Quando
pensamos em Educação Infantil, logo nos vem em mente a criança pequena atrelada
aos cuidados mais básicos da primeira infância. E apontamos aqui que realmente
é isso, é impossível dissociar o educar aos cuidados da mais tenra infância. O
nosso enfoque aqui é articular esse cuidado à filosofia. Mas como isso é
possível? Pois bem, me explico.
É
do imaginário de todos que a Filosofia é uma ciência humana, abstrata e quase
que inalcançável aos que ainda não se apropriaram da educação escolar. Porém,
ao mergulhar no universo filosófico, percebemos que ela é a base para o pensar.
Através do pensamento filosófico que os seres humanos alcançam as funções
superiores do pensamento, nome este dado pelo estudioso Lev Vygotsky. Em sua
obra, “Pensamento e Linguagem”, o autor aponta que para que o pensamento
alcance níveis superiores, é necessário que a criança tenha como suporte a
linguagem. Quando apontamos aqui a questão da linguagem, destacamos a
importância das múltiplas linguagens principalmente na educação infantil, sendo
elas, linguagem artística, linguagem corporal, linguagem oral e escrita,
linguagem matemática, entre outras.
E
é aqui que entra aquilo que consideramos o foco da educação infantil: o
brincar. A base para todo desenvolvimento está no brincar, pois será nesse
momento que a criança, ao explorar, torna-se uma grande investigadora, e assim,
alcança níveis superiores de pensamento, sendo atravessadas necessariamente
pela linguagem.
A
médica e estudiosa Emmi Pikler dedicou-se a observar bebês na mais tenra
infância, ressaltando a importância do primeiro ano de vida de crianças
pequenas. Ao observá-las, Emmi Pikler percebeu que os mais básicos cuidados
como o banho, a troca, a alimentação, tudo isso influencia no desenvolvimento
da criança. A criança pequena descobre o mundo e se descobre por meio de seus
sentidos. É através dos sentidos que estabelecemos contato entre o mundo
interno e o mundo externo. Tudo o que vemos, ouvimos, tocamos, experimentamos
exerce um reflexo físico, uma ação pequena, e um reflexo psíquico, sensações e sentimentos.
Os sentidos nos informam sobre o mundo externo e transformam nosso mundo
interno, o que acontece dentro de nós.
E
o brincar é nada mais do que isso, explorar, conhecer um objeto a fundo, sua
funcionalidade, e assim criar e (re)criar novas possibilidades. O constante
movimento do brincar potencializa a aprendizagem.
O
papel do adulto nesse processo de significações é fundamental para a construção
do simbólico no pensamento infantil. Ademais, ressaltamos a importância para a
construção de vínculos, do afeto, da criação de memórias que ecoam no
imaginário das crianças, possibilitando um desenvolvimento sadio e
integral. O educador ao assumir esse papel de mediador das relações, faz
com que a criança pequena perceba a essência do pensamento do outro,
possibilitando assim uma melhor socialização e melhor organização do próprio
pensamento. É aqui que lembramos do papel filosófico do ato de educar. A
criança ao manipular, explorar, vivenciar, investiga tudo que está a sua volta,
e assim seu pensamento vai se constituindo.
Poderíamos
ficar aqui tecendo mais e mais sentidos sobre tal assunto, porém faz-se
necessário um ponto final. Enfatizamos, portanto, a importância do ato de
brincar, de experimentar, sentir, explorar, investigar na educação infantil, criando
assim a base para o pensamento filosófico e investigativo, sustentado pelo
vínculo e afeto, tão essenciais para o desenvolvimento infantil sadio.
Ana Paula Alberto Lopes - Professora regente na Educação
Infantil do Colégio Marista Champagnat
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