Foi na sexta-feira, hora do almoço. Pedi um suco no restaurante que frequento e fui informado pelo garçom de que os canudinhos agora são proibidos. Resignado, pedi então algo com que pudesse mexer o adoçante que eu havia colocado no copo e logo recebi uma colher. Procurei me informar na internet sobre essa lei do canudinho, cujo texto foi regulamentado em julho de 2018. Segundo os ambientalistas, o plástico dos canudinhos pode levar 400 anos para se decompor. Fiquei realmente impressionado com a preocupação ambiental em nosso país e pensei em quanto temos evoluído, a ponto de eu não poder mexer meu suco ou tomá-lo através do antigo canudinho, pois o ambiente está acima de tudo.
Conforme
me disse o dono do restaurante, quem for pego oferecendo o antigo acessório de
plástico vai ter de pagar uma multa no valor de R$ 1.650,00. Novos flagrantes
elevam a multa a até R$ 6 mil.
Logo
após o almoço, sentei confortavelmente numa poltrona do shopping e qual não foi
minha surpresa ao notar que a tal preocupação ambiental não ultrapassa os
canudinhos e outros acessórios que prejudicarão a natureza daqui há 400 anos.
Numa leitura assustadora, li que naquele exato instante ocorria uma tragédia no
município de Brumadinho, em Minas Gerais, após o rompimento da barragem 1 da
Mina Feijão, da mineradora Vale, naquele município mineiro. Isso ocorre pouco
mais de três anos após a tragédia em Mariana (MG), em 2015, em que houve o
rompimento de uma barragem da Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton.
O
Brasil sofre um problema social, ético, moral e, acima de tudo, de desfaçatez.
O presidente eleito, além de ter que manejar o custo econômico e político de
colocar o Brasil nos eixos, tem agora também que lidar com tragédias. A grande
verdade é que, se a barragem se rompeu, provavelmente havia infiltração de
água, e as promessas feitas anteriormente, ao rigor exigidas e prometidas pela
Vale para que não mais ocorresse esse tipo de desgraça, que acarretou mortes no
momento estimadas em aproximadamente 200 pessoas, não se concluiu, ou seja, a
fiscalização, na melhor das hipóteses, foi precária ou omissa.
Vejo
isso com muita tristeza, e enxergo o Brasil como um país no qual o que promove
exportação parece ter os meios fiscalizatórios afrouxados por parte dos órgãos
competentes. Claro que não houve dolo, mas algo estranho aconteceu.
Depois
do susto e de ver pela TV as imagens do estrago do rompimento da barragem,
caminhei em direção a um bar e pedi com um olhar triste um suco daqueles de
latinha. Ao pagar, perguntei ao rapaz do caixa: “Você tem um canudinho?”. E ele
me respondeu: “Não. Canudinho é proibido e os fiscais não dão moleza”. Saí
cabisbaixo e pensei que canudinho rima com Brumadinho, mas para canudinho tem
fiscais, para Brumadinho e Mariana tem lama, tristeza e desalento... Esse é o
Brasil do momento.
Fernando Rizzolo - Advogado,
Jornalista, Mestre em Direitos Fundamentais, Professor de Direito.
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