Estudos revelam risco maior para déficit de atenção, depressão e hiperatividade, além de impacto na qualidade de vida de familiares
O dia 23 de
setembro é lembrado como Dia da Conscientização da Dermatite Atópica, doença causada
por um desbalanço na resposta imunológica e que afeta de 10% a 20% das crianças
em idade escolar, podendo contribuir no comprometimento da aprendizagem,
dificuldades sociais, familiares e ainda levar a mudanças de humor e
personalidade[i],[ii].
A doença
apresenta graus que variam entre leve, moderado e grave. Os casos moderados e
graves são os que causam maior impacto físico e emocional para os pacientes,
independentemente de sua idade. Tal impacto está relacionado as lesões vísives
na pele, como também ao prurido e suas consequências, como distúrbios do sono[iii],[iv],[v],[vi].
Uma pesquisa
realizada com pacientes de 5 a 16 anos, de um serviço de Dermatologia da região
sul do Brasil, avaliou crianças e adolescentes, sendo que 30% deles possuíam
dermatite atópica como diagnóstico nas consultas dermatológicas. Aqueles que
possuíam alguma doença crônica, como é o caso dos diagnosticados com a DA,
tiveram 2,5 vezes mais a qualidade de vida impactada, sendo a esfera dos
sentimentos e das relações pessoais a mais afetada[vii].
“A coceira
é o principal sintoma da dermatite atópica. Ela muda a aparência da pele,
gerando possíveis transtornos de autoestima, bullying e redução da
socialização. Além disso, é extremamente desconfortável, sendo capaz de afetar
o sono também dos familiares responsáveis pelas noites da criança”, explica
Mayra Ianhez, médica dermatologista e professora da Universidade Federal de
Goiás (UFG). Estudos revelam que distúrbios do sono associados atingem até 60%
das crianças com dermatite atópica, chegando a 83% durante as crises da doença[viii].
Pais e
cuidadores dessas crianças diagnosticadas com DA também são impactados. A falta
de sono que atinge os pais pode até ser comparada com a de familiares de
crianças autistas ou que têm convulsões[ix].
Segundo
a dermatologista, os pais da criança com dermatite atópica têm sentimentos de
exaustão, frustração, desamparo e culpa. Há maior probabilidade de
instabilidade no casamento e também no relacionamento com outros entes
familiares. “Há um ciclo de consequências para os pais também, pois se ausentam
mais do trabalho, têm menos atividades sociais, se estressam mais com o cuidado
com a criança e têm mais desafios relacionados à disciplina”, destaca.
Perder a
qualidade de sono já é algo esperado para pais de crianças pequenas, mas isso é
amplificado quando as mesmas apresentam dermatite atópicaix. O
cuidado durante a noite com o filho pode ser bem complexo, ainda que consigam
fazê-lo pegar novamente no sono após a crise de pruridoix. Cerca de
41% dos pais disseram continuar acordados mesmo após a criança voltar a dormir,
resultando em perda de sono de 1 a 3 horas por noiteix.
A doença e
o tratamento
A dermatite
atópica é uma doença crônica e com predisposição genética, causada por uma
resposta exagerada do sistema imunológico, chamada de Inflamação Tipo 2iii,iv,v. Na prática, o paciente
predisposto geneticamente e com fatores ambientais que propiciam a piora da
doença - tais como ressecamento da pele e o contato com substâncias irritantes
ou alergênicas - ativa uma reação inflamatória [x]
Mais de 50%
das crianças afetadas podem ficar livres da doença ao longo do tempo,
entretanto, a outra metade pode evoluir com a doença na idade adulta,
especialmente para os casos mais graves e se for acompanhada de outras doenças,
como a asma e a rinite alérgicax. Para os casos crônicos e
recorrentes, esquemas terapêuticos apropriados para a gravidade de cada
paciente devem ser seguidos[xi].
O cuidado
mais básico e indicado para todos os casos, de leves a graves, é a hidratação
da pele. Essa medida simples promove a umidificação da sua camada mais externa
estabilizando-a como barreira protetorax. Além das
medidas de cuidados básicos, o médico pode ainda receitar tratamentos tópicos
ou sistêmicos, incluindo corticoides, fototerapia, imunossupressores e
medicamento biológico, conforme a gravidade da doença.
[i]
Associação de Apoio à Dermatite Atópica. Cartilha À Flor da Pele. Disponível
em: https://www.aada.org.br/pdf/aada-flor-da-pele.pdf. Acesso em Agosto, 2020.
[ii]
Loney T, Standage M, Lewis S. Psychosocial Effects of Dermatological-related
Social Anxiety in a Sample of Acne Patients. J Health Psychol. 2008;13:47-54.
[iii]
Eichenfield et al. Guidelines of Care for Atopic Dermatitis. J Am Acad
Dermatol. 2014;70(2):338-51.
[iv]
European Dermatology Forum. Guideline to treatment. Available at:
http://www.euroderm.org/edf/index.php/edf-guidelines/category/5-guidelines-miscellaneous?download=36:guideline-treatment-of-atopic-eczema-atopic-dermatitis.
Accessed December 2016.
[v]
Gelmetti and Wolleberg. Atopic dermatitis- all you can do from the outside. Br
J Dermatol. 2014;170 Suppl 1:19-24.
[vi]
National Institutes of Health (NIH). Handout on Health: Atopic Dermatitis (A
type of eczema) 2013. Available at:
http://www.niams.nih.gov/Health_Info/Atopic_Dermatitis/default.asp. Accessed
October 2016.
[vii]
Weber MB, Lorenzini D, Reinehr CP, Lovato B. Assessment of the quality of life
of pediatric patients at a center of excellence in dermatology in southern
Brazil. An Bras Dermatol. 2012;87(5):697-702.
[viii]
Na CH, Chung J, Simpson EL. Quality of Life and Disease Impact of Atopic
Dermatitis and Psoriasis on Children and Their Families. Children (Basel).
2019;6(12):133.
[ix]
Yang EJ, Beck KM, Sekhon S, Bhutani T, Koo J. The impact of pediatric atopic
dermatitis on families: A review. Pediatr Dermatol. 2019;36(1):66-71.
[x]
Torres T, Ferreira EO, Gonçalo M, Mendes-Bastos P, Selores M, Filipe P. Update
on Atopic Dermatitis. Acta Med Port. 2019;32(9):606-613.
[xi]
Sociedade Brasileira de Dermatologia. Disponível em:
https://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e-problemas/dermatite-atopica/59/.
Acesso em Março, 2020.
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