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terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Dieta anti-câncer: ela existe?


Hipócrates, considerado o pai da medicina dizia: "que o teu alimento seja o teu remédio e o que o teu remédio seja o teu alimento." Hipócrates viveu na Grécia antiga, entre 460 e 370 antes de Cristo. Será que hoje, quase 2500 anos depois, ainda faz sentido repetir essa frase?

Naquela época se conhecia muito pouco sobre o funcionamento do corpo, tínhamos noções básicas de anatomia, visto que podíamos dissecar o corpo humano. No entanto, não se conhecia muito sobre a fisiologia e funcionamento dos órgãos, muito menos sobre genética, um conhecimento do século passado.
A medicina da Grécia antiga era muito diferente, não havia praticamente nenhum medicamento disponível, e obviamente nenhum exame de imagem ou cirurgia, avanços que começaram a ser utilizados em torno dos anos 1900.

Quando não se tem quase nenhum recurso médico para tratar doenças, restava manipular hábitos do dia a dia na tentativa da melhora da saúde dos pacientes, e a dieta é um dos mais importantes. Fazia sentido.


No século XXI isso ainda faz sentido?

Conforme fomos estudando e conhecendo as causas das doenças foi possível identificar seus fatores de riscos e mecanismos de desenvolvimento. A partir de 1950, depois da descoberta da estrutura do DNA, foi possível estudar seu funcionamento, bem como seu mau funcionamento. A partir de 1970, começaram a ser identificadas mutações, defeitos no DNA, que causam a transformação de uma célula normal em uma célula cancerígena.

A partir daí foi possível focar nas causas destes erros no DNA. Isto permitiu entender quais são os fatores que podem levar ao desenvolvimento de câncer como radiação ionizante, cigarro, agentes químicos, obesidade e outros. Também foi possível identificar os pontos fracos da doença, o que permitiu o desenvolvimento de novos medicamentos.

Conhecendo a biologia do câncer, ficou muito claro que apenas as modificações dos hábitos alimentares seriam incapazes de tratar a doença isoladamente. No entanto, também foi possível identificar que os hábitos alimentares e estilo de vida têm um papel muito importante no desenvolvimento da doença, não só de câncer, como de diabetes, doenças vasculares, doenças cardíacas e outras.
A conclusão é: remédio e comida são coisas diferentes.

Doenças devem ser tratadas com métodos terapêuticos estabelecidos pelo estudo e teste científico. Métodos que sejam comprovadamente eficazes e seguros, mesmo que possam ter efeitos colaterais e desde que estes efeitos seja controláveis.


Então existe não existe uma dieta anti-câncer?

Não! Nenhum alimento específico ou dieta da moda vão interferir nisso: dietas restritivas, jejum intermitente, alimentos "antioxidantes", chás milagrosos, frutas exóticas, cogumelos mágicos, sucos "detox", restrição de açúcar, gordura, proteína, ou qualquer outro que você escutar ou achar em um site de "medicamentos ou curas naturais" (que em geral também vendem estes "medicamentos ou curas naturais"). Nada disso vai ter efeito contra o câncer.

Neste caso, a pessoa em tratamento contra o câncer está liberada para comer qualquer tranqueira que ela queira?

Também não! Embora não exista nenhum alimento capaz de reduzir o câncer, aumentar a imunidade ou plaquetas, hábitos alimentares saudáveis devem fazer parte da vida de todas as pessoas, em todos os momentos.

Uma alimentação balanceada será um aliado fundamental no tratamento. A alimentação e nutrição saudável permitirá a manutenção de um bom peso (nem ganho nem perda), pode ajudar na manutenção da massa muscular, redução de risco no pós operatório, redução de fadiga dentre diversos outros benefícios.

Além disso, a manutenção de um peso saudável e a prática de exercícios físicos podem reduzir a chance de desenvolvimento de câncer em 30% a 40% e podem tornar o tratamento mais bem tolerado e com menos efeitos colaterais.


Se não existe uma dieta anti-câncer, qual é, então, a dieta saudável?
Não há mistério nenhum na alimentação saudável, provavelmente a dieta que a sua avó fazia você comer quando era pequeno(a): grãos integrais, frutas, verduras, legumes, carne preferencialmente branca, reduzir o consumo de carne vermelha e açucares refinados, evitar alimentos processados e defumados e evitar consumo álcool.





Dr. Felipe Ades - médico oncologista do Centro Paulista de Oncologia do Grupo Oncoclínicas

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