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terça-feira, 22 de agosto de 2017

Psiquiatra esclarece os 10 principais mitos e verdades sobre depressão e antidepressivos



Enquanto a OMS lança uma campanha para incentivar o debate sobre a depressão, preconceitos e desinformação desencorajam a busca por tratamento no Brasil


O Brasil é o país com o maior porcentual de indivíduos diagnosticados com depressão na América Latina, segundo os dados mais recentes sobre o tema divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Estima-se que a doença afete 5,8% da população do País, o que corresponde a 11 milhões de pessoas, quase o total de habitantes de uma cidade como São Paulo, por exemplo. Mas, ainda assim, a depressão permanece envolta em desconhecimento e preconceito, dificultando a discussão sobre o tema e, consequentemente, a busca por ajuda.

“Temos aspectos socioculturais e econômicos peculiares em nossa população que nos lançam a proporções gigantescas de pacientes com depressão não tratados. São aspectos atrelados ao não entendimento da depressão como doença, bem como à não aceitação do quadro e, por consequência, à negação de que o auxílio terapêutico pode ser necessário”, explica o médico Roberto Miotto, diretor técnico do Hospital do Arsenal do Rio de Janeiro e professor da pós-graduação em Psiquiatria na Pontifício Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). 

No Brasil, 53% dos indivíduos diagnosticados com depressão não tratam a enfermidade, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que pode acarretar sequelas irreversíveis ao paciente. Para ampliar o diálogo sobre essa temática e encorajar a busca por auxílio médico, neste ano a OMS adotou a depressão como mote para o Dia Mundial da Saúde, celebrado em 7 de abril, e lançou a campanha Let’s Talk. Abaixo, o médico Roberto Miotto estimula esse debate listando e esclarecendo os 10 principais mitos associados ao tratamento com antidepressivos.


1) Depressão é uma herança genética?

Verdade. Existe, sim, um componente genético já bastante conhecido no meio médico relacionado à depressão, embora este não seja um fator determinante para o desenvolvimento da doença. “Costumo dizer que genética não é destino. Percebemos que alguns indivíduos com alto grau de depressão incidente na família evoluem de forma melhor quando começam a ser tratados desde cedo”, afirma Miotto.


2) Antidepressivos causam dependência?

Mito. De acordo com o psiquiatra, não existem evidências de que os antidepressivos causem dependência. Por outro lado, como a depressão é uma doença crônica, o tratamento farmacológico é, muitas vezes, mantido por toda a vida. “Na maioria dos casos, o uso dos antidepressivos será necessário durante a vida toda, assim como se dá com a diabete, a hipertensão ou qualquer outra doença crônica. A diferença é que não existe um estigma associado ao uso contínuo de uma medicação para hipertensão arterial, por exemplo”, esclarece Miotto. “Só sairemos desse julgamento preconceituoso relacionado à depressão com informação e educação da nossa sociedade”, completa.


3) Antidepressivos podem afetar o ciclo menstrual?

Parcialmente verdade. Durante o ciclo menstrual, os níveis de hormônios como estrógeno e progesterona, por exemplo, mudam constantemente. “Esse fato parece exercer um poderoso efeito sobre os estados de humor das mulheres. Assim, considerando também a terapêutica antidepressiva, algumas vezes podemos ter alterações na prolactina, o que pode levar a mudanças no ciclo menstrual, atrasando e até bloqueando a ovulação”, esclarece Miotto. De qualquer forma, de acordo com o psiquiatra, apenas algumas classes de antidepressivos podem interferir na produção hormonal e no ciclo menstrual. Por isso, é importante que a mulher discuta o assunto com seu médico e, em casos de risco, é recomendável utilizar mais de um método anticoncepcional.


4) O uso de antidepressivos é relacionado à sonolência e à letargia, o que poderia interferir na concentração e no trabalho. Isso é verdade?

Mito. De acordo com o médico, é comum que o paciente relate esses efeitos apenas no início do tratamento, até que o organismo se adapte à medicação. “Após esse período, essa sintomatologia não é admissível, uma vez que buscamos o efeito contrário no tratamento, que é a funcionalidade plena do paciente. Caso esses sintomas se mantenham, é importante relatar ao médico para orientação e possível troca da medicação”, afirma o psiquiatra.


5) Antidepressivos causam ganho de peso?

Parcialmente verdade. Existem hoje no mercado três gerações de antidepressivos. Os mais antigos estão, de fato, mais associados ao ganho de peso, entre outros efeitos, mas nem por isso são menos eficazes. Já os mais modernos, que apresentam ação dual, como a desvenlafaxina, possuem um perfil metabólico diferente, sem impactos significativos sobre o peso. São medicamentos que conseguem equilibrar a disponibilidade de dois neurotransmissores importantes e diretamente relacionados aos quadros depressivos: a noradrenalina e a serotonina. Contudo, essa escolha depende do perfil de cada paciente. “Se temos um paciente anoréxico, por exemplo, ele pode se beneficiar, mesmo que por um curto período de tempo, de um antidepressivo mais antigo, associado ao ganho de peso”, pondera Miotto. “Não deixamos de prescrever os antidepressivos mais antigos. Muitas vezes, a associação com os medicamentos mais modernos é uma combinação benéfica”, completa.


6) Muitas pessoas deixam de procurar tratamento por sentirem vergonha e acabamescondendo a doença o quanto podem de amigos e até mesmo de seus familiares.

Verdade. Miotto observa que a depressão ainda é, muitas vezes, percebida como um sinal de fraqueza pela sociedade, especialmente entre os homens. “A vergonha e os aspectos sociais e educacionais fazem com que os pacientes tardem muito na busca por ajuda, especialmente o público masculino”, esclarece o médico, ressaltando que as taxas de suicídio são mais elevadas justamente entre os homens, embora a depressão seja mais frequente entre as mulheres. “Esse fato reforça a importância da educação e da conscientização, evitando que o preconceito em torno da depressão e do uso de antidepressivos continue a contribuir para o tratamento inadequado da doença no Brasil e a dificultar os diálogos sobre o problema”, complementa.


7) Antidepressivos estão associados à perda da libido?

Parcialmente verdade. Vale ressaltar que a própria depressão pode levar ao desinteresse pelo sexo. Contudo, em relação à medicação, é importante compreender que os antidepressivos atuam de forma diferente em cada um dos pacientes. De qualquer forma, os medicamentos de ação dual, já citados, não costumam exercer impacto significativo sobre o desejo sexual, ao contrário de alguns antidepressivos mais antigos. “Cabe, então, a avaliação diagnóstica criteriosa por parte do médico, que saberá delimitar o perfil de cada paciente e ajustar o antidepressivo adequado, de modo a minimizar os efeitos indesejados”, destaca Miotto.


8) O diagnóstico é uma das principais dificuldades no tratamento adequado da depressão?

Verdade. De fato, o diagnóstico precoce ainda é um desafio no Brasil. “É o médico, por meio de uma análise precisa e criteriosa, que poderá diferenciar uma tristeza, como um período de luto, de um quadro com componentes orgânicos, cerebrais e comportamentais, que traz prejuízos funcionais prolongados”, explica Miotto. Vale destacar que a depressão, quando não tratada adequadamente, pode trazer sequelas importantes, como a diminuição do número de células nervosas e, com o passar do tempo, do volume de algumas regiões cerebrais de modo irreversível, levando a déficits cognitivos significativos, ou até mesmo, a tentativas de tirar a própria vida.

De acordo com Miotto, o resgate da funcionalidade plena do paciente deve ser um dos focos no tratamento da depressão. “Esse processo passa por esferas que abrangem a completa integração emocional com o meio, a família e o trabalho, levando o indivíduo a ‘sentir-se integrado’ à sociedade. Para isso, em muitos casos, é fundamental o uso de antidepressivos que busquem uma melhora completa, contemplando aspectos relacionados à vida sexual, à qualidade do sono, ao apetite e à preservação das habilidades cognitivas”, afirma. Entre esses medicamentos está Pristiq (desvenlafaxina), da Pfizer, que se destaca por favorecer o resgate da funcionalidade do paciente, restaurando sua capacidade plena de atuação e ampliando, assim, sua qualidade de vida. 


9) É verdade que antidepressivos podem ser ingeridos juntamente com outros medicamentos sem prejudicar o mecanismo de ação deles?

Parcialmente verdade. O perfil de interação medicamentosa é variável entre as diferentes classes de antidepressivos. Em geral, na comparação com indivíduos saudáveis, os pacientes com quadros depressivos apresentam maior probabilidade de interações medicamentosas, uma vez que os antidepressivos costumam ser prescritos por um longo período de tempo, muitas vezes por anos¹. A literatura médica descreve interações medicamentosas de significativa importância entre algumas classes de antidepressivos e outros medicamentos comumente utilizados por idosos, como analgésicos, anestésicos, anticoagulantes, anticonvulsivantes e anti-hipertensivos². Por isso, é importante discutir com o médico qual a medicação mais indicada para cada caso, considerando que há opções no mercado mais compatíveis com o uso concomitante de outras medicações. “Os antidepressivos mais novos apresentam melhor interação medicamentosa e mecanismos metabólicos diferenciados, que permitem o tratamento com vários outros medicamentos associados”, destaca Miotto.


10) Os antidepressivos mais modernos, que apresentam menos efeitos colaterais, também são menos eficazes?

Mito. A evolução no entendimento da depressão e o conhecimento cada vez mais aprofundado dos fatores relacionados à doença têm possibilitado o desenvolvimento de tratamentos cada vez mais modernos, eficazes e seguros, como os antidepressivos de terceira geração. Com ação dual, esses medicamentos conseguem equilibrar a disponibilidade de dois neurotransmissores importantes e diretamente relacionados aos quadros depressivos: a noradrenalina e a serotonina. “Na verdade, com essa nova classe de antidepressivos, conseguimos mais sucesso terapêutico, até mesmo com alguns pacientes que não reagiam às medicações já existentes até então. Foi uma grande evolução”, afirma o médico.





Referências:
  1. ERESHEFSKY, L. Drug-drug interactions with the use of psychotropic medications. Question & Answer Forum, v. 14(8), p. 1-8, 2009.
  2. Ciraulo DA, Shader RI, Greenblatt DJ, Creelman W. Drug interactions in psychiatry. 2nd ed. Baltimore (Maryland): Williams & Wilkins; 1995
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Atenção! A dor de cabeça pode sinalizar um problema mais grave



Nem toda dor de cabeça é igual, aliás, são vários os tipos de cefaleia. E o problema está em tratá-las todas da mesma forma, automedicando-se como se faz comumente. O fato é que uma dor incomum deve ser investigada, pois pode ser um sinal de um problema neurológico mais grave.

“Quando um paciente que sempre teve dor de cabeça chega e diz ‘esta é a pior dor de cabeça que já me acometeu’ ou ‘esse tipo de dor de cabeça eu nunca tive’, a gente tem a obrigação de investigar”, alerta a neurologista Célia Roesler, vice-coordenadora do Departamento Científico de Cefaleia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe).

O mesmo procedimento vale para pessoas acima de 45 anos que apresentam um quadro de cefaleia pela primeira vez.

Os problemas neurológicos que podem ser acobertados por uma dor de cabeça vão desde um aneurisma até um tumor cerebral. “Por isso, tem de fazer um exame completo, de fundo de olho, examinar a marcha, a sensibilidade do paciente, se ele tem a força diminuída de um lado do corpo ou não, observar se não tem alguma alteração de fala, alguma disfasia”, indica a dra. Célia.

Uma das piores consequências da automedicação indiscriminada é transformar uma cefaleia episódica em crônica. Mas, em alguns casos, ela pode trazer problemas mais graves, como para pacientes com enxaqueca com aura que combinam o medicamento com alguns tipos de anticoncepcional ou são tabagistas e, assim, aumentam os riscos de um acidente vascular cerebral.

No caso dos pacientes com enxaqueca crônica, um problema neurológico pode ser confundido com uma crise e a automedicação pode piorar o quadro. “Vamos supor que ele esteja tendo uma crise hipertensiva, a pressão subiu de repente e deu dor de cabeça, na nuca, e ele pode pensar que é aquela enxaqueca. Ele vai tomar o remédio para enxaqueca, que são vasoconstritores, cuja contraindicação é pressão alta, aí a pressão vai subir mais ainda e ele pode ter um acidente vascular cerebral por causa dessa automedicação errada. Ou então está com um vasinho cerebral que está sangrando por algum motivo e começa a dar uma dorzinha de cabeça e ele toma uma aspirina, que afina o sangue, e vai sangrar mais, vai piorar mais o quadro dele. Ou então ele está com dor de cabeça, vomitando e não percebeu que está com rigidez de nuca, com febre, e pode ser uma meningite e ele está tomando remédio para enxaqueca”, adverte a neurologista.

Ou seja, é preciso ficar atento à dor de cabeça, ao tipo, à intensidade, ao local que afeta, aos outros sinais que o corpo dá, e ir a um pronto atendimento para saber ou não da necessidade de procurar um especialista. “As pessoas têm de prestar mais atenção na dor que sentem e não generalizar ‘toda dor de cabeça é aquela enxaqueca que eu tenho’. Não se automedicar. Mudou a característica da dor, ou aquelas pessoas mais velhas que nunca tiveram dor e aparece, tem que investigar, tem de procurar ajuda”, enfatiza a dra. Célia Roesler.





A importância da vacinação



O ato de levar uma criança para vacinar traz resultados não só para ela, mas para toda a sociedade. “A proteção se divide em dois pontos: a individual, que garante que a pessoa não terá a doença, e a indireta, quando a maioria da população é vacinada e aqueles que não foram se beneficiam da proteção alcançada com os que foram vacinados. Ou seja, os benefícios se estendem aos não vacinados”, avalia Renato Kfouri, vice-presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

Além dos pais, a proteção das crianças também é um dever do Estado. Para tanto, o Ministério da Saúde tem orientações para que toda a sociedade fique em dia com a vacinação dos pequenos, além de promover campanhas anuais com o oferecimento de doses gratuitamente contra doenças que podem causar danos irreversíveis à saúde ou até levar ao óbito.

A vacina é o meio mais eficaz de proteção contra certas doenças infecciosas e agem estimulando o sistema imunológico a produzir anticorpos para combater essas enfermidades. Muitos males que são cobertos por esse sistema de imunização estão erradicados no Brasil, mas isso não significa que é possível deixar de vacinar as crianças.

“Proteger é um ato de cidadania, é responsabilidade social, além de ser um controle da saúde pública e, com isso, diminuir os gastos do Estado na área”, defende Renato Kfouri. Mas vem aumentando o número de grupos de pais que são contra a vacinação, seja por medo, falta de informação ou preceitos religiosos, com pouca ou nenhuma base científica, o que acarreta na diminuição de crianças imunizadas no País.

Para o médico, a principal razão para esses movimentos anti-vacinação é o sucesso das próprias vacinas. “Desaparecem doenças como rubéola, sarampo, caxumba, pólio, por exemplo, então a percepção de risco desaparece. Os pais não se dão conta da ação continuada da vacina. Se reduzir a imunização, surtos e epidemias das doenças podem voltar, pois são criados ambientes propícios para o ressurgimento delas e os riscos de elas voltarem são reais”, explica.

“É preciso estimular e orientar a população, oferecer horários alternativos nos postos de saúde para que todos possam ter opções”, reforça Renato Kfouri, lembrando que os pais que deixam de vacinar os filhos não sofrem punições porque a lei não os obriga. Os postos de saúde abrem no horário comercial e, infelizmente, alguns sofrem com o desabastecimento de doses.

Segundo o médico, todas as vacinas disponibilizadas gratuitamente são imprescindíveis e os riscos com efeitos colaterais são pequenos comparados aos benefícios. Ele alerta também para os mitos, que atuam na contramão das campanhas de vacinação. “As reações, os efeitos colaterais, associados às razões filosóficas e religiosas e questões éticas, são alguns destaques contra a imunização. Quando alguém toma a vacina e logo depois tem um problema de saúde, fica difícil não associar o surgimento da doença com a vacinação”, declara. “Os benefícios suplantam os riscos, pois as reações às vacinas são eventos transitórios e, por isso, é tão importante a informação para os pais”, alerta Kfouri.






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