Carolina Ferraz faz uma análise dentro de estudos
da semiótica e da psicanálise sobre a relação dos objetos e os sentimentos
Criados sob a cultura do “Felizes para sempre”,
quando terminamos um relacionamento experimentamos a sensação de fracasso.
Independentemente se vivemos momentos alegres ou de quem partiu o término.
Os objetos que trazemos dessa relação - cartas,
presentes, lembranças de viagens - tornam-se amargos num primeiro momento
porque representam “o que não deu certo” e escancaram a frustração, mas aos
poucos - com a elaboração do sentimento - entendemos que são parte do nosso
aprendizado.
Por isso, recomendo que ao término da relação
retire os objetos de vista e coloque em uma caixa de difícil acesso. Não jogue
fora porque a intensidade do sentimento atrapalha nosso poder de decisão e
quando terminamos um relacionamento de muito tempo - ou muito intenso -
precisamos de tempo para separar o nosso “eu” do “outro”. É um momento de
revisão de rotinas, hábitos e até amizades.
Quando isso estiver estabelecido - geralmente
umas semanas são necessárias - encare a caixa novamente. Primeiro avalie o que
não faz mais sentido, desapegue de objetos que não gosta e mantenha objetos que
te trazem apenas sentimentos bons. É importante dizer que só podemos desapegar
do que é nosso. Itens compartilhados devem ser discutidos e os que são da outra
pessoa, devolvidos.
É provável que você se desfaça de muita coisa
nesse momento, já que as emoções não estão mais à flor da pele, mas às vezes,
mais visitas são necessárias com o passar do tempo.
Claro, a decisão de manter ou não um objeto
depende muito do tipo de relação que atravessamos. No caso das sadias,
conseguimos desassociar, já em relacionamentos que envolvem abuso ou violência
física ou mental os itens podem desencadear sofrimento psíquico e emocional.
Casos como esses muitas vezes precisam de um
ritual de encerramento - algumas pessoas passam por experiências tão
traumáticas que só a destruição do objeto é capaz de abrir caminho para o novo.
Outras pessoas precisam dar um novo propósito a ele. É uma forma de entender
que algo de bom foi tirado daquela relação. Nesse caso, a doação para projetos
sociais é uma boa opção. Caso a pessoa seja acompanhada por um psicólogo ou
psicanalista é interessante levar o assunto para o divã para entender o momento
específico que ele simboliza.
Uma mulher que passou pelo processo comigo e
vivenciou uma relação abusiva apelidou as coisas que encontrava do ex como
Horcrux - uma referência à magia dos livros de Harry Potter, em que o bruxo do
mal guardava sua alma em objetos - A analogia é ótima para entender que eles
carregam e representam sentimentos e o que antes era alegre, pode não ser mais
e muitas vezes assombrar o presente e o futuro.
Isso não significa que precisamos nos desfazer de
tudo. Alguns presentes muitas vezes representam tanto nossa personalidade,
experiências e anseios que o fato de ser dado por um ex não faz a menor
diferença e cai no esquecimento frente à representação do nosso eu. Manter uma
foto ou outra e até algum bilhete também não significa que estamos apegados ao
relacionamento - pode ser só uma forma de ter uma memória física do que
passamos.
Não é porque o
relacionamento teve fim que conseguimos ou precisamos apagá-lo completamente da nossa história, afinal os aprendizados que
tivemos com essa relação é o que aguça e lapida nosso olhar para que possamos
nos encontrar ou encontrar alguém para partilhar o futuro.
@ondeeudeixei
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