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segunda-feira, 15 de abril de 2019

Inseminação caseira: Você já pensou no futuro?



Quando falamos em técnicas de reprodução humana estamos tratando de alternativas que visam promover uma gestação saudável aos casais sob normas médicas e legais pré determinadas. Acontece que os tratamentos não são baratos e com pouca acessibilidade em nosso sistema de saúde pública. Com isso alternativas pouco recomendadas acabam ganhando espaço. Talvez a que  mais preocupe é a dita “inseminação caseira”.  

Mas o que é inseminação? Trata-se de uma das alternativas terapêuticas a casais inférteis mais simples, conhecida como de baixa complexidade. O procedimento consiste em inserir o sêmen via um cateter pelo colo até a parte interna do útero. Usualmente, se associa indução da ovulação pra ter mais óvulos disponíveis aos milhares de espermatozoides usados. Há um custo no procedimento e deve-se cumprir várias etapas e exames prévios.  

Já quando falamos em “inseminação caseira” consiste em disponibilizar o sêmen de forma gratuita (ou em alguns casos com “ajuda de custo") a quem precisa, sem exames ou burocracia, ou seja um paraíso para complicações e transtornos futuros sem nenhuma chance de reclamação. Quando realizamos um tratamento de infertilidade nos preocupamos intensamente com as questões clínicas, legais e principalmente afetivas. Proceder algo sem estas seguranças é muito temerário.  
  
Casais homoafetivos femininos são o maior público, seguido por mulheres independentes e, em alguns casos, heterossexuais com problemas masculinos. 
Esses grupos, organizados via rede sociais, já são facilmente achados e interagem entre si com a intenção de compartilhar informações, soluções e claro, alguns aproveitam para oferecer o sêmen. 
  
A ideia, na maioria dos casos, pode até ser ajudar, mas a que custo? A inseminação em laboratórios regulares é feita sob rígidos termos, controles e exames. Já a inseminação caseira, segue a margem de tudo isso e abre portas para doenças, traumas, insegurança física, além da ausência de controles sanitários.  

Isso tudo, sem falar em termos legais, que talvez seja a questão mais complexa, , já que o filho gestado dessa forma poderá ter direitos legais e afetivos negados ao longo de sua vida. O processo está totalmente ausente de qualquer componente legal e teremos futuras crianças geradas em um potencial problema jurídico. Por mais que haja um contrato de anonimato e desobrigações legais esse jamais poderá ser garantido em sua plenitude. Quando ajudamos um casal a engravidar somos cúmplices de todo o processo e por isso precisamos de regras claras que regulam a Reprodução Humana. Na inseminação caseira não há qualquer amparo jurídico e poderemos ter questões complexas em varas de família diante dessa ausência do estado no processo.  

O caminho, para evitar as armadilhas de uma inseminação caseira, é tornar as técnicas reprodutivas mais acessíveis sem dúvida e evitar esse modelo “mais barato” para que o maior objetivo disso tudo não se torne um problema, já que cada escolha leva a uma consequência e lidar com ela no futuro pode ser um fardo pesado que poderia ser evitado. 





Vamberto Maia Filho - graduado em medicina pela Universidade Federal de Pernambuco (2001), especialista em Ginecologia, Obstetrícia e endoscopia ginecológica. É membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva e da Sociedade Européia de Reprodução Humana - ESHRE. Atualmente é sócio do grupo MAE (Medicina e Atendimento Especializado).  


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