Imunização no cuidado do paciente com câncer
Além do benefício de proteger pacientes que já têm câncer, há duas
vacinas que previnem o desenvolvimento de tumores
Em 9 de junho, é
celebrado o Dia Nacional da Imunização. E afinal, pacientes com câncer devem se
vacinar? Segundo Leonardo Roberto da Silva, oncologista do Grupo SOnHe – Sasse
Oncologia e Hematologia, os pacientes oncológicos estão sob risco de infecções
graves, não apenas pela baixa de imunidade causada pelo tratamento, mas também
pela desnutrição e debilidade causadas pela doença. “A prevenção de infecções é
de extrema importância para esses pacientes, já que reduz o risco de complicações
durante e após o tratamento. Mas o benefício da vacinação vai além da
prevenção, pois existem duas vacinas disponíveis atualmente que também garantem
proteção contra o desenvolvimento de câncer: a de hepatite B e a do HPV”,
afirma.
De acordo com o
oncologista, os pacientes com diagnóstico de câncer devem seguir as mesmas
recomendações de vacinação aplicadas para a população geral. “No entanto,
existem algumas particularidades referentes aos tipos de vacina e ao melhor
momento em que elas devem ser aplicadas. Sempre que possível, devem ser
administradas antes do início da quimioterapia”, explica.
Mas o médico
alerta que há algumas contraindicações. “As vacinas vivas, que são produzidas
com vírus e bactérias atenuados, ou seja, enfraquecidos, podem causar
complicações infecciosas em pacientes que estejam com o sistema imunológico
comprometido. Por isso, não são indicadas para pacientes que estão em
tratamento com quimioterapia. Quando necessárias, devem ser administradas pelo
menos quatro semanas antes do início do tratamento ou pelo menos três meses
após o término. Já as vacinas inativadas, com bactérias ou vírus mortos, ou
parte deles, não sendo capazes de causar doença, podem ser administradas
durante a quimioterapia. No entanto, sabemos que nessa situação elas podem não
ser tão eficazes. Se possível, devem ser administradas pelo menos duas semanas
antes do início da quimioterapia, ou pelo menos três meses após o final do tratamento”,
indica
A vacina contra
influenza/H1N1 (gripe) é inativada e, segundo o oncologista, deve ser
administrada aos pacientes em tratamento com quimioterapia e/ou radioterapia.
Além disso, recomenda-se também imunizar os familiares que vivem no mesmo
domicílio. “O único grupo de pacientes que deve evitar a vacinação contra gripe
é aquele que recebe tratamento com anticorpos anti-células B (por exemplo,
rituximabe), pois esse tipo de tratamento compromete muito a função dessas
células, as quais são responsáveis por produzir os anticorpos em resposta à
vacina. Quando um paciente em quimioterapia vai se vacinar contra a gripe, não
sabemos qual o melhor momento em que ela deve ser feita. No entanto,
recomenda-se que a vacina seja aplicada cerca de uma semana após o início do
ciclo de tratamento”, recomenda.
Vacina como
prevenção do câncer
De acordo com o
Dr. Leonardo, há duas vacinas que protegem contra infecções crônicas que estão
associadas ao desenvolvimento de câncer. Uma delas é o imunizante contra a
hepatite B. “A hepatite é uma inflamação do fígado que pode ser causada por
diversos tipos de vírus, sendo um deles o vírus B. A infecção pelo vírus B pode
se tornar crônica, principalmente quando ocorre em idade muito jovem. Por isso, a vacina contra hepatite B está inserida no
calendário vacinal já no primeiro ano de vida. A hepatite crônica pelo vírus B
está associada ao aumento do risco de câncer de fígado, chamado de carcinoma
hepatocelular. Assim, a vacinação contra a hepatite B tem o potencial de
proteger contra o desenvolvimento desse tipo de câncer”, explica.
A outra vacina
preventiva contra o câncer é contra o papilomavírus humano, o HPV. Trata-se de
um grupo de mais de 100 tipos de vírus, que podem causar diferentes tipos de
infecção, como verrugas genitais e também nas vias aéreas. No entanto, sabe-se
que infecções crônicas por alguns tipos de HPV estão associadas ao
desenvolvimento de câncer, como de garganta, de pênis, do ânus e,
principalmente, o de colo uterino. “O câncer de colo uterino é o terceiro
câncer mais comum em mulheres no Brasil, e a grande maioria dos casos está
associada à infecção persistente por determinados tipos de HPV, chamados de
HPV’s de alto risco. Cerca de 70% dos casos de câncer de colo uterino são
causados pelos tipos 16 e 18, sendo os outros responsáveis por mais 20% dos
casos”, afirma o oncologista.
Existem três tipos
de vacina contra o HPV: a bivalente, que protege contra os HPV’s 16 e 18,
aquadrivalente, que protege contra os HPV’s 6, 11, 16 e 18, e a nonavalente,
que protege contra os HPV’s 6,11,16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58. A vacina
quadrivalenteestá incluída no calendário vacinal do Ministério da Saúde,
devendo ser administrada às meninas (entre 9 e 14 anos) e aos meninos (entre 11
e 14 anos). O ideal é que seja administrada antes da primeira relação sexual,
pois permite o desenvolvimento de proteção antes do primeiro contato com o
vírus. As crianças devem receber duas doses, com intervalo de 6 meses entre
elas. Quando a vacinação é iniciada mais tardiamente, após os 15 anos,
recomenda-se a aplicação de três doses (intervalo de 30-60 dias entre a
primeira e a segunda dose, e de 6 meses entre a primeira e a terceira dose). “A
adesão à vacinação contra HPV no Brasil ainda não é ideal, e programas educativos
são de extrema importância, visto que tal medida tem o potencial de evitar não
apenas a infecção pelo HPV, mas principalmente o desenvolvimento de um tipo de
câncer tão comum em nosso país e que está associado a um adoecimento muito
grave”, finaliza o oncologista.
Leonardo Roberto da Silva - formado em
Oncologia Clínica pela Universidade Federal Minas Gerais. É oncologista do
Caism/Unicamp com função docente junto aos residentes em Oncologia Clínica da
Unicamp. É mestre em Oncologia Mamária pela Unicamp e doutorando na área de
Oncologia Mamária pela FCM-Unicamp, com extensão na BaylorCollegeof Medicine –
Houston/Texas – EUA. É membro titular da Sociedade Brasileira de
Oncologia Clínica (SBOC), da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e
da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (ESMO). Leonardo faz parte do corpo
clínico de oncologistas do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia e atua
no Instituto Radium de Campinas, no Hospital Santa Tereza e do Hospital Madre
Theodora.
Grupo SOnHe -
Sasse Oncologia e Hematologia
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