Atualmente, tem se falado muito sobre telemedicina em decorrência da pandemia de Covid-19. A maioria das pessoas acredita que se trata de uma tecnologia ou nova modalidade da medicina, mas devemos esclarecer que se trata de um método no qual o profissional do setor continua seguindo com sua responsabilidade, cuidado e ética no atendimento.
Seu
surgimento se deu oficialmente no fim dos anos 1960, nos Estados Unidos, quando
o Hospital Geral de Massachusetts foi conectado ao aeroporto da cidade de
Boston, com o objetivo de atender a qualquer emergência que ocorresse por lá. O
hospital, assim, receberia informações básicas de um indivíduo que tivesse com
um problema grave no aeroporto e precisasse ser levado de ambulância. Esse foi
um marco importante na história da telemedicina, tendo desencadeado tantos
outros no futuro.
Mesmo
antes desse período, durante a Segunda Guerra Mundial, o rádio foi utilizado
para conectar médicos que se localizavam nas estações costeiras aos que estavam
nos hospitais de retaguarda para buscar apoio. Via-se, então, as primeiras
manifestações desse tipo de serviço. Com o passar dos anos, a assistência aos
astronautas que estavam em órbita também foi feita pela telemedicina, com base
em informações como sinais e ritmo respiratórios, pressão arterial,
eletrocardiogramas e temperatura.
No
Brasil, a novidade desembarcou em 1985, como uma disciplina do curso de
informática médica, da Faculdade de Medicina da USP. Entretanto, foi só em 1990
que uma empresa privada passou a fazer diagnósticos de eletrocardiograma por
fax. Esse se tornou o marco da telemedicina no País, que mostrou ser viável a
realização de laudos à distância. Em 2002, foi criado o Conselho Brasileiro de
Telemedicina e Telessaúde, trazendo ainda mais força e credibilidade ao setor.
Mas
mesmo com a regulamentação do Conselho Federal de Medicina (CFM) o cenário era
incerto. A situação passou a mudar a partir da resolução 1.643 de 2002, que definiu as
boas práticas da telemedicina, como deveria ser a conduta do profissional e
quais recursos poderiam ser usados. Ao longo dos anos, o texto sofreu diversas
alterações, como a inclusão de consultas à distância. Em fevereiro de 2019, a
medida foi revogada por conta da pressão de conselhos de médicos.
Com
o avanço da pandemia, entretanto, o cenário mudou. Em 19 de março deste ano, o
CFM liberou, a partir da Portaria nº 467 do Ministério da Saúde, o uso de
tecnologia para realização de teleconsulta, telemonitoramento e teleorientação,
já que a necessidade era a de distanciamento social. Foi então que a
telemedicina teve um crescimento exponencial.
Ter
a possibilidade de atender aos pacientes de forma remota, sem o perigo de
expô-los à contaminação em uma sala de espera de consultório ou hospital, ou
prestar serviço aos moradores de locais distantes e sem acesso aos melhores
recursos da medicina, ajudou a popularizar a prática entre os médicos. Isso
permitiu que os atendimentos de casos de suspeita mais graves de COVID-19
fossem priorizados no presencial, e os atendimentos por outras causas e de
menor complexidade e emergência fossem realizados e solucionados de forma
remota, efetiva e mais rápida.
Uma
das principais vantagens da telemedicina é a ampliação da área de atendimento,
permitindo que pacientes de regiões onde a disponibilidade de especialistas é
limitada sejam beneficiados com o atendimento remoto. Outra mudança está no
relacionamento entre médico e paciente. Com o uso da tecnologia o contato
passou a ser facilitado, e é esperado um aumento na adesão do paciente ao
tratamento prescrito, já que ele se sente mais seguro e acompanhado.
Além
disso, a telemedicina tem ajudado na triagem inicial dos sintomas, o que afeta
diretamente o número de visitas a clínicas e hospitais, que acabam diminuindo.
Se o caso não for grave e não exigir a ida do paciente ao hospital, o médico
poderá fazer a indicação do tratamento e a prescrição da medicação necessária
de forma remota e segura.
A
troca de experiências entre os profissionais médicos, chamada 2ª opinião,
também tem sido facilitada com o auxílio da telemedicina. Ao dividir
experiências, os médicos melhoram o prognóstico, aumentando o grau de
recuperação de seus pacientes.
Mas
nem tudo são flores. Um dos pontos críticos para a democratização da
telemedicina está nas restrições tecnológicas. Para que seu uso seja
bem-sucedido é necessário um dispositivo móvel, ou celular, com requisitos
mínimos e uma boa conexão com a internet. No entanto, nem todo mundo tem à disposição
uma conexão de banda larga de qualidade. Ainda, digitalizar um consultório é
tarefa que demanda certo empenho, pois além de adotar tecnologia, é preciso
treinar a equipe e estruturar novos processos. Esse passo tem sido um pouco
mais desafiador, mas temos que acreditar na evolução e que a tecnologia, desde
que de fácil uso, tanto para os profissionais de saúde quanto pacientes,
permita um atendimento de conduta segura e responsável.
Com
os avanços da tecnologia e a necessidade de se ter um melhor atendimento,
principalmente em regiões menos favorecidas, acredito que a telemedicina veio
para ficar. Ela será responsável por uma revolução silenciosa na área da saúde,
levando um serviço de qualidade a quem realmente precisa. Em especial no
pós-pandemia, a expectativa é que esse formato apresente aos pacientes outras
ferramentas para modernizar as consultas - a exemplo da oximetria, da medição
do pulso, da frequência cardíaca e até da temperatura, que podem ser aferidos
de forma remota e, com o auxílio de análises de dados baseados em evidências e
históricos correlacionados, vão trazer o apoio à decisão clínica e sugestões de
melhor coordenação do cuidado do paciente. Será questão de tempo para que as
primeiras manifestações cheguem ao nosso conhecimento e impactem nossa relação
com os profissionais da saúde.
Desde a 2ª guerra mundial, são 74 anos
que a telemedicina vem se modernizando e se revelando necessária a cada década
de nossa história, e hoje, mais do que nunca, tornou-se uma aliada
indispensável para ajudar nessa guerra contra o novo Coronavírus, minimizando
os impactos da importância do isolamento e melhorando a experiência e a
qualidade dos atendimentos médicos no Brasil e no mundo.
Gustavo Marui - Arquiteto de Soluções
em saúde da Logicalis
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