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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Hospitalização de adolescentes por transtornos mentais aumenta e preocupa pediatras


As internações hospitalares de adolescentes com idade de dez a 14 anos motivadas por doenças mentais e comportamentais aumentaram 107% nos últimos dez anos no Sistema Único de Saúde (SUS), registrando quase 25 mil casos no período. Na faixa etária de 15 a 19 anos, foram mais de 130 mil internações em uma década. 

Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), elaborado com base em dados do Ministério da Saúde, o aumento das hospitalizações – muitas delas motivadas por quadros graves de transtorno de humor, estresse e outros doenças – pode estar relacionado a um aumento da prevalência da chamada doença do século XXI: a depressão. No entanto, os pediatras não descartam a possibilidade também de maior procura pela assistência ou aperfeiçoamento das notificações. 


Para a presidente da SBP, dra. Luciana Rodrigues Silva, trata-se de um tema urgente, que exige dos pediatras uma ação proativa. “Para encarar a nova realidade, em que doenças mais comuns em adultos passaram a se tornar mais frequentes em crianças e adolescentes, os pediatras precisam se atualizar e aprender a enxergar problemas que antes eram mais raros em sua rotina”, pontuou a pediatra, que entre os dias 8 e 12 de outubro conduz um dos maiores eventos da especialidade no mundo, o 39º Congresso Brasileiro de Pediatria, em Porto Alegre (RS), onde o tema também será discutido. 

Também se destacam os registros de transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substância psicoativa, tais como medicamentos ansiolíticos e sedativos, maconha e canabinoides sintéticos, alucinógenos, inalantes ou solventes, estimulantes, tabaco e outros. Em dez anos, esse grupo de causas passou de 510 internações para 717, um salto de 41%. 


“Esse é um grande desafio da nossa profissão. O pediatra tem um papel fundamental neste processo, pois é um profissional privilegiado pela possibilidade de, ao acompanhar o paciente ao longo de seu desenvolvimento, poder compreender a criança e o adolescente para além da dimensão clínica, ou seja, abarcando fatos mais significativos do seu cotidiano”, destacou. Segundo a dra. Luciana, o aumento do número de hospitalizações deve ser analisado com cautela e prioridade também pelas autoridades brasileiras, a fim de que sejam incentivadas ações e políticas públicas de prevenção e cuidado.

ADOLESCENTES – De acordo com os números analisados pela SBP, além do expressivo aumento relativo do número de casos envolvendo adolescentes com idades que vão de dez a 14 anos, também é significativa a quantidade de internações na faixa de 15 a 19 anos. Foram quase 131 mil internações em hospitais da rede pública em dez anos, sendo 14,5 mil somente no ano passado (maior número registrado no período).


AOS PEDIATRAS – A depressão na infância e adolescência tem sido foco de estudos internacionais devido ao aumento de sua prevalência nos últimos anos. Além disso, pesquisas relacionam a depressão na vida adulta com fatores de risco que podem ser identificados desde a infância. O tema foi abordado documento científico produzido pelo Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da SBP, recentemente lançado.

Dentre os fatores de risco para a depressão em pediatria pode-se citar problemas emocionais graves durante a gestação; história família de depressão ou transtornos psiquiátricos; tentativa de suicídio em parente próximo; depressão materna; estresse tóxico na infância, incluindo agressões físicas, morais e verbais; excesso de cobrança, abuso sexual; entre outros.

Membros do Grupo de Trabalho de Saúde Mental SBP também lançaram neste ano a 2ª edição do livro “Saúde Mental da Criança e do Adolescente”, publicação científica destinada principalmente aos pediatras, entre outros profissionais de saúde. O livro traz uma visão contextualizada dos temas mais relevantes para o cuidado da criança e adolescente, considerando este quadro contemporâneo de aumento da prevalência de doenças crônicas, entre estas, as relacionadas aos transtornos mentais e comportamentais.

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