O ginecologista
Claudio Basbaum fala sobre o passo a passo para a detecção dos primeiros sinais
do câncer de mama
O
câncer de mama é o tumor mais comum entre as mulheres e representa 25% dos
tumores malignos diagnosticados anualmente no Brasil. A cada hora
cerca de 6 mulheres recebem este temível diagnóstico. O maior problema, é
que uma parcela significativa destas mulheres, só descobre a doença
quando sua progressão já alcançou um estágio avançado. Salientemos que
mesmo quando diagnosticada e tratada precocemente, dependendo de várias
condições, como o fator genético, quase 1/3 das pacientes evolui para as
metástases.
Esclareço abaixo as principais dúvidas sobre o
câncer de mama:
- Mulheres mais jovens podem apresentar câncer
de mama?
Sim. Cada vez se diagnostica com mais frequência e
maior precocidade. Isto se deve ao maior conhecimento da existência da
doença, através dos métodos de imagem (ultrassonografia mamária,
mamografia, mamografia digital ou mesmo ressonância magnética das mamas), que
dão maior acurácia na identificação da formação suspeitada, com detalhes que
podem sugerir a possibilidade de malignidade.
- Qual o momento ideal para se fazer o
autoexame?
O autoexame não dispensa a necessidade da
mamografia, sempre orientada e solicitada por um especialista.
O momento ideal para a auto-avaliação das mamas é
em torno de 3 a 5 dias após o final de um fluxo menstrual, fase em que os hormônios
ovarianos estão em níveis mais baixos. Para as mulheres que não menstruam, seja
em função de histerectomia já realizada, as menopausadas ou as que estão sob
uso de medicação hormonal para suspender a menstruação, deverão observar
qual o momento em que notaram alterações em uma ou em ambas as mamas e repetir
o mesmo tipo de controle com 30 dias de intervalo, observando se persistem as
alterações.
- Como deve ser feito o autoexame?
O auto-exame deverá sempre ser orientado pelo
médico especialista. Em termos gerais, deverá obedecer a um certo
"ritual":
1. As mamas deverão estar umedecidas ou melhor
ainda, ensaboadas, o que dá uma maior precisão para o reconhecimento de algum
eventual "caroço" ou assimetria;
2. Elevar o braço do mesmo lado da mama que se
pretende examinar, colocando a mão na nuca, com a finalidade de permitir que a
mama se espalhe sobre o tórax;
3. Com a outra mão, deslizar a palma com suave
pressão, desde a base para o centro da mama, em direção ao mamilo, no sentido
dos raios de uma roda;
4. Com a mesma mão, prosseguir em um
"alisamento" da mama, fazendo movimentos circulares, girando em torno
da mama, de fora para dentro até a região da aréola mamária.
- O que deve ser observado?
Alterações na forma, mudança de cor, textura e/ou
temperatura na pele das mamas, presença de nódulo, superfície com aspecto de
"casca de laranja", diferença no tamanho das mamas,
surgimentos de sulcos ou depressões em áreas localizadas. A saída de qualquer
líquido através dos mamilos, sobretudo de sangue, pode ser um sinal importante
de alerta. O reconhecimento de qualquer um ou mais de um destes sinais requer a
visita imediata, ao especialista.
Absolutamente não. Toda alteração visível ou
observada pela palpação da mama durante o autoexame deverá ser avaliada com
muito critério por um ginecologista ou de preferência por um mastologista, que
são os profissionais habilitados à complementação do estudo do nódulo existente
para o seu diagnóstico preciso.
- Pode ser confundido com uma glândula ou
inflamação?
Sim. Como o tecido mamário é muito rico em
glândulas não é incomum o surgimento de nódulos isolados ou múltiplos (lesões
benignas chamadas adenomas ou fibroadenomas), sobretudo nos dias que precedem
as menstruações. As inflamações (mastites) não são comuns durante a vida.
Surgem mais associadas ao período de lactação, em consequência da má
higienização dos mamilos, com consequente penetração de bactérias pelos ductos
mamários do leite. Pode também ser notado ocasionalmente em consequência de
escoriações ou picadas sobre a pele das mamas.
Não. Infelizmente, a doença maligna da mama,
sobretudo no seu início, não provoca nenhum alerta de dor. Os sintomas
dolorosos normalmente só se fazem presentes quando a doença já está muito
avançada. A dor que surge nas mamas (mastodinia) são relativamente comuns desde
a adolescência no período pré-menstrual ou durante a menstruação, quando o
tecido glandular mamário fica mais "ativo"e ingurgitado em função das
mudanças hormonais do ciclo menstrual.
- A liberação de secreção no mamilo é um sinal
de alerta?
O aparecimento e a persistência de prurido,
feridas, lesões crostosas e descarga mamilar, especialmente sangue, são
importantes sinais de alerta.
- Quando fazer a mamografia?
A realização de mamografias deverá seguir o
protocolo determinado pelas sociedades médicas da especialidade, tanto em
relação à faixa etária quanto de acordo com as alterações encontradas no exame
clínico especializado e que requeiram um diagnóstico mais preciso.
Diferentemente do que ocorre em países como EUA, Canadá e Escandinávia, onde a
incidência do câncer de mama em mulheres de 40 / 45 nos fica na casa dos
10-15%, no Brasil, a prevalência dos casos desta doença maligna quase
dobra (25%). Por essa razão, tem sido recomendado o início deste controle a
partir dos 40 anos de idade. É fato conhecido que as chances de cura são cada
vez mais reduzidas quanto mais se demora para fazer o diagnóstico e o
tratamento. Por isso, não aceitar simplesmente que "na mamografia não deu
nada grave ". Como todo método ou técnica para o diagnóstico, existe a
possibilidade de falso-negativo (quando a doença existe, mas não chega a ser
reconhecida nas imagens) ou de falso-positivo (quando sugere que a doença
maligna existe) conduzindo a um tratamento radical, traumático e
desnecessário. Assim, mamografias de má qualidade poderão atrasar o diagnóstico
com piora do prognóstico ou "reconhecer" a doença que não existe. A
chance de redução da mortalidade pelo câncer de mama não depende exclusivamente
de "qualquer" mamografia, mas sim das avaliações clínicas periódicas
realizadas por ginecologista ou mastologista (semestrais ou anuais) e dos
exames realizados em centros de imagem altamente capacitados e, portanto,
confiáveis.
- Toda mulher pode fazer o exame ou há algum
tipo de impedimento para a realização dele?
Em princípio, não há qualquer restrição da
mamografia. Em condições especiais como gravidez e amamentação, mamografias só
deverão ser realizadas em casos mais duvidosos e após a mulher ter sido
submetida a um primeiro rastreamento por ultrassonografia de alta resolução com
Doppler colorido. Nas gestantes, quando estritamente necessário, deverá ser
usado o avental de chumbo protetor sobre o seu abdome.
- Qual a idade mais comum para o aparecimento do
câncer de mama? A partir de que idade a mulher deve fazer o exame?
Quando já existir casos da doença na família,
sobretudo mãe, irmã, tia ou avó materna, recomenda-se iniciar o controle anual
a partir dos 25 anos. Importante polêmica surgiu no final de 2015, em
consequência à decisão da Associação Americana de Câncer (ACS), que passou a
recomendar a realização das mamografias a partir dos 45 anos de idade, anualmente
até os 54 anos, prosseguindo com intervalos de 2 anos, com exceção das mulheres
com alto risco para o desenvolvimento da doença. No Brasil, em função da
detecção que dentre as 14.206 mortes por câncer de mama em 2013, em torno
de 2500 mortes ocorreram na faixa etária entre 40 e 49 anos de idade, as
sociedades médicas no nosso país, entre as quais a Sociedade Brasileira de
Mastologia, defendem que "a realização de mamografias de rastreamento
anuais a partir dos 40 anos de idade deve ser direito de toda mulher". O
diagnóstico precoce e o tratamento criterioso da doença têm sido fundamental
para a sobrevivência de quase dois terços das mulheres com câncer de mama, nos
países desenvolvidos.
A taxa de sobrevida nos países em desenvolvimento não chega
a um terço.
No Brasil, recomenda-se a realização da mamografia
anualmente, e sem limite máximo de idade.
Dr. Claudio Basbaum - médico, com especialização na Universidade de
Paris, França. Professor-Doutor em Ginecologia e Obstetrícia,
pioneiro da laparoscopia no Brasil (1967), defensor de técnicas menos
agressivas à mulher e ao bebê (como o parto de cócoras ou "Parto das
Índias"), foi introdutor do Parto Leboyer (o "Nascimento sem
Violência") e da técnica Shantala de massagem para bebês no Brasil .
Membro do Corpo Clínico do Hospital e Maternidade São Luiz / Grupo D'Or,
em São Paulo, o ginecologista tem 53 anos de profissão e defende a
população feminina de cirurgias mutiladoras desnecessárias desde há 21 anos,
quando criou a Pró- Matrix (Unidade de Orientação, Preservação e Tratamento da
Mulher) e a campanha permanente "Mulheres, Salvem seus Úteros!"
(www.claudiobasbaum.med.br).
É pioneiro e introdutor no Brasil de diversas técnicas avançadas em medicina
como a laparoscopia (1967), videocirurgia, videolaparoscopia e
videohisteroscopia (1988) e a embolização para eliminação dos
miomas uterinos (2000), procedimentos mininvasivos de máxima eficácia
terapêutica e com um mínimo de trauma e rápida recuperação.