorar o desempenho e gerenciar os serviços urbanos; para
entender e formular contextualmente políticas; e para criar conhecimento
público e produzir contra narrativas. Já os indicadores agem para fornecer uma
ponte normativa e racional entre conhecimento e política. No entanto, eles não
devem ser usados de forma simplista para medir as intervenções políticas, pois
essas são muito genéricas e estreitas e os efeitos são diversos e complexos.
Ademais, os indicadores não mostram as causas dos
problemas, apenas a sua existência. Eles indicam tendências nas condições, mas
não dizem o que fazer. Assim como uma febre é sintoma, mas não a causa ou a
própria doença, eles são indicadores, não respostas. Seu propósito é ajudar
todos a refletir, experimentar e, sempre que possível, melhorar.
Débora
Morales - mestra em Engenharia de Produção (UFPR) na área
de Pesquisa Operacional com ênfase a métodos estatísticos aplicados à
engenharia e inovação e tecnologia, especialista em Engenharia de
Confiabilidade (UTFPR), graduada em Estatística e em Economia. Atua como
estatística no Instituto das Cidades Inteligentes (ICI).
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