A Rússia chocou o mundo quando anunciou o lançamento do "Sputnik V", a primeira vacina contra a COVID-19 a ser comercializada em vários países na esperança de acabar com a pandemia que marcou 2020. Embora organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), tenham pedido cautela no seu uso e distribuição, a notícia marcou o início de uma corrida contra o tempo para garantir o fornecimento da medicação.
Claro, o país não é o
único que desenvolveu pesquisas para encontrar uma vacina contra o vírus.
China, Estados Unidos e Itália também informaram sobre o progresso que fizeram.
No Brasil, por exemplo, o Governo de São Paulo assinou um contrato com a
farmacêutica chinesa Sinovac que prevê o fornecimento de 46 milhões da vacina
Coronavac até dezembro de 2020 e outros 14 milhões até fevereiro de 2021.
Este cenário
representa uma tarefa clara e precisa: a responsabilidade das cadeias de
suprimentos. A rapidez com que conseguem levar o medicamento a todo o planeta
implica em um objetivo que ultrapassa qualquer finalidade comercial: o de parar
as infecções e salvar mais vidas.
Paradoxalmente, a
"corrida" para encontrar uma forma eficaz de imunização contra o
vírus tem levado o mundo a desenvolver essas vacinas em poucos meses quando,
normalmente, essa tarefa levaria de cinco a 18 anos apenas entre o
desenvolvimento de testes e pesquisas para seu lançamento no mercado.
Produzir uma vacina: O
primeiro desafio
Cerca de 35 empresas
especializadas e instituições acadêmicas em todo o mundo estão concentrando
seus esforços na busca de um medicamento eficaz contra a COVID-19. Após
extensos testes em laboratórios e com pacientes voluntários, avanços
importantes foram revelados.
Antes que a vacina
possa ser comercializada, é necessário a aprovação regulatória de agências de
saúde especializadas para validar sua aplicação e resultados na população;
enquanto isso acontece, deve ser garantida uma infraestrutura com capacidade
para produzir milhões de doses. Neste sentido, centenas de agências em todo o
mundo já estão se preparando para esta tarefa.
No entanto, até agora,
as vacinas que foram produzidas para outras doenças foram feitas com
medicamentos desenvolvidos ao longo de décadas. Agora, depois de apenas alguns
meses de pesquisa, as companhias farmacêuticas devem ter milhares de toneladas
de materiais, colaboradores e uma grande implantação de capacidade de
fabricação como nunca antes visto.
De fato, estima-se que
para derrotar a COVID-19 é necessário que pelo menos 60% da população mundial
esteja imune e, para isso, são necessários cerca de 4,7 bilhões de doses.
Para isso é necessário
ter tecnologia de ponta para tornar o processo produtivo eficiente, permitindo
visualizar e escolher os melhores fornecedores de insumos para o
desenvolvimento do medicamento. Mas não só: é preciso também promover uma
integração de todos os elos que participam de sua elaboração para que haja
clareza sobre seu papel e também o nível de otimização e antecipação de
disrupções que possam surgir durante este processo.
A sua distribuição: Tarefa para logística e
transporte
Mover uma vacina de um
ponto a outro envolve um esforço significativo. Por se tratar de um produto
perecível, o ideal é que a temperatura necessária para manter suas condições
varie entre 2 e 8 graus. Isso implica um dilema para as empresas farmacêuticas,
que devem ter veículos suficientes para transportá-las nessas condições.
Além disso, há outro
desafio: o de ter controles rígidos de embalagem e segurança nas
transferências. Por sua vez, também é necessário o transporte de suprimentos
médicos (como seringas) para sua aplicação, o que leva à articulação com
governos e fornecedores locais.
Logicamente,
hospitais, farmácias e postos de atendimento médico seriam os locais
prioritários para os quais a vacina teria de ser transportada. No entanto, o
verdadeiro desafio é chegar às áreas rurais com pontos de difícil acesso, o que
transcende as dificuldades de entrega da "última milha".
Felizmente, já existe
tecnologia para enfrentar esses desafios. O Digital Twin, por exemplo, é um
recurso útil para analisar as diferentes rotas de transporte para distribuição
com base nas fontes de contágio. Além disso, é uma ferramenta que permite
escolher fornecedores logísticos que atendam a toda as capacidades de
armazenamento para transportar o medicamento no estado desejado.
Países de clima
tropical, como o Brasil, enfrentarão grandes desafios devido as elevadas
temperaturas e a entrega na última milha, pois o País possui cidades e
comunidades de difícil acesso. Para tentar simplificar a logística da Coronavac
no Brasil, no acordo feito entre o Governo de São Paulo e a farmacêutica
Sinovac há uma cláusula de transferência tecnológica para o Instituto Butantan,
o que dá direito a entidade de fabricar doses da Coronavac, o que poderá
facilitar o processo logístico no País. Porém, como a Coronavac não é uma
vacina ‘comum’, ela precisará de operadores logísticos especializados.
Diante disso,
percebemos que o esforço coordenado entre governos, organizações e
farmacêuticas é o levará a uma distribuição global bem sucedida da tão sonhada
vacina contra a COVID-19.
Rafael Vasquez -
Vice-presidente Regional da LLamasoft, empresa especialista em soluções para
tomada de decisões estratégicas nos negócios.
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