Quem de nós já não tentou ajudar uma criança da
família, em casa, e não avançou um centímetro, diante da célebre frase: “mas a
professora disse que é assim!”? Benditas palavras da professora. Será que
essa professora tem a real dimensão da potência da sua palavra? Compreende de
fato o “poder” para o bem ou para o mal que emana da sua fala? Que, dependendo
da situação, será bem-DITA ou mal-DITA?
Equalizo a potência das palavras proferidas à das
sementes lançadas, que podem crescer mesmo quando o agricultor dorme. Portanto,
quando bem-DITAS, têm a potência de fertilizar; todavia, quando mal-DITAS,
podem aniquilar. Entretanto, há como desenterrar sementes, replantar. Já
desdizer é algo mais complexo e profundo. Nunca teremos a certeza que, de fato,
apagamos o mal entendido.
Pensar antes de falar tem muito sentido e nos evita
muitas situações complicadas. Montaigne defende que as palavras pertencem
metade a quem fala e metade a quem ouve. Logo, não temos poder sobre o
entendimento das mesmas, em relação a quem nos ouve, quer por imperícia nossa
ou do receptor. O que podemos afirmar é que as palavras não são levadas pelo
vento, ficam presas em nossa mente e em nosso coração - sejam elas bem ou mal
ditas.
Talvez seja pela importância que a palavra tem
entre nós que o registro bíblico da criação se fez por meio dela. Deus poderia
ter criado todas as coisas, por meio de um sopro, de um pensamento... mas não:
foi proferindo palavra por palavra. E mais: o verbo se fez carne e habitou
entre nós, seu filho único. A palavra é o cerne da criação.
Diz-se que a boca fala daquilo que o coração está
cheio. Humanizamos pela palavra e, por meio dela, defendemos o direito do ser
humano na sua integralidade, a fim de que o espaço da dignidade não seja
extorquido de nenhum cidadão. Em uma de suas composições, Renato Russo
registrou, de forma contundente: “palavras cortam mais do que as facas. Elas
não perfuram a pele, rasgam a alma”.
A escola deve ser, por excelência, um templo de
qualificação humana, pois, ao garantir o direito de aprender, constrói sentido
ético e estético para a palavra, expandindo-a na comunicação. Afinal, todo ato
pedagógico é um ato de comunicação. E a comunicação está mais nas entrelinhas
que nas linhas. Sua ressonância é mais subjetiva que objetiva.
Acedriana Vicente Vogel -
diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.
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