Programas de
aprendizagem apresentam índices favoráveis e a concorrência aumenta entre os
estudantes
O Brasil atravessa uma das piores crises de
sua história e a expectativa de recuperação da economia nacional é modesta.
2017 ainda apresenta um cenário de retração, consequência da recessão econômica
acentuada que o país vem sofrendo desde o final de 2014. As projeções não
são muito animadoras, especialmente para quem está em busca de um emprego, pois
indicam que o total de desempregados pode subir ainda mais até o ultimo
trimestre.
Especialistas do setor acreditam que esse ano
irá começar um período de estabilidade para o mercado brasileiro, pois o total
de contratações poderá superar, aos poucos, o número de demissões, no entanto,
isso deve ocorrer de forma lenta e gradual, já que as novas vagas abertas não
serão capazes de absorver toda a demanda de pessoas que estão sem emprego
atualmente no país.
Diante disso, os estudantes têm demonstrado
cada vez mais interesse nas oportunidades de estágio, que já apontam um aumento
na quantidade de inscritos. Diferente do mercado celetista, os programas de
aprendizagem seguem estáveis e continuam contratando mesmo em meio ao quadro
econômico conturbado do país, o que chama atenção não apenas dos jovens, mas de
alunos de todas as idades que ingressam em uma nova carreira profissional.
Recorde de desemprego no país
De acordo com a última pesquisa nacional por
Amostra de Domicílio Contínua (Pnade Contínua), divulgada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o ano passado fechou com 12,3
milhões de pessoas desempregadas, o maior índice desde o início do estudo, em
2012. Esse número é 36% maior em comparação com 2015 e quase dobrou desde o
final de 2014, quando começou a crise econômica no país. Para se ter ideia,
essa taxa é proporcional a toda a população de São Paulo, a maior cidade
brasileira.
Diante desse cenário desfavorável, a faixa
etária entre 14 e 24 anos, é uma das mais afetadas. A taxa de desemprego chegou
a 25,6% para essa parcela da população. Com menos tempo de experiência
profissional e, muitas vezes, com um nível menor de qualificação, os jovens
buscam alternativas para driblar a crise e o estágio, que atualmente segue
apresentando números de vagas expressivos, está em alta entre aqueles que estudam.
Procura acentuada
Com o encolhimento do mercado de trabalho
brasileiro e a recessão contínua que o país enfrenta, os programas de
aprendizagem apresentam estabilidade e crescimento gradual, o que atrai cada
vez mais estudantes. Dados da Companhia de Estágios – assessoria
especializada no recrutamento e seleção de estagiários – apontam que no
primeiro semestre de 2016, o número de candidatos cresceu 17,6% em comparação
com o mesmo período do ano anterior, e a expectativa é que o número continue
subindo neste ano.
Pesquisas do setor indicam que o número de
pessoas acima dos 40 anos que estão em busca de uma oportunidade de estágio
também vem crescendo atualmente. Para Tiago Mavichian, diretor da Companhia de
Estágios, há uma quantidade relevante desses candidatos que, obviamente, não
estão procurando o primeiro emprego e possuem mais vivencia profissional que os
jovens, o que aumenta a concorrência e torna a disputa acirrada: ”seja para
recomeçar profissionalmente ou para se ajustar à atual realidade do mercado, o
fato é que eles estão buscando uma nova qualificação e aderindo ao estágio. No
entanto, para compensar a falta de experiência o jovem tende a buscar mais
qualificações, assim, quem tem a ganhar com essa competitividade são as
empresas” – Explica o especialista.
Panorama nacional
De acordo com o levantamento mais recente da
Associação Brasileira de Estágios (Abres) há mais de um milhão de estagiários
no país, somente no ensino superior um em cada dez estudantes participa de
algum programa de estágio e os alunos dos ensinos médio e técnico já somam 260
mil. O número ainda é proporcionalmente baixo diante da grande quantidade de
estudantes no país, porém, ao contrário do mercado formal, segue estável mesmo
nesse período de crise.
Principais vantagens dos programas de estágios
Tanto os estudantes como as empresas
contratantes são beneficiados ao selar o contrato de estágio. A lei estabelece
uma série de direitos e deveres que visam proporcionar a melhor experiência
para ambas as partes. Mavichian afirma que cada vez mais empresas aderem aos
programas de aprendizagem depois de compreenderem que o estágio é como uma via
de mão dupla na qual ambas as partes saem ganhando: “Enquanto o estudante
adquire experiência para se desenvolver profissionalmente em seu ramo de
atuação e coloca em prática todo seu conhecimento teórico, a concedente ganha
toda a expertise que o aluno, ainda em formação, adquire em seu curso, e um
novo olhar, em constante atualização, sobre o mercado”.
Além disso, nesse período de crise, as
empresas têm a oportunidade de ter uma mão-de-obra qualificada com custos
reduzidos na folha de pagamento, já que o estágio não caracteriza vínculo
empregatício, e, portanto, libera a empresa dos encargos de um funcionário
celetista. Outro ponto atraente para muitas organizações é que o estagiário
pode atuar pelo período de até 2 anos, o que configura um período de tempo de
treinamento para que futuramente o estudante, já desenvolvido, passe a compor o
quadro de funcionários da empresa após o termino do contrato.
De olho na lei
Que os programas de aprendizagem conferem uma
série de vantagens não há dúvidas, porém, para assegurar que os estudantes não
serão encarados apenas como uma mão-de-obra de baixo custo há a lei do estágio
(nº 11.788), que traz regras estabelecidas que devem ser seguidas vigorosamente
para que o programa não se distancie de seu foco principal e não acabe gerando
um vínculo empregatício com a empresa contratante. Confira uns dos principais
cuidados que as empresas devem adotar ao optar pelo programa:
Matrícula ativa: É
preciso ficar atento ao vínculo do estudante com sua instituição de ensino.
Caso haja o desligamento, ou mesmo uma interrupção no curso, o estágio deverá
ser automaticamente cancelado, pois perde seu cunho educativo. Portanto,
especialistas recomendam que as empresas verifiquem este ponto regularmente por
meio de relatórios assinados ou comprovantes de matrícula.
Carga horária:
Outra questão muito importante que deve ser observada diz respeito a carga
horaria do estágio, pois, na lei há um limite especifico de acordo com o nível
do curso do aluno – 6 horas diárias e 30 horas semanais para nível superior e 4
horas diárias e 20 horas semanais para o ensino médio/técnico – e este deve ser
cumprido para que não atrapalhe o período de estudos. Horas extras também não
são permitidas.
Funções definidas: As
funções que o estagiário desempenha sempre deverão estar de acordo com sua área
de formação, pois, o objetivo principal do estágio é proporcionar uma
experiência educativa na qual o aluno poderá colocar em prática o conhecimento
teórico adquirido no curso e, consequentemente, se desenvolver
profissionalmente. Designar tarefas que não estejam de acordo com o campo de
atuação do estudante pode caracterizar desvio de funções e um possível vínculo
trabalhista.