Crise, incerteza e
mercado são fatores que impedem despesas com pessoal
Datas comemorativas viraram sinônimo de emprego
temporário nos últimos anos no país, muito por conta da indústria que produz
sob demanda em razão das altas nas vendas esporádicas. Dia das mães, dos
namorados, Páscoa e Natal são datas emblemáticas para o empresariado e para
quem busca um lugar no mercado, que está cada vez mais concorrido.
Segundo a ASSERT - Associação Brasileira do
Trabalho Temporário, devem ser geradas pouco mais de 430 mil vagas de emprego,
entre setembro e dezembro de 2018. O número é 22% maior que 2016, mas muito
pequeno se comparado, segundo o IBGE - Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, aos mais de 13 milhões de
desempregados.
É uma loteria que pode ser visualizada mais
claramente no número de empresas individuais no Brasil, que vem crescendo desde
o início de crise em 2009. Segundo dados do Empresômetro,
empresa brasileira de inteligência de mercado, de todas as mais de 21 milhões
de empresas ativas no país, 58% são de empresários individuais. Pouco podem
fazer esses empreendedores por aqueles que precisam de um emprego, uma vez que
podem contratar apenas uma pessoa.
Ainda segundo a ASSERT, o emprego temporário é a
melhor saída em tempos de crise, mas o que vem mudando é o local onde estão
esses empregos, antes em comércio varejista, que são cerca de 80% de todas as
empresas ativas, de acordo com o Empresômetro. O setor vem perdendo
espaço para a indústria, que corresponde a 7% de todas as empresas ativas, e
que com a possibilidade de contratações mais flexíveis, pode investir na
produção tanto para o varejo quanto para o mercado B2B (business to
business).
Esse cenário também é apontado pela Confederação
Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – CNC, que viu uma redução no
número de contratações temporárias, por volta de 1,7% menos em relação a 2017.
Essa redução se deu, segundo a CNC, devido às incertezas quanto ao futuro da
economia; a entidade prevê um crescimento menor nas vendas do Natal, por
exemplo, demonstrando a desaceleração econômica e fazendo com que o empresário
segure mais despesas fixas, inclusive com pessoal.
Um dos dados mais importantes levantados é a taxa
de absorção desses empregados temporários, que em 2017 era de 23%, com uma
previsão de apenas 19,8% de efetivações em 2018.
“O país passa por um momento delicado e que diante
do desconhecido se vê obrigado a segurar investimentos e despesas, tendo
consequências em todos os aspectos da economia, e o brasileiro ainda vê como
saída o emprego temporário e a abertura de seu negócio próprio, facilitado pela
celeridade em iniciar a atividade empresarial individual, a independência e a
possiblidade de ganhos acima do que o mercado empregador oferece”, esclarece o
diretor do Empresômetro, Otávio Amaral.
Isso é visto pelo crescimento das empresas
individuais entre 2016 e 2018, são mais de três milhões de novos empreendedores,
em média 1,5 milhão por ano, segundo estatísticas fornecidas pelo Empresômetro,
ou seja, muito maior que o mercado empregador oferece hoje. São pequenas
empresas que atendem demandas do cotidiano, como serviço de cabeleireiro,
comida e entregas.
“Ainda é uma saída para uma força de trabalho
imensa no Brasil, mas que não consegue ser absorvida pelo mercado. São inúmeros
os fatores, mas alguns deles são a incipiente forma de produção, grande carga
tributária e a qualificação surreal exigida por grande parte dos contratantes”,
explica Amaral.
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