Se não controlada, condição pode levar a graves consequências como acidente vascular encefálico e infarto agudo do miocárdio
Genética, sobrepeso, sedentarismo, desigualdade social. São diversos os fatores que contribuem para a prevalência da hipertensão arterial sistêmica no Brasil. Este quadro se torna ainda mais alarmante quando sabemos que, dos 36 milhões de brasileiros que vivem sob esta condição, somente 20% tem a sua pressão adequadamente controlada. Por isso, medidas de conscientização para o combate a este mal silencioso são de extrema importância.
Com o gancho do Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial,
celebrado em 26 de abril, a Inspirali, principal ecossistema de educação em
saúde do Brasil, convidou o seu embaixador na área de clínica médica, o Dr
Egídio Lima Doria, para esclarecer as principais dúvidas sobre o tema e
orientar sobre as principais medidas de prevenção. Confira:
O que é hipertensão?
R: A hipertensão arterial sistêmica é uma doença crônica não
transmissível caracterizada por valores persistentes de pressão sistólica
maiores ou iguais a 140mmHg e/ou pressão diastólica maiores ou iguais a 90mmHg.
Nestes níveis, os tratamentos medicamentoso e não medicamentoso determinam
benefícios que superam os seus riscos.
O que leva uma pessoa a ter hipertensão?
R: A hipertensão é uma doença de caráter multifatorial, ou seja,
diversos fatores que, isoladamente e em associação, contribuem para o seu
surgimento. Entre eles: Hereditariedade (genética): ter um ou mais parentes de
primeiro grau com hipertensão; Ambientais: dieta não saudável (rica em sódio e
pobre em potássio), sedentarismo e estar acima do peso adequado; Sociais:
estresse crônico determinado por inseguranças no emprego, moradia, baixa
educação e pouco acesso aos sistemas de saúde.
Quando
hipertensão é considerada grave?
R: Há relação entre os valores da pressão arterial e doenças cardiovasculares
e é gradual, ou seja, quanto maiores os seus valores, maior o risco de infarto
agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca, acidente vascular encefálico
(AVE), doença renal crônica e doença arterial periférica. Dados do DATASUS
mostram que mais de 28% das mortes no Brasil decorreram de doença
cardiovascular. Desses, a hipertensão esteve associada a 45% dos casos de
doença arterial coronariana e insuficiência cardíaca e 51% dos casos de
acidente vascular encefálico. A cada dois minutos, uma pessoa sofre um acidente
vascular encefálico ou um infarto agudo do miocárdio e em 80% desses óbitos por
AVE e 60% por IAM a hipertensão esteve presente.
Quais
são os sintomas?
R: A maioria das pessoas que apresentam hipertensão arterial
sistêmica são assintomáticas, por isso, mais da metade das pessoas com
hipertensão não sabem do seu diagnóstico, daí a sua gravidade. A maioria dos
sintomas decorrem da presença de lesões em seus órgãos alvo (coração, rins,
vasos) e das doenças cardiovasculares associadas. Não se deve esperar por
sintomas para se estabelecer o diagnóstico de hipertensão arterial, por isso o
rastreamento com verificações adequadas da pressão arterial deve ser efetuado
por todo profissional de saúde. Com o comprometimento desses órgãos, os pacientes
poderão apresentar dispneia (falta de ar); dor torácica; astenia (fraqueza),
cefaleia, edema de membros inferiores, dentre outros.
Quais
os riscos?
R: A hipertensão arterial sistêmica é o principal fator de risco
cardiovascular modificável. Um aumento no número de pessoas com hipertensão
tratadas adequadamente até 2050 poderia evitar 76 milhões de mortes no mundo.
Cerca de 120 milhões de AVE, 79 milhões de IAM e 17 milhões de casos de
insuficiência cardíaca poderiam ser evitados. Esses riscos serão aumentados se
as pessoas possuírem outros fatores de risco adicionais como tabagismo,
diabetes mellitus, obesidade, idade maior que 55 anos em homem e 65 anos em
mulher, hipercolesterolemia e histórico de doença cardiovascular precoce em
parente de primeiro grau.
Quais
os danos que a hipertensão pode causar?
R: A hipertensão arterial sistêmica afeta diversos órgãos em nosso
corpo, os chamados órgãos alvos da hipertensão arterial. Esses danos muitas
vezes são subdiagnosticados e estão associados a aumento do risco
cardiovascular. Entre eles podemos citar a hipertrofia ventricular esquerda,
rigidez arterial, retinopatia hipertensiva e a lesão renal (presença de
excreção aumentada de albumina). A presença de lesão de órgão alvo deve ser
levada em consideração na determinação do risco cardiovascular e
estabelecimento de plano e metas de tratamento. Além disso, esses danos estão
associados ao aparecimento de outras doenças crônicas que impactam
negativamente de forma significativa na expectativa e qualidade de vida das
pessoas, como insuficiência cardíaca, doença renal crônica, demência, doença
arterial periférica, doença arterial coronariana e fibrilação atrial.
Como
prevenir?
R: A prevenção é a estratégia mais eficaz e econômica para o
combate a essa doença perigosa e muitas vezes silenciosa. A mensuração adequada
da pressão arterial pelo profissional da saúde deve começar precocemente. Neste
cenário de prevenção primária, a abordagem dos fatores de risco para a
hipertensão arterial é fundamental. Assim, os seguintes fatores devem ser
contemplados: dieta saudável com redução do conteúdo de sódio e aumento do teor
de potássio; controle do peso; prática regular de exercícios físicos
(recomendado cerca de 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos de
atividade intensa semanal, cinco vezes por semana); controle da ingestão de
álcool: as taxas permitidas são de 30 g de álcool/dia = 1 garrafa de cerveja
(5% de álcool, 600 mL); ou 2 taças de vinho (12% de álcool, 250 mL); ou 1 dose
(42% de álcool, 60 mL) de destilados (uísque, vodca, aguardente). Esse limite
deve ser reduzido à metade para homens de baixo peso, mulheres, pessoas acima
do peso e com triglicerídeos aumentados. Pessoas que não bebem não devem
começar a beber; evitar o tabagismo e adotar medidas para controle e redução de
estresse
Quem
tem mais risco de ficar hipertenso?
R: As pessoas que apresentam o maior risco de desenvolverem
hipertensão arterial sistêmica são os mais idosos (65% das pessoas acima dos 60
anos apresentam hipertensão arterial); os com parentes de 1 grau com
hipertensão; homens em faixas etárias mais baixas tem maior risco e mulheres em
faixas etárias mais elevadas; pessoas das classes socioeconômicas mais baixas;
pessoas acima do peso; sedentários; os que consomem dieta rica em sódio e baixa
em potássio; os que consomem álcool em excesso e que apresentam apneia
obstrutiva do sono.
Qual
o tratamento adequado?
R: O tratamento adequado da hipertensão arterial sistêmica envolve
a adoção de medidas não farmacológicas por todos os pacientes e quando indicado
a introdução de medidas farmacológicas. O tratamento é individualizado de
acordo com os níveis pressóricos, risco cardiovascular, presença de lesões de
órgãos alvo e de outras doenças associadas. Os pacientes deverão ter um
seguimento periódico e metas deverão ser estabelecidas entre o paciente e a
equipe de saúde desde o momento inicial e reavaliadas periodicamente. A
abordagem multiprofissional é fundamental para obtenção dos melhores resultados
e envolve educação do paciente e familiar, apoio social, letramento e motivação
do paciente, envolvimento do paciente no automonitoramento da pressão arterial,
uso das tecnologias disponíveis e facilitação no acesso aos serviços de saúde.
Quando
procurar um médico?
R: O médico é profissional chave para o
diagnóstico e tratamento da hipertensão arterial sistêmica. O correto
diagnóstico através da utilização de material e técnica adequados é fundamental
para evitar casos de erros de diagnóstico e riscos subsequentes com exames posteriores
e tratamentos incorretos que prejudicam o paciente e utiliza de forma indevida
os recursos de saúde. A abordagem da hipertensão pode iniciar-se na atenção
primária e em casos específicos como hipertensão de difícil tratamento,
hipertensão resistente, suspeita de hipertensão secundária ou doenças
associadas encaminhar para a atenção secundária e mesmo terciária.
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