No momento em que muitos se preparam para
retornar ao ambiente físico da empresa após um período de quarentena, sabemos
que a experiência de trabalhar em um escritório ou outro local compartilhado
não será a mesma durante algum tempo.
Algumas organizações estão redesenhando seus
escritórios para assegurar o distanciamento físico e evitar aglomerações.
Muitas empresas exigem o uso de máscaras durante todo o horário de trabalho, ou
o posicionamento detrás de telas de acrílico.
Outras medidas são ampliar os arranjos de
teletrabalho, ou, de acordo com as configurações de cada ambiente, revezar
equipes fisicamente presentes em dias ou horários alternados. O fato é que, até
que uma vacina esteja disponível em larga escala, nossa convivência com colegas
e clientes se dará de forma diferente.
Este não é exatamente um momento de retorno,
e sim de mudança. Não será como voltar das férias, mas também não como mudar de
emprego. Não previmos a pandemia, e as estimativas quanto às consequências que
ela traria são derivadas de múltiplas interpretações. Para encontrar o novo
caminho do sucesso e da performance, nossos maiores aliados serão o senso de
compromisso, a tolerância, a empatia e a ética.
Algumas condutas podem ajudar nessa
adaptação, e se cada um fizer a sua parte, poderemos avançar nos projetos e
manter a continuidade das relações profissionais e a satisfação no trabalho sem
colocar a saúde em risco.
1.
A
ameaça ainda existe
A pandemia não está definitivamente
controlada, e, portanto, ao retornar a algumas rotinas antigas, é importante
permanecermos atentos às orientações das autoridades de saúde e às políticas de
cada empresa ou edifício. Enquanto persistir a recomendação de distanciamento
social, manter a distância de pelo menos um metro entre pessoas ajudará a
evitar o contágio. Não se ofenda se alguém decidir, por exemplo, não entrar
no elevador com você – respeite as regras e a necessidade de cautela de cada
um. Rebelar-se contra as determinações do empregador ou de locais visitados
revelará imaturidade, descuido e descaso com o outro.
2.
Como
praticar a gentileza sem correr riscos?
Ainda não chegou o momento de nos
aproximarmos fisicamente ou nos cumprimentar com aperto de mão, abraço e o
beijinho no rosto que caracteriza alguns contextos. Enquanto isso, para saudar
os colegas, um sorriso, a mão sobre o coração e palavras afáveis são sinais
inequívocos de polidez e do prazer em rever alguém. Usar o telefone
com mais frequência para contatar as pessoas, ao invés de confiar
exclusivamente em mensagens escritas, ajudará a retomar as relações neste momento
em que muitos ainda vivem a insegurança e tristeza pelo tempo passado em
isolamento, e possivelmente pela enfermidade ou perda de alguém querido.
3.
Crie
uma lista de prioridades
Ao retornar ao escritório, faça um
levantamento de tarefas e documentos que porventura ficaram sem atenção. Crie
uma lista de prioridades de acordo com a importância ou urgência de cada um
deles. Cheque o seu histórico de mensagens e e-mails para verificar se
alguma solicitação ficou sem resposta nesse período; sendo o caso, desculpe-se
e prepare a resposta aguardada assim que possível. Use cautela ao cobrar
resposta de outros e suspenda o julgamento até conhecer sua situação
específica.
4.
E
se nem todos voltaram ao ambiente físico?
Se você retornou ao escritório, mas tem
colegas, clientes ou fornecedores em outras localidades, eles podem não estar
no mesmo ritmo. Além disso, para alguns, o trabalho em casa foi mais produtivo;
para outros, menos. Procure entender a realidade de cada um e coordenar os
melhores horários e meios para cumprir tarefas interdependentes, a fim de que
todos tenham a chance de contribuir com o seu melhor.
5.
Cuidado
consigo e com os outros
Ainda que as organizações tenham
intensificado os procedimentos de limpeza do ambiente, evitar o risco deve ser
responsabilidade de todos: não deixe seus pertences espalhados, e procure
higienizá-los periodicamente. Evite ceder ou tomar emprestado qualquer
utensílio ou material que não seja de uso comum. Os de uso comum devem ser
higienizados com ainda mais frequência. Mantenha o asseio e as práticas
saudáveis; caso presencie alguém violando as recomendações de precaução,
gentilmente lembre-o das condutas que protegerão a todos.
6.
Tenha
comprometimento e empatia
A volta ao ambiente comum pode provocar
reações conflitantes. Aqueles que não se adaptaram à rotina de teletrabalho
verão o retorno ao escritório como um alívio, uma volta para (a segunda) casa.
Outros, que já eram a favor da ideia ou acabaram se surpreendendo positivamente
com o trabalho remoto, poderão ficar decepcionados ao enfrentar o trânsito
costumeiro para chegar ao escritório, ou encontrar dificuldades para lidar com
filhos que se acostumaram a ter os pais ali pertinho. Ter empatia para
compreender as impressões e sentimentos de cada um é importante.
7.
Privacidade
e confidencialidade
A saúde de cada um não deve ser assunto de
todos. É fundamental manter a discrição e respeitar a privacidade dos colegas.
Deixe que a empresa e as autoridades de saúde façam o seu trabalho no que tange
à notificação de doenças. Caso não concorde com as políticas estabelecidas
pelo empregador ou observe comportamentos antiéticos, utilize-se dos canais
apropriados para oferecer reclamações ou sugestões – sem fofoca.
8.
O
que a alta gerência deve ter em mente ao projetar as novas configurações?
Para estabelecer as condições da volta ao
ambiente comum, a colaboração entre departamentos é fundamental, a fim de
respeitar a prioridade de funções e tarefas e entender quais dependem de horários
específicos; para além das configurações do espaço, algumas funções podem se revelar
aptas a serem exercidas totalmente fora do ambiente compartilhado. Por outro
lado, se a empresa tem escritórios espalhados por diferentes cidades ou países,
será preciso incorporar as diversas realidades locais ao desenhar as novas
regras.
9.
Como
líder, como posso motivar minha equipe neste período ainda delicado?
A competência do momento será a de change
management. As rotinas de avaliação, necessidades de colaboração, e
oportunidades de mentoria e aprendizado, que já haviam sido adaptados para o
ambiente virtual, possivelmente exigirão uma nova adaptação, para ocorrerem em
um ambiente “híbrido”. É importante que os liderados sejam incluídos nas
discussões e tenham clareza quanto aos processos decisórios, para que sua
realidade seja fielmente retratada, e expectativas não sejam construídas sobre
falsas premissas. Líderes devem manter a seriedade, demonstrar resiliência,
e ter sensibilidade em relação à situação particular de cada membro da equipe
frente à pandemia.
Viviane
Vicente - Consultora de Comportamento Organizacional e Competência Cultural e
Fundadora da Rispetto Consulting - uma empresa de consultoria projetada para
ajudar indivíduos e organizações a navegar no mundo globalizado e aprimorar seu
potencial de liderança.
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