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segunda-feira, 10 de junho de 2024

Especialistas esclarecem o que é real e o que é fake sobre os efeitos causados pelo Ozempic e alertam para o uso indevido do medicamento

Freepik
Rosto derretido, cabeça em desacordo com o restante do corpo e atrofia muscular 

 

O Ozempic se tornou a celebridade do mercado farmacêutico. As polêmicas sobre os efeitos referentes ao uso do medicamento são renovadas a cada mês. Chorando e insatisfeita, a influenciadora Dayanne Bezerra confidenciou aos seus seguidores que está se sentindo feia e que seu bumbum ficou atrofiado pelo uso do medicamento.

Na busca desenfreada pelo corpo perfeito o medicamento vem sendo utilizado simplesmente como a “caneta mágica” para perder peso de maneira rápida. É possível encontrar tutorial de como utilizar e onde encontrar o Ozempic sem a necessidade de receita médica nas redes sociais. Algumas influenciadoras divulgam o antes e depois do uso do medicamento, ressaltando a perda de peso e a melhora no percentual de gordura. Esse tipo de atitude reforça o uso indiscriminado e pode causar efeitos colaterais mais severos.

Para entender o que é real e o que é fake sobre o tema, e o quanto a vaidade pode ser perversa, conversamos com três especialistas: Eduardo Netto, Priscilla Martins e Rodrigo Bravim.

Para a médica, Priscilla Martins, a maioria dessas polêmicas são sensacionalistas e tendenciosas. Boa parte das notícias que falam sobre os efeitos colaterais de Ozempic relatam situações que podem ocorrer em qualquer processo de emagrecimento independente do uso da medicação.

A especialista reforça que as polêmicas são prejudiciais e contribuem para o preconceito contra o medicamento. Pessoas que realmente precisam e se beneficiaram com o tratamento deixam de usar por medo. “Entendo que, por ser um medicamento em alta, as notícias querem chamar a atenção, dar audiência, e não se preocupam em buscar informações verdadeiras. Por exemplo, não deixam claro que algumas consequências aconteceriam em qualquer processo de perda de peso e não pelo uso do Ozempic”.

Ainda existe preconceito com o uso de medicamentos para tratamento da obesidade, isso porque a maioria das pessoas não veem a obesidade como uma doença e sim como um “desvio de conduta” e que basta a pessoa querer para conseguir mudar o quadro, mas, hoje sabemos que não é uma questão de “força de vontade” e ainda que a pessoa se dedique para perder peso muitas vezes não conseguirá porque existem fatores metabólicos e genéticos que dificultam o processo. O tratamento com medicamentos é uma excelente ferramenta para ajudar essas pessoas a terem um estilo de vida mais saudável, com mais qualidade de vida e menor risco de doenças.

“Não devemos ver a Semaglutida como um “remédio para emagrecer”, e sim como um medicamento para tratar alterações metabólicas. É necessário reforçar que obesidade é reconhecida pela OMS como uma doença crônica e progressiva e, como toda doença crônica, o uso de medicamentos pode ajudar a manter a doença sob controle. A medicina evoluiu e hoje temos medicamentos seguros e eficazes que podem e devem ser utilizados para evitar complicações relacionadas com o excesso de peso. O medicamento ajuda pessoas com obesidade a terem uma vida melhor e mais saudável, mas o uso para fins estéticos em pessoas com peso normal contribui para o preconceito contra a medicação. Use medicamentos apenas com orientação médica”, esclarece Priscilla Martins, Mestre em Endocrinologia e Metabologia pela UFRJ.

A Semaglutida é uma medicação potente para perda de peso e quando uma pessoa emagrece muito há redução de gordura subcutânea que pode causar flacidez e mudança da percepção corporal.  Quando o emagrecimento não é acompanhado de exercícios para fortalecimento muscular e de bom aporte de proteínas também pode ocorrer perda de massa muscular, especialmente se é feito sem acompanhamento médico e nutricional. Existe um exagero nas notícias como se a culpa fosse do medicamento, mas na verdade esses efeitos apontados podem ocorrem em qualquer processo de emagrecimento.

O medicamento é indicado para tratamento de pacientes com obesidade (IMC acima de 30) ou sobrepeso (IMC maior de 27) com complicações como hipertensão, diabetes e colesterol alto, geradas pelo aumento de peso.  O fármaco deve ser visto como um medicamento que trata uma doença crônica como a obesidade e traz vários benefícios adicionais para o paciente. Além de atuar sobre o apetite, ajuda no controle de alterações metabólicas e na prevenção de doenças cardiovasculares. A droga não deve ser utilizada em pessoas com história de carcinoma medular de tireoide ou neoplasia endócrina múltipla do tipo 2 (NEM 2).

 “No entanto, não há recomendação do uso de Ozempic para emagrecimento apenas para fins estéticos em pessoas com o peso normal. Semaglutida é uma medicação segura, mas, como qualquer outro medicamento, pode ter efeitos colaterais como náuseas, dor no estômago, mal estar, fadiga, diarreia, constipação e vômitos. O emagrecimento excessivo também pode levar a perda de massa muscular e flacidez na pele, não pelo uso do medicamento em si, mas pela perda de peso excessiva”, orienta Martins.

Usar a Semaglutida sem orientação médica aumenta o risco de efeitos colaterais indesejáveis citados.  O médico sabe como orientar e a ajustar a dose para minimizar os efeitos colaterais e como administrar cada um deles, caso ocorra.  Além disso, quando não há acompanhamento o risco de reganho de peso é maior por interrupção do tratamento já que o especialista saberá orientar outras medidas de estilo de vida para ter uma perda de peso sustentável a longo prazo. Fazer exercícios físicos de fortalecimento muscular durante o emagrecimento ajuda a melhorar o tônus e reduz o risco de flacidez. É importante também que a alimentação seja balanceada com um bom aporte de proteínas e hidratação adequada.

Dica da especialista:  a Semaglutida é uma medicação segura quando utilizada com indicação correta e acompanhamento médico regular e pode trazer muitos benefícios para a saúde. Busque um especialista confiável, esclareça suas dúvidas e, se houver indicação, invista no tratamento sem medo.

O medicamento é aprovado pela Anvisa para tratamento de diabetes e obesidade. Deve ser administrado através de uma aplicação de injeção subcutânea uma vez na semana. É necessário iniciar o tratamento com dose baixa e aumentar progressivamente a dose de acordo com a tolerância individual. Esse ajuste progressivo é individualizado e ajuda a minimizar o risco de efeitos colaterais. Estudos de uso em longo prazo não mostram até o momento risco adversos graves e inclusive mostram benefícios com o uso prolongado como a redução do risco de eventos cardiovasculares, manutenção do peso perdido e menor risco de desenvolver diabetes.

As redes sociais exercem grande influência no uso do medicamento sem acompanhamento médico e para fins estéticos. Influencers usam o medicamento sem indicação e muitas vezes disseminam informações equivocadas ou falam apenas do lado positivo do medicamento sem mencionar os riscos e efeitos colaterais.


Atrofia muscular

Para entender qual é o problema que fez a influenciadora Dayanne Bezerra chorar, conversamos com Eduardo Netto - profissional de Educação Física há 40 anos. Atrofia muscular é o enfraquecimento ou perda de tecido muscular e é caracterizada pela diminuição do tamanho do músculo, o que resulta na perda de força.

Existem três tipos de atrofia muscular: fisiológica, patológica e neurogênica.

 A fisiológica é causada pelo uso insuficiente dos músculos. Esse tipo de atrofia pode muitas vezes ser revertido com exercícios e alimentação. As pessoas mais afetadas são aquelas que:

  • Têm trabalhos sedentários, problemas de saúde que limitam o movimento ou níveis de atividades reduzidas;
  • Pessoas acamadas;
  • As que não podem mover seus membros devido a um AVC ou outra doença cerebral.

A patológica é observada com o envelhecimento, inanição e doenças como a síndrome de Cushing (devido ao uso excessivo de medicamentos chamados corticosteroides ou glândulas suprarrenais hiperativas).

A neurogênica é o tipo mais grave de atrofia muscular. Pode ser causada por uma lesão ou doença de um nervo que se conecta ao músculo. Este tipo de atrofia muscular tende a ocorrer de forma mais súbita do que a atrofia fisiológica.

Exemplos de doenças que afetam os nervos que controlam os músculos:

  • Esclerose lateral amiotrófica (ELA, ou doença de Lou Gehrig);
  • Dano a um único nervo, como a síndrome do túnel do carpo;
  • Síndrome de Guillain-Barré;
  • Danos nos nervos causados por lesões, diabetes, toxinas ou álcool;
  • Poliomielite;
  • Lesão na medula espinhal.

Embora as pessoas possam se adaptar a essa condição, até mesmo uma atrofia muscular menor causa alguma perda de movimento ou força. Outras causas podem incluir: queimaduras, terapia de corticosteroides a longo prazo, desnutrição, distrofia muscular e outras doenças musculares, osteoartrite e artrite reumatoide.

Para detectar a atrofia muscular, é importante observar sinais e realizar exames específicos. Os principais métodos utilizados são: observação, avaliação médica, exames diagnósticos e monitoramento contínuo. Esses métodos combinados ajudam a detectar e avaliar a gravidade da atrofia muscular, permitindo intervenções e tratamentos adequados.

“Um programa de exercícios pode ajudar a tratar a atrofia muscular. Os exercícios podem incluir atividades realizadas no meio aquático para reduzir a carga de trabalho muscular e outros tipos de reabilitação. Pessoas que não conseguem mover ativamente uma ou mais articulações podem fazer exercícios usando órteses ou talas”, pondera Eduardo Netto, diretor técnico da Bodytech Company.

A gravidade da atrofia muscular depende, portanto, de vários fatores, incluindo a causa, a rapidez da progressão e as opções de tratamento disponíveis. Consultar um profissional de saúde para um diagnóstico e plano de tratamento personalizado é fundamental para manejar a condição de forma eficaz.

Entenda a gravidade da atrofia muscular:


Causas subjacentes

  • Fisiológica: devido ao desuso, geralmente reversível com exercícios e nutrição adequada.
  • Patológica: associada ao envelhecimento, inanição ou doenças endócrinas (ex: síndrome de Cushing).
  • Neurogênica: resultante de lesões nervosas, é a forma mais grave e de progressão rápida (ex.: ELA, lesões na medula espinhal).


 Impacto na função

  • Perda de força: significativa perda de força, afetando atividades diárias.
  • Mobilidade reduzida: dificuldades de movimento, afetando a qualidade de vida.
  • Desconforto: pode causar dor muscular e incômodo.

 Progressão da condição

  • Gradual ou rápida: pode ser lenta (desuso) ou rápida (lesões nervosas).
  • Recuperabilidade: a atrofia por desuso é geralmente reversível; a neurogênica pode ser irreversível.


 Complicações

  • Lesões adicionais: aumento do risco de quedas e outras lesões.
  • Condições secundárias: pode causar contraturas, dificuldades respiratórias e problemas metabólicos.


 Tratamento e manejo

  • Reabilitação e exercícios: terapias específicas ajudam a recuperar força e massa muscular.
  • Intervenção médica: tratamento adequado para doenças subjacentes é crucial.
  • Suporte nutricional: Dieta e suplementação adequadas são essenciais para a recuperação.


Redes Sociais X Pressão estética

Nas redes sociais é possível encontrar conteúdos de todos os tipos e para todos os gostos. Neste universo onde as pessoas são felizes, gratos, perfeitos e alheios a qualquer tipo de problema, também é um ambiente onde perigos, gatilhos e facilidades estão ao alcance das mãos. O mundo virtual sempre disponibiliza a resposta a solução “perfeita” (sempre a mais fácil) para qualquer tipo de dificuldade.

As pessoas estão sempre em busca de algo novo para conquistar a beleza perfeita. Os principais atrativos são por protocolos mais rápidos para soluções estéticas, medicamentos e até mesmo procedimento cirúrgico.

Essa busca constante pode causar transtornos, entre eles estão: ansiedade e depressão: pela falta de resultado imediato ou pela constante frustração em ver pessoas alcançando o que deseja; bulimia: na tentativa exagerada de poder satisfazer o corpo com satisfações rápidas por meio de alimentos, mas sem causar qualquer tipo de impacto no seu peso ou na estrutura corporal; anorexia e dismorfia corporal: onde a pessoa já não consegue se ver/identificar como realmente é, e a cada tentativa de modificação estética vai se deformando,  já que não tem mais uma percepção real do próprio corpo devido essas tentativas por soluções fáceis e rápidas, sem contar todo o dano causado ao corpo em questões fisiológicas ao se colocar em risco com dietas restritas, além de fazer uso de uma polifarmácia sem se quer saber de que forma isso estará impactando em sua saúde física e mental.

Com o tempo essa insatisfação se transforma em isolamento social, afinal, a busca interminável por algo que muitas vezes só existe na cabeça da própria pessoa acaba transformando-a em alguém que foge de ambientes públicos e de manter uma vida social, gerando problema em seus relacionamentos pessoais, onde a pessoa começa a ter vergonha do próprio parceiro.

“A falta de aceitação ou busca por uma melhoria corporal de forma saudável tem cobrado um alto preço nas pessoas atualmente. Precisamos entender que é um processo que leva tempo e trabalho, não existe mágica. Cerca de 35% das pessoas que fazem cirurgia bariátrica sofrem com reganho de peso, a mudança começa na mente, você pode tomar medicamento, fazer alterações físicas e cirúrgicas, mas se não mudar o jeito de se relacionar com a comida tudo isso será temporário. As redes sociais mal administradas se tornam um problema na vida de qualquer um, afinal, lá é um lugar onde todos são felizes, não existem contas atrasadas, estamos sempre comendo uma comida boa em um local agradável. É um mundo à parte, onde as pessoas não vivem, apenas visitam e deixam ali apenas um momento, “o melhor momento””, orienta Rodrigo Bravim, psicólogo e professor no curso de pós-graduação em Medicina do Esporte na Faculdade UNIGUAÇU.

O psicólogo ressalta que a vida registrada nas redes sociais é totalmente diferente da real, do dia a dia. “Ninguém compartilha contas, problemas, infelicidades, fotos onde não se sentem confortáveis ou bonitas. Isso sem contar os filtros utilizados: olheiras, cílios e maquiagens tudo virtual. E quando você tira os olhos da tela, com um filtro e se olha no espelho o que restou de você? Assim fica cada dia mais difícil que uma pessoa não busque a perfeição, e que não seja pecado acordar descabelada, com olheiras, de pijamas e meia na cama bagunçada com forros antigos, porque a influencer “fulana” postou seu bom dia, em uma cama com lençóis de fios egípcios com seu cabelo impecável e sua pele de pêssego. É difícil concorrer com isso e não se sentir feia, certo?”.

 

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