Mas e as crianças?
Como está sendo para elas essa nova realidade? E para os pais que agora se veem
cada vez mais inseridos nos estudos dos filhos? Simplesmente largar a criança
ou adolescente em frente ao computador e esperar que eles aprendam é
producente?; E quanto às crianças e adolescentes com problemas de aprendizagem?
Alunos com TDAH já apresentam dificuldades em se concentrar em uma aula
presencial, o que dizer de uma aula virtual onde há muito mais distrações e
formas de se perder o foco?
De uns tempos para cá, um novo conceito, aliado à
tecnologia, foi inserido na vida dos que desejavam cursar o ensino superior: o
EAD, ou ensino a distância. A maioria das faculdades, hoje em dia, apresentam a
opção de se estudar em casa, online, ou de ter aulas presenciais. No entanto,
mesmo cursos presencias inserem um ou dois dias de EAD durante a semana. É bom?
É ruim? Cada um tem uma opinião diferente. O fato é que a tecnologia veio para
ficar e precisamos nos adaptar a ela.
Hoje, com a ameaça do Covid-19 e a quarentena, a
tecnologia provou que o futuro talvez esteja mais próximo do que se imagina. Trabalhar
em home office, estudar em casa, fazer compras pela internet, enfim, a
tendência é que as pessoas se isolem cada vez mais no conforto e segurança do
seu lar.
Mas e as crianças? Como está sendo para elas essa
nova realidade? E para os pais que agora se veem cada vez mais inseridos nos
estudos dos filhos? Simplesmente largar a criança ou adolescente em frente ao
computador e esperar que eles aprendam é producente?
Desde março deste ano, as escolas fecharam e não há
previsão para que abram. Essa nova rotina impõe dificuldades e desafios maiores
do que o imaginado. O isolamento social criou um conceito de ensino como
solução temporária para dar continuidade às atividades pedagógicas e minimizar
os impactos da aprendizagem: o ensino remoto. A estrutura do ensino remoto não
é a mesma do EAD como tecnologia, recursos utilizados, interação com o
professor, videoconferência, material de ensino e outros, uma vez que seu
objetivo é contingente. Será?
Para os professores, essa nova experiência requer
muita criatividade, muito mais empenho e maior dedicação. São verdadeiros
heróis e, embora sempre tenham sido, agora, mais do que nunca, demonstram o seu
talento e comprometimento. Alguns precisam utilizar laboratórios
virtuais, simulações, videoaulas. Precisam criar interesses e estratégias de
forma que as aulas sejam mais eficientes e o aluno se sinta motivado a estudar
e aprender, mesmo a distância. A carga horária desses profissionais aumentou
muito e seus esforços dobraram. Alguns professores chegam a ficar tensos,
sabendo que os pais estão acompanhando as aulas e se preocupam não só em
ensinar os alunos como em satisfazer aos pais que poderão julgá-los.
Para os pais, a tarefa não é menos árdua. As mães
que antes já tinham uma carga de trabalho triplo, revezando entre o cuidado com
filhos, casas e emprego, agora ainda enfrentam uma nova missão: estudar com os
filhos. As crianças, principalmente, precisam que os pais desempenhem diversas
funções que eram exclusivas dos professores. Quanto mais nova a criança, maior
a participação dos pais, que passam a ser os braços e pernas dos docentes.
E quanto aos jovens alunos? Como está sendo
esta experiência para eles? Certamente o aprendizado é muito diferente. As
crianças e os adolescentes ficam mais livres, desligam a câmera, assistem às
aulas, mas, ao mesmo tempo, conversam com os colegas, assistem ao Netflix,
dispersam-se facilmente e precisam de mais disciplina para aprender.
As opiniões variam entre os pais. Alguns afirmam
que o ensino piorou, que não há aulas suficientes e que o aprendizado está bem
inferior. Outros dizem que as escolas estão passando mais atividades, estão
sobrecarregando os alunos para compensar a possível deficiência de uma aula
virtual. Existe, também, uma preocupação com o tempo excessivo que os filhos
passam em frente ao computador.
Alguns alunos, segundo pais e professores, se deram
muito bem com essa nova forma de estudar. Outros, no entanto, não conseguiram
se adaptar. Não fazem o que é necessário, não conseguem se organizar, deixam as
tarefas se acumularem e acabam ficando sobrecarregados e perdidos.
E quanto às crianças e adolescentes com problemas
de aprendizagem? Alunos com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade
(TDAH) já apresentam dificuldades em se concentrar em uma aula presencial, o
que dizer de uma aula virtual onde há muito mais distrações e formas de se
perder o foco? Em um ambiente presencial o professor tem mais condições de
acompanhar seus alunos, o que não ocorre no ensino remoto. Assim, cabe aos pais
suprir a dificuldade que seu filho apresenta na hora de aprender.
Hoje diversos neurocientistas defendem mais aulas
com menos duração e intervalos entre elas, para que o cérebro consiga aprender
mais efetivamente. No caso de crianças e adolescentes com TDAH, principalmente,
a curva de aprendizagem poderia melhorar. Como essa não é uma realidade em
nossas escolas, uma vez que vários outros fatores precisam ser considerados, a
solução temporária, especialmente no isolamento, seria incentivar o filho a
focar sua atenção em pelo menos 15 minutos de uma vez e recompensá-lo pelo
esforço nos intervalos, que podem ser de cinco minutos.
Enfim, estamos todos vivendo uma nova experiência e
quanto antes nos adaptarmos a ela, melhores resultados teremos.
No entanto, nem tudo é negativo.
Os adolescentes aumentaram o grau de independência
e aprendizado dentro de casa, inclusive nas tarefas domésticas. A autonomia
aumentou. Precisaram ficar mais familiarizados com o mundo digital. Até mesmo
com o contato digital entre os amigos. Aprenderam sobre flexibilidade e
adaptação. Sobre disciplina e autonomia.
Pais que passavam muito pouco tempo com as
crianças, agora precisam interagir mais com os pequenos, entrar em seu mundo
infantil como era antigamente, participar mais das brincadeiras e auxiliar na
criatividade e curiosidade da criança, não apenas nos fins de semana, mas todos
os dias.
Bom ou ruim, melhor ou pior, o fato é que a
realidade de hoje é essa. É preciso se adaptar e tirar o melhor da situação. É
preciso reaprender a aprender. Afinal, quem garante que esse não será o nosso
futuro? Só o tempo dirá.
Lucia Moyses - psicóloga, neuropsicóloga e escritora. Em 2013, a autora lançou seu primeiro livro “Você Me Conhece?” e dois
anos depois o livro “E Viveram Felizes Para Sempre”, ambos com um enfoque em relacionamentos humanos e psicologia. Três
anos após a especialização em Neuropsicologia, Lucia lançou os três primeiros
livros: “Por Todo Infinito”, “Só por Cima do Meu Cadáver” e “Uma Dose Fatal”, da coleção DeZequilíbrios. Composta por dez livros
independentes entre si, a coleção explora a mente humana e os relacionamentos
pessoais. Cada volume conta um drama diferente, envolvendo um distúrbio
psiquiátrico, tendo como elo o entrelaçamento da vida da personagem principal. Em 2018, a psicóloga lançou mais três livros:
“A Mulher do Vestido Azul”, “Não Me Toque” e “Um Copo de Veneno”,
totalizando seis livros da coleção. Em 2020, Lucia, lança o livro "A
Outra".
Linkedin: linkedin.com/in/lucia-moyses-b8449849
Instagram:
@Lucia.moyses
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