Há
16 milhões de brasileiras com esse tipo específico de acne
O
Brasil virou referência mundial no tema ao lançar guia de conduta
prática para abordagens terapêuticas da condição que afeta a qualidade de vida
e a autoestima das pacientes[1]
Ao
contrário do senso comum, a acne é uma doença que acomete também os adultos,
especialmente mulheres entre 25 e 40 anos. Estima-se que haja mais de 16
milhões de brasileiras com esta condição, sendo que a proporção é de quatro
pacientes do sexo feminino para um masculino[2][3]. Mas esse número pode ser
maior, já que tem se observado que a incidência da acne em adultos vem
aumentando.
Estimativas indicam que 40%
das mulheres acima de 25 anos têm acne e, é importante ressaltar que nesta
faixa etária, a doença conserva características específicas[4].
Chamada de AMA (Acne da Mulher Adulta), a condição diferencia-se da acne vulgar
por estar relacionada a alterações genéticas, além de fatores relevantes como
histórico familiar, alterações hormonais, tipo de pele, estresse, hábitos de
vida, entre outros fatores. A AMA ainda se caracteriza por ter evolução
crônica, o que exigirá um tratamento de longo prazo.
Recentemente, um estudo
conduzido pelo dermatologista Marco Rocha, da Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP), ajudou a esclarecer um dos aspectos dessa doença, que interfere
diretamente na autoestima e qualidade de vida das pacientes. Após acompanhar um
grupo de mulheres entre 26 anos e 44 anos, o pesquisador chegou à conclusão de
que a acne neste perfil de pacientes está associada à uma alteração genética,
que mantém o estímulo da reação inflamatória presente na condição. O
mesmo estudo também apontou como a acne afeta o estado emocional dessas
mulheres, levando à depressão e transtornos de ansiedade, independentemente
da gravidade do quadro[5].
Nessas pacientes, explica o médico,
foram notadas alterações genéticas que mantém a reação inflamatória da
pele. “As glândulas sebáceas presentes na pele possuem receptores (Toll-like 2)
que podem se ligar a determinados microorganismos. Em mulheres adultas com
acne, há maior expressividade desses receptores que, ao se ligarem à bactéria Cutibacterium
acnes, comum na pele de toda a população, resultam em um tipo de acne com
características mais inflamatórias, com pápulas avermelhadas e dolorosas”,
informa o dermatologista, responsável pelo levantamento.
Outro ponto que diferencia
esta nova forma de acne é que, enquanto a acne da adolescência (ou vulgar)
costuma se manifestar na “zona T” do rosto (testa, região superior das
bochechas e nariz), a acne na mulher adulta conta com a distribuição das lesões
mais frequente na “zona U” – composta pela mandíbula, queixo e pescoço.
Mas por que é tão importante
diferenciar a AMA da acne vulgar, aquela que surge na adolescência? “Além de
afetar negativamente a autoestima das mulheres, impactando até mesmo na rotina
de trabalho, a prevalência da acne da mulher adulta vem aumentando”, alerta a
dermatologista Ediléia Bagatin, professora da Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP). “Além disso, diferenciar os dois tipos da doença é essencial para a escolha
do tratamento adequado para a mulher adulta e o melhor controle da doença”,
completa.
A vida moderna explica parte
deste aumento no número de casos da acne em mulheres adultas. Alguns hábitos de
vida, como consumo excessivo de alimentos com alta carga glicêmica e certos
laticínios, a obesidade, o estresse, o tabagismo e a exposição excessiva ao Sol
estão entre as causas e os fatores agravantes para a acne na mulher adulta.
Além disso, lembra a
dermatologista, “é preciso investigar ainda se o quadro está relacionado com
alterações hormonais ou doenças endócrinas, como a síndrome do ovário
policístico, por exemplo”.
A boa notícia é que é
possível tratar a doença, e o caminho pode estar na combinação de terapias. O
guia de conduta clínica da AMA publicado em fevereiro de 2019 sugere a
utilização de um produto tópico, como o ácido azelaico, e um anti-andrógeno
sistêmico, como a pílula anticoncepcional, como ferramentas terapêuticas
eficazes no tratamento da doença.
Referência na área
As particularidades dessa
modalidade de acne são tantas que existe um movimento dentro da dermatologia
para que ela seja classificada como uma doença à parte da acne comum. E o
Brasil tem sido considerado uma das referências nesta área de estudo.
O guia de condutas clínicas,
“Acne da mulher adulta: Um guia para a
prática clínica”[6], foi desenvolvido por um grupo de médicos especialistas no
assunto, coordenados pela Professora Ediléia Bagatin, na UNIFESP. Publicado nos
Anais Brasileiros de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de
Dermatologia (SBD), o artigo científico ganhou destaque na comunidade
cientifica por ser dedicado apenas à essa doença.
No Brasil,
a pesquisa dermatológica na área tem se diferenciado não só por liderar uma
série de descobertas e ganhado expertise no assunto, mas também por enxergar a
paciente de forma holística. “Não se trata somente de uma doença de pele, mas
de uma paciente que tem a sua vida totalmente afetada pela condição. Acredito
que a área ganhou destaque nos últimos anos, não apenas por conta do nosso
conhecimento na área e estudos científicos avançados, mas também pela relação
médico-paciente”, conclui Rocha.
[1] Bagatin E, Freitas TP, Machado-Rivitti MC, Medeiros
B, Rocha M. Acne da mulher adulta: um guia para a prática clínica. An Bras Dermatol. Brazilian An
Dermatol 2019; 94(1):62-75.
[2]
Adaptado de Collier Christin et. al. The Prevalence of Acne in Adults 20 years
and older. Journal of the American Academy of Dermatology. Volume 58,
Ussue 1,56-59, 2008, e de Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNDA
2015. Mulheres entre 25 e 29 anos idade.
[3] Skroza, N. et al. Adult acne versus Adolescent
Acne – A Retrospective Stydy of 1,167 Patients J Clin Aesthet Dermatol. Jan ;
11 (1) : p. 21-25, 2018.
[4]
Adaptado de Collier Christin et. al. The Prevalence of Acne in Adults 20 years and older. Journal of
the American Academy of Dermatology. Volume 58, Ussue 1,56-59, 2008, e de
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNDA 2015. Mulheres entre 25 e 29 anos idade.
[5]
Rocha MAD, Guadanhim LRS, Sanudo A, Bagatin E. Modulation of Toll Like
Receptor-2 on sebaceous gland by the treatment of adult female acne. Dermatoendocrinol.
2017 Oct 4;9(1):e1361570. doi: 10.1080/19381980.2017.1361570.
[6] Bagatin E, Freitas TP, Machado-Rivitti MC,
Medeiros B, Rocha M. Acne da mulher adulta: um guia para a prática clínica. An
Bras Dermatol. Brazilian An Dermatol 2019; 94(1):62-75.
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