Estar na vanguarda da corrida
tecnológica e colher os benefícios do uso da Inteligência Artificial (IA)
integram as estratégias de negócios de empresas mundo afora nos últimos 16
meses – tendo o anúncio do ChatGPT pela OpenAI como o seu grande marco zero.
Porém, para isso, é preciso assegurar que um dos pilares de sucesso seja a
segurança digital de dados e informações, sob pena de danos catastróficos.
Assim como as empresas, criminosos cibernéticos também seguem a “hype” da IA.
A possibilidade do uso dessa tecnologia
para atacar sistemas embarcados em modelos como ChatGPT e o Gemini (da Google)
foi testada recentemente por pesquisadores da Cornell Tech (EUA). Em um
ambiente de testes, eles conseguiram, com o uso de uma “praga” cibernética de
IA Generativa (apelidada de Morris II, em referência ao worm
Morris, que criou caos em 1988), roubar dados e implantar malware ao longo do
caminho, propagando-se entre diferentes sistemas – no teste, ChatGPT e Gemini.
O ataque contra um assistente de e-mail foi realizado com êxito, permitindo o
roubo de dados e envio de mensagens de spam.
Tecnicamente falando, como um
desenvolvedor de longa data que sou, fiquei intrigado com a metodologia: os
pesquisadores da Cornell Tech recorreram ao chamado “prompt adversário
autorreplicante”, que aciona o modelo de IA Generativa para gerar, em sua
resposta, outro prompt. Desta forma, a plataforma de IA é instruída a produzir
um conjunto de instruções adicionais nas suas respostas, em um mecanismo muito
semelhante aos ataques tradicionais de injeção de SQL e transbordamento de
dados (buffer overflow), concluíram os pesquisadores.
Não foram poucos os relatórios de
tendências em tecnologia que, neste início de ano, colocaram a cibersegurança
no topo das prioridades para companhias dos mais variados tamanhos. Somente no
ano passado, 68% (quase sete em cada dez) ataques de cibercriminosos
registrados na América Latina aconteceram no Brasil, de acordo com um estudo
recente elaborado pela IBM, que monitorou cerca de 150 bilhões de eventos de
segurança por dia em mais de 130 países e regiões.
A IA Generativa, como evidenciou o
estudo da Cornell Tech, aparece como peça importante, tanto para equipe de TI
quanto para criminosos virtuais. Os temores em torno do potencial do mal uso da
IA não são injustificados: apenas 18% dos profissionais antifraude lançam mão
de ferramentas de IA e machine learning no seu trabalho, segundo levantamento
da Associação de Investigadores de Fraudes Certificados (ACFE).
Como diz aquele antigo ditado: copo
meio vazio então? Nem tanto. Agora, falemos do copo meio cheio da questão. De
acordo com o mesmo trabalho da ACFE (que ouviu 1.200 membros no final de 2023),
três em cada cinco organizações projetam aumentar o orçamento com tecnologias
de cibersegurança até 2026. Estamos falando de um mercado que, estima-se, pode
crescer entre US$ 200 bilhões e US$ 300 bilhões até o fim deste ano. Em resumo,
a urgência acerca deste tópico está clara e colocada.
Por tudo isso, podemos projetar, sem
medo de errar, 7 abordagens estratégicas centrais que unam o melhor da IA e da
cibersegurança em 2024:
1. A segurança digital
verá a adoção de modelos de linguagem especializados (Small Language Models, ou
SLMs) que fornecem insights mais personalizados, práticos e acionáveis para se
adaptarem rapidamente às ameaças virtuais em evolução. O treinamento de dados
em tempo real será a arma secreta, capacitando as equipes de segurança a se
adaptarem rapidamente ao cenário de ameaças em constante mudança.
2. O cenário das
ameaças cibernéticas já inclui hoje técnicas de IA mais sofisticadas, como
campanhas avançadas de phishing e deepfakes, para as
quais as organizações devem preparar-se – o uso de identidades falsas ganhou um
grande impulso com os chamados Grandes Modelos de Linguagem (LLMs). O cuidado
com os dados (sobretudo os mais centrais e essenciais) e o possível acesso a
bancos de dados (cibercriminosos seguirão tentando roubá-los e monetizá-los),
que permitam aos cibercriminosos maximizar os potenciais dados aos seus alvos,
é primordial, tanto no aspecto preditivo quanto no reativo. Os avanços da IA
Generativa nos permitem ainda concluir que haverá um aumento de escala no seu
uso por cibercriminosos já em 2024.
3. Por falar em dados,
um levantamento do Fórum Econômico Mundial revelou que o cenário de violação de
dados mundo agora cresceu 72% no ano passado, quando comparado a 2022. Como
esperado, grandes companhias de tecnologia, sobretudo as com muitos clientes,
tendem a ser alvos preferenciais dos ataques, o que pedirá ainda mais
indicadores-chave de desempenho para gerir e medir os riscos de maneira eficaz;
4. As novas
regulamentações irão carregar mais conhecimentos em segurança cibernética nas
salas de reuniões – sobretudo dos CIOs (diretores de segurança da informação)
para os demais executivos de maneira menos técnica e mais acessível –, além de
fomentar uma maior gestão estratégica de riscos e avaliação de perigos de
terceiros para aumentar a resiliência cibernética de empresas e negócios,
evitando lacunas de comunicação.
5. Como ponto
adicional ao item anterior, as adoções das chamadas Métricas Orientadas para
Resultados (ODMs, na sigla em inglês) e do Gerenciamento Contínuo de Exposição
a Ameaças (CTEM, na sigla em inglês) devem ser adotadas para melhor e maior
mensuração entre os investimentos em cibersegurança e os níveis totais de
proteção eficiente que eles geram. As ODMs podem ser consideradas chave para
uma defesa estratégica e compreensível para executivos que não integrem a área
de TI, enquanto o uso do CTEM, de forma pragmática e sistêmica, age em favor
das companhias nas áreas de acessibilidade e exposição de ativos digitais e
físicos.
6. Ataques aos
chamados terceiros (intermediários presentes em uma determinada cadeia de
abastecimento) seguirão sendo um alvo em potencial para os criminosos digitais.
Por isso, é necessário avaliar de forma constante as próprias práticas de
segurança, a fim de minimizar falhas também junto a fornecedores e demais
integrantes de todo um ecossistema.
7. Outro aspecto
relevante envolve o comportamento dos colaboradores. Uma cultura de
cibersegurança eficaz deve aumentar o foco na conscientização e melhor execução
de práticas eficientes que ajudem a reduzir os riscos no ambiente virtual. A
adoção de práticas de segurança centradas no aspecto humano é essencial,
diminuindo consideravelmente as chances de erros e maximizando o controle
associado ao comportamento, com menor insegurança e maior agilidade e eficácia.
Em um ano de eleições nos EUA e na Europa, além dos Jogos Olímpicos em Paris, os ambientes virtuais serão levados ao extremo com o uso da IA para ciberataques, de acordo com especialistas. Por isso, é importante seguir a máxima da proatividade em detrimento à mera reação. Os desafios são muitos e grandiosos, por isso é preciso tirar proveito de cada ferramenta e/ou nova tecnologia em favor de um futuro digital mais seguro.
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