Quando alcançamos certa idade mudamos nossos interesses. Um animalzinho no fundo do cérebro nos desperta a prestar atenção no sexo oposto. Nas civilizações primitivas, a chegada à maturidade era recepcionada por um ritual de passagem. Nesses cerimoniais, havia a despedida de um modo de estar na vida e a iniciação em outra maneira de vivê-la. Em homens, os sinais mais perceptíveis do estar pronto são voz grave e pelos; em mulheres, menstruação e seios.
Nas organizações tribais,
esse trânsito era rápido. Num dia o sujeito era criança, no outro, era feito
adulto. A aproximação natural dos corpos decorria unicamente da sua condição
bioquímica. Os rituais de acasalamento, se existissem, eram breves, e logo se
partia para os “finalmentes”, que podem ser traduzidos por procriação. Quando
havia “entretantos”, eram na forma de negociações de clãs, por trocas de
mulheres entre grupos. Os que iriam compartilhar o leito mal se conheciam.
O fazer a corte,
aproximar-se da família, comprometer-se, é coisa recente. A caminhada da
namoração. O próprio vocábulo é coisa moderna, surgiu no século 18, certamente
auspiciando o Romantismo, movimento intelectual e artístico de forte impacto na
cultura ocidental, renovador dos princípios estéticos que vigiam. Passou-se a
prestigiar o sentimento sobre a razão, a subjetividade sobre as regras sociais,
a imaginação sobre a conformidade. Veio o empenho em inspirar amor.
Na internet, significados
dispares: “Namorar é estar nas nuvens, deliciando-se com o olhar do ser
amado... Namorar é ter a alma enfeitada de laços e fitas...”
(ilove.terra.com.br); “O namoro é uma instituição de relacionamento
interpessoal [...] que tem como função a experimentação sentimental e/ou sexual
entre duas pessoas...” (pt.wikipedia.org/wiki/Namoro). A primeira é definição
que os apaixonados fazem do próprio estado de espírito; a segunda, uma visão
sociológica.
O mais das pessoas está
gostosamente perdido em devaneios, ou já teve seus prazeres e amarguras e olha
tudo com pretenso viés racional. Aliás, a dicotomia emocional versus racional é
tolice há muito revogada por Espinosa. Importa, enfim, dizer que o ato de
namorar foi convertido em valor social; muita gente sente-se mal se não tem um
par para ostentação. Não ter alguém para levar à praça, ao shopping, ou ao
restaurante é estar em deficit, consigo e com o mundo.
Bem, é ato pouco correto,
mas, como é caso acontecido, permitam-me contá-lo. Um conhecido meu vivia esta
situação. Não era feio, não era tolo. Tinha algum recurso, alguma formação,
sabia se apresentar. O que lhe parecia mais importante, todavia, não dava
certo: não conseguia “arranjar” uma namorada. A situação foi engraçada, virou
piada, causou pena. Os amigos armaram situações, apresentaram interessadas.
Nada. Os esforços convertiam-se em constrangimento.
Alguém lhe apresentou um
meio dos tempos atuais: www.arranjeumnamoro.
Alguma garantia e prêmios aos participantes. Tentou honestamente. Não deu.
Desânimo. Já não encarava os outros. Já não se encarava. Rasgos depressivos.
Até que veio a sugestão: contratasse uma. Não seria comum, mas não era de todo
mal. Ninguém saberia. Contratou. Foram à praça, ao shopping, ao restaurante. O
caso está sendo resolvido no Fórum do Trabalho. Processo pendente de solução.
Léo Rosa de Andrade
Doutor em Direito pela UFSC.
Psicanalista e Jornalista.
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