Especialista da Inspirali explica sobre o importante papel deste profissional
Atender
pessoas de forma generalizada e integrada, desde o nascimento até o final da
vida. Esse é o principal papel do Médico de Família e Comunidade, especialidade
médica que, embora pareça novidade, existe há mais de 60 anos, mas vem
recebendo diferentes nomenclaturas desde então. Para exemplificar e tornar a especialidade
ainda mais reconhecida, a Inspirali, principal ecossistema de educação médica
do país, convidou a Dra. Gabriela Gomide, Médica de Família e Comunidade,
docente e coordenadora de Habilidades Médicas na Universidade São Judas Tadeu
em Cubatão, que trouxe mais informações sobre este importante profissional da
saúde. Confira:
O que faz o
médico de Família e Comunidade?
R:
A medicina de família e comunidade é uma especialidade médica responsável pelo
cuidado de pessoas, independentemente da idade, do nascimento até o final da
vida, através de seu acompanhamento longitudinal, ou seja, ao longo da vida.
Qual o perfil deste profissional?
R:
Gostar de gente. Nos interessamos em escutar histórias e nossa maior ferramenta
é a comunicação clínica. Compreendemos que o processo saúde-doença é complexo,
sofrendo influência de aspectos biológicos, psicológicos e sociais, sem haver
um peso maior entre esses fatores.
Quais
procedimentos este profissional realiza?
R:
Fazemos absolutamente de tudo. Somos especialistas em generalidades. Sempre
brincamos na residência que não podemos dizer “isso não é comigo”, porque tudo
é com a gente. Realizamos atendimentos em saúde da criança, saúde da mulher,
saúde do adulto, saúde do idoso. Realizamos procedimentos como, por exemplo,
inserção de DIU e outros contraceptivos, cantoplastia, exérese de cisto
sebáceo, etc.
Onde este
profissional costuma atuar?
R:
O médico de família em comunidade pode atuar em qualquer lugar. É bem comum as
pessoas relacionarem nossa atuação necessariamente as unidades básicas de saúde.
Apesar das residências médicas se inserirem preponderantemente, nesse cenário,
hoje atuamos em ambulatórios de diferentes convênios, ambulatórios corporativos
de maneira presencial e em telemedicina, na docência, como gestores em serviços
de saúde, etc.
Qual
especialização é necessária para se tornar um médico de família e comunidade?
R:
Existem algumas opções para se tornar um médico de família e comunidade. Existe
a residência médica com duração de dois anos, trabalhar em atenção básica por
quatro anos ou realizar a pós-graduação na área. Na residência, o interessado
já sai com o RQE, que é o registro de especialista. Na atuação em unidade
básica e na pós-graduação, é necessário prestar a prova de título para
conseguir o registro.
Faz parte de
sua atuação alguma relação com psicologia para atender aos clientes?
R:
É comum perguntarem se somos psicólogos, mas não temos uma relação direta com a
psicologia. Nossa maior ferramenta é a habilidade em comunicação através da
escuta ativa. Hoje não é comum escutarmos uns aos outros, imagina em uma
consulta médica. Os pacientes acham até estranho esse interesse genuíno pelos
seus problemas pessoais e imediatamente nos relacionam a uma abordagem
psicológica. Nós tentamos apenas ouvi-los e relacionar suas vivências e
percepções ao processo saúde-doença, trazendo o paciente a participar da
construção do raciocínio clínico conosco.
É uma
especialidade nova? Como e por que foi criada?
R:
A medicina de família e comunidade não é nova. Ela surgiu junto com as outras
especialidades médicas, lá pela década de 60. Passou por algumas modificações
de nomes no caminho e por isso a nomenclatura deve soar como algo novo. Surgiu
desde que as especialidades focais apareceram porque, com o surgimento das
especialidades focais que cuidam de apenas um segmento, notou-se a necessidade
de alguém que cuide integralmente, coordenando o cuidado.
O que difere
este profissional de um clínico geral?
R:
Somos diferentes pela população atendida: atendemos também crianças e
gestantes, enquanto a clínica médica atende adultos. A residência em clínica
médica acontece em suma nos ambientes hospitalares, enquanto a residência em
MFC acontece nas unidades básicas de saúde, o que nos proporciona vivência nas
redes de atenção à saúde, longitudinalidade e coordenação do cuidado.
Quais são as
habilidades necessárias para se tornar um médico desta especialidade?
R:
Gostar de gente. Todas as outras habilidades podem ser desenvolvidas, mas
gostar de gente é imprescindível.
O atendimento
deste profissional é restritamente voltado para pessoas carentes?
R:
Jamais! Podemos cuidar e coordenador o cuidado de qualquer pessoa. Hoje existe
uma procura grande de médicos de família para serviços privados, tanto em
grandes empresas, quanto em convênio.
Como está
atualmente a procura por esta especialização?
R:
Atualmente a procura tem crescido bastante. Existe um interesse dos municípios
para que a mão de obra na atenção básica seja especializada, por isso há uma
oferta grande de vagas e investimento na área. Muitos médicos de família
integram o corpo docente de faculdades de medicina, aumentando a visibilidade
da especialidade e a visão dos alunos como uma possibilidade de atuação.
Outros países
também possuem esta especialização?
R:
Sim. Os médicos de família têm atuação central no cuidado em saúde da
população, principalmente no Canadá e em Portugal.
Além do
atendimento, quais outras contribuições este profissional traz para a saúde
global?
R:
Se a atenção básica e a coordenação do cuidado funcionarem de forma efetiva,
todas as outras especialidades ganham. Aumentando a potência da atenção básica,
aumentamos sua resolubilidade e os encaminhamentos, portanto, são feitos com
qualidade, chegando ao especialista focal o que realmente deve chegar, o que
resulta em diminuição de filas de espera e a demanda de exames laboratoriais e
de imagem. Todos ganham.
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