As
redes sociais são um grande arrastão lançado ao mar da informação. Vem peixe
bom, arraia miúda e, junto, o inevitável lixo marinho. As pessoas sabem disso
e, com o tempo, aprendem a necessária catação. Obviamente, há quem produza lixo
e há quem prefira lixo. É inevitável reconhecer, porém, que a Internet, as
redes e os smartphones promoveram verdadeira revolução democrática na
informação e na análise dos fatos.
Os grandes meios de comunicação, por seu
turno, perderam o monopólio da interpretação dos acontecimentos e perceberam
estar substancialmente reduzida sua influência na formação da opinião pública
nacional. A pluralidade de opiniões passou a desnudar manipulações. A vitória
de Bolsonaro foi a mais evidente prova disso. O presidente venceu uma eleição
em que a totalidade da mídia brasileira o anunciava como alguém que perderia
para todos os seus adversários, cuidando de apresentá-lo como um ogro, sob cujo
comando o Brasil mergulharia numa era de trevas. Essa imagem, aliás, foi vendida no exterior
por um consórcio formado entre as correntes políticas derrotadas e o jornalismo
capturado para seu serviço. Com efeito, fora de nossas fronteiras, as redes
sociais brasileiras não exercem influência, mas os veículos tradicionais e as
agências preservam a sua. Graças a essa particularidade, partidos opositores e
jornalistas apresentam a má imagem do atual governo brasileiro no exterior como
nociva aos interesses nacionais. Mas esquecem de dizer o quanto isso é produto
de seu trabalho.
Consolidou-se em mim a convicção de que
as redes sociais, malgrado vícios e defeitos, concederam ao indivíduo um poder
político de que ele nunca anteriormente dispôs em qualquer período da história.
A soberania popular, que antes era exercida apenas pelo voto quadrienal, ganhou
continuidade. O cidadão pode dizer o que pensa e o que pensa pode chegar a
muitos. Pode fazer soar a campainha do celular no bolso do deputado, acessar
suas páginas nas redes, opinar em seus vídeos, falar ao presidente. Qualquer
indivíduo pode propagar suas ideias em seus próprios espaços, páginas, perfis,
canais. Pode criticar seu vereador e seu senador; seu prefeito e seu
governador. Pode criticar até o Papa. E ninguém dirá que isso é agir para
descrédito das instituições. Aliás, esse desabono é endógeno, gerado dentro dos
poderes. Não é a crítica que causa o descrédito, mas o descrédito que a motiva.
É normal verberar os poderes. Exceto se isso atingir o Supremo Tribunal Federal
e seus membros. Aí, sei lá por que, o bicho pega. Ficarei muito agradecido se
alguém puder me explicar o motivo, mormente quando tão intangível poder exerce
crescente e decisivo protagonismo.
Enquanto aguardo as opiniões dos
leitores, desejo a todos uma muito feliz Páscoa do Senhor!
Percival
Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e
escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a
tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo
Pensar+.
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