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terça-feira, 22 de maio de 2018

Pragas urbanas podem contaminar alimentos industrializados


 Instituto Biológico é referência brasileira no assunto e realiza evento para discutir o tema em junho


                Quem nunca pegou aquele pacote de macarrão aberto na dispensa e percebeu pequenos bichinhos na massa? Ou então no arroz, no feijão, na farinha, no achocolatado... Esses bichinhos são chamados de carunchos, uma praga urbana bastante comum nos alimentos. Além dele, é possível encontrar traças, pelos de roedores, baratas e moscas em muitos alimentos industrializados. O Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, é referência brasileira no assunto e de 18 a 21 de junho de 2018 discutirá esse tema durante o Simpósio Nacional de Pragas e Vetores (SINAPRAVE), na Sede do IB, em São Paulo, Capital. A inscrição para o evento pode ser feita em http://www.sinaprave.com.br/

            De acordo com Marcos Roberto Potenza, pesquisador do IB, algumas espécies de traças e carunchos estão presentes desde a colheita até a comercialização e acabam chegando à casa dos consumidores. Os produtos mais atacados são macarrão, arroz, farinha de trigo, fubá, achocolatados, bombons e ração para pet, dentre outros. “Alimentos com muito sódio costumam ter menos risco de infestação, pois estas pragas não conseguem se desenvolver devido à substância”, explica.

            Potenza ressalta que muitas vezes a infestação não ocorre na indústria de alimento, que tem se modernizado nos processos de produção e investindo na certificação de seus fornecedores de matéria-prima para garantir um alimento seguro e sem a presença de insetos. “Existe uma complexa cadeia de transporte, armazenamento e comercialização dos produtos industrializados e em alguns casos os problemas de infestação ocorrem durante esta cadeia ‘pós-fábrica’ e inclusive na casa do consumidor, que ao possuir em sua dispensa um produto infestado, este pode disseminar para outros alimentos a granel ou industrializados, o que chamamos de infestação cruzada”, afirma.

            Alimentos comprados a granel, como grãos, farinhas, farelos, chás, produtos desidratados e as rações para pets também correm risco de estarem infestados, conforme as condições de armazenamento e manipulação. Levantamentos realizados pelo IB em produtos comercializados a granel têm identificado a presença de traças e carunchos em grãos, farinhas, ervas aromáticas e condimentares, chás desidratados e rações para pet a base de grãos. Estudos do IB revelaram a presença em rações a base de grãos para aves e roedores de Sitophilus zeamais, Oryzaephilus spp, Lasioderma serricorne, Cryptolestes ferrugineus, dentre outras espécies que podem infestar massas, grãos, farinhas, farelos e cereais matinais na dispensa do consumidor. “Algumas destas espécies também foram encontradas em amostras de plantas aromáticas e condimentares desidratadas como hortelã, camomila, salsa, manjericão, coentro, tomilho, erva doce e outras”, diz o pesquisador.

            O correto é que ao comprar alimentos a granel ou industrializados o consumidor observe bem as condições de armazenamento dos produtos, manipulação, higiene do local, conservação predial e inclusive a presença de insetos voando pelo ambiente. “Se tiver insetos voando no ambiente ou fios de seda em prateleiras, é melhor comprar em outro local”, afirma Potenza. Armazenar os produtos adquiridos em recipientes bem fechados ajuda a prevenir a ocorrência destes insetos e a infestação de outros produtos.

            O Instituto Biológico realiza a identificação das pragas urbanas, desenvolvendo trabalhos relacionados à biologia, métodos de controle, resistência de embalagens à perfuração e taxa de sobrevivência dos insetos em matérias-primas. “O IB é referência brasileira no assunto e tem proximidade com os elos envolvidos nas cadeias de armazenamento, produção e comercialização, auxiliando no diagnóstico, prevenção e controle das pragas urbanas”, explica Potenza.






SINAPRAVE
            O Simpósio Nacional de Pragas e Vetores (SINAPRAVE) tem o objetivo de promover o debate e intercâmbio técnico-científico entre os diferentes elos que atuam na pesquisa, diagnóstico, prevenção, manejo e controle de pragas sinatrópicas, conhecidas como pragas urbanas.
            O evento é promovido pela Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas do Instituto Biológico e será realizado de 18 a 21 de junho de 2018, em São Paulo, Capital.
            “A programação visa atender aos diferentes segmentos que atuam diretamente na área e aqueles que são impactados pela presença das pragas urbanas em arborização urbana, em produtos industrializados e em patrimônios históricos”, explica o pesquisador do IB.
            Para o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Francisco Jardim, eventos como esse são importantes por aproximar a pesquisa do setor de produção. “Este é um tema sensível para todos os elos da cadeia produtiva. Este evento transfere informações para os interessados na área e aproxima nossas pesquisas do setor de produção, uma recomendação do governador Márcio França”, afirma.





Fernanda Domiciano


Novo antibiótico começa a ser utilizado no Brasil este mês


Tratamento pode ser uma opção para pacientes com infecções causadas por bactérias multirresistentes


Acaba de chegar ao mercado um novo antibiótico para o tratamento de pacientes com infecções causadas por algumas bactérias resistentes entre elas, a Pseudomonas aeruginosa, considerada uma das três mais perigosas, segundo alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Desenvolvido pela farmacêutica MSD, ceftolozana-tazobactam, comercialmente conhecido como Zerbaxa, é indicado para uso hospitalar e foi aprovado no Brasil pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no início do ano para tratar pacientes com infecções intra-abdominais complicadas e infecções do trato urinário complicadas. 
De acordo com estudos clínicos, o novo antibiótico demonstrou 87% de eficácia no tratamento de infecções bacterianas intra-abdominais complicadas, quando comparado ao tratamento padrão com meropeném - eficácia de 83%, antibiótico de referência para o tratamento de bactérias resistentes.  Já para tratamento das infecções do trato urinário causadas por Pseudomonas aeruginosa, os números são ainda mais expressivos e a nova terapia demonstrou eficácia de 75%, quando comparada ao levofloxacino (eficácia de 47%), até então, um dos tratamentos contra esta infecção[1].

Mas superbactérias existem mesmo?
Resistência bacteriana é um assunto que vem sendo discutido mundialmente. Estima-se que 700 mil pessoas morram anualmente em todo o mundo devido ao fenômeno. Dados divulgados recentemente revelam que, se nada for feito, até 2050 as infecções por bactérias multirresistentes poderão matar 10 milhões de pessoas no mundo por ano, impacto maior que a mortalidade por câncer[2].
“Hoje em dia, ainda há uso de antibióticos de forma indiscriminada na medicina e veterinária, além da pecuária e agricultura. Isso resulta em uma importante pressão seletiva de bactérias. Ceftolozana-tazobactam é uma arma importante que está chegando ao mercado para auxiliar os médicos nessa luta, pois ainda perdemos pacientes com infecções por bactérias multirresistentes”, explica a Dra. Lessandra Michelin, infectologista na Universidade de Caxias do Sul, mestre e doutora em Biotecnologia e Vacinologia pela Université de Genève.
No Brasil, dados da Anvisa apontam que cerca de 25% das infecções registradas no país são causadas por micro-organismos multirresistentes[3] – aqueles que se tornam imunes à ação dos antibióticos.
Quando se fala somente em P. aeruginosa, até 40% dos casos detectados no país apresentam resistência aos carbapenêmicos, como o meropeném, que é o antibiótico mais usado para tratar infecções graves. “Ceftolozana-tazobactam será importante no tratamento do que chamamos bactérias Gram-negativas, principalmente pseudomonas, que são resistentes a vários antibióticos”, destaca a Dra. Lessandra Michelan.
Sem antibióticos eficientes contra superbactérias, muitos procedimentos médicos, como cirurgias e quimioterapia para pacientes com câncer, por exemplo, poderiam  ser suspensos ou postergados. “Nós utilizamos antibióticos em complicações infecciosas de diversos procedimentos hospitalares, o que possibilitou inúmeros avanços em várias áreas da saúde, incluindo os transplantes, por exemplo. Se as bactérias se tornarem resistentes aos antibióticos que temos disponíveis hoje, poderemos voltar à era pré-antibióticos, onde um simples ferimento infectado poderá causar graves danos”, alerta o Dr. Clóvis Arns, infectologista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).   
  


MSD


[1] Circular aos Médicos (bula) de Zerbaxa. São Paulo; Merck Sharp & Dohme Farmacêutica Ltda., 2017.
[2] O’NEIL, J.Tackling Drug-Resistant Infections Globally: Final Report and Recommendations. Acessado em 12/09/2017 Disponível em: https://amr-review.org/sites/default/files/160525_Final%20paper_with%20cover.pdf
[3] Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA): Boletim de Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde nº 14: Avaliação dos indicadores nacionais das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) e Resistência microbiana do ano de 2015. Acessado em: 30/11/2017 Disponível em: https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/publicacoes/item/boletim-de-seguranca-do-paciente-e-qualidade-em-servicos-de-saude-n-13-avaliacao-dos-indicadores-nacionais-das-infeccoes-relacionadas-a-assistencia-a-saude-iras-e-resistencia-microbiana-do-ano-de-2015

SAI PRÁ LÁ, SÍSIFO


A vida é um eterno recomeço. Fosse escolher a lenda mitológica que mais se assemelha à sua vida, provavelmente o povo brasileiro colocaria a história do castigo de Sísifo entre as preferidas. Sísifo, que viveu vida solerte, conseguiu livrar-se da morte por duas vezes, sempre blefando. Não cumpria a palavra empenhada, até que Tânatos veio buscá-lo em definitivo. Como castigo, os deuses o condenam impiedosamente a rolar montanha acima um grande bloco de pedra. Quase chegando ao cume, o bloco desaba montanha abaixo. A maldição de Sísifo é recomeçar tudo de novo, tarefa que há de durar eternamente.

O povo brasileiro se sente em eterno recomeço. Quando acha que as coisas estão se normalizando, aparece mais um desastre. Nosso habitante se vê numa ilha ameaçada frequentemente por pequenas e grandes catástrofes. Escândalos, corrupção desbragada, favorecimentos, ausência de critérios racionais, mandonismo, impostos, feudos, deterioração dos serviços públicos, falta de continuidade nas administrações constituem condimentos de nossa cultura política.

Os efeitos são catastróficos, pois o sistema de vasos comunicantes acaba impregnando os poros da alma nacional, inviabilizando aquele espírito público, fonte do fervor pátrio, que Alexis de Tocqueville, há 183 anos, tão bem constatou em A Democracia na América (1835), quando se encantou com os valores da alma norte-americana. Escrevia: “existe um amor à pátria que tem a sua fonte principal naquele sentimento irrefletido, desinteressado e indefinível que liga o coração do homem aos lugares onde o homem nasceu. Confunde-se esse amor instintivo com o gosto pelos costumes antigos, com o respeito aos mais velhos e a lembrança do passado; aqueles que o experimentam estimam o seu país com o amor que se tem à casa paterna”.

Que amor à Pátria pode existir em espíritos tomados pelo pavor, pela violência de tiros a esmo, pelo estado de guerra civil como a que vemos no Rio de Janeiro, pelos assaltos que infestam as capitais e cidades do Norte e Nordeste, pela marginalidade que incorpora bandos de menores? Que espírito público pode vingar em nossa América Latina quando na vizinha Venezuela as multidões não têm mais o que comer e passam a fugir do país, entrando aos montes em nosso país? O que diria desse Nicolas Maduro, o grande libertador Simon Bolívar, aquele que, um dia, retratou o sofrido continente: “não há boa fé na América, nem entre os homens nem entre as nações; os tratados são papéis, as constituições não passam de livros, as eleições são batalhas, a liberdade é anarquia e a vida um tormento. A única coisa que se pode fazer na América é emigrar”. 

O povo quer sentir estabilidade e segurança. Segurança nas ruas, segurança do emprego. Hoje, há 13 milhões de desempregados, amargurando dias de tristeza. Estabilidade que permita divisar com nitidez a linha do horizonte. Como divisar clareza quando estamos apenas a 5 meses da eleição, sem sinais do que pode ocorrer?

A chama telúrica – essa que liga as pessoas ao lugar onde nasceram – está quase se apagando com a violência, o inchaço das metrópoles e o crescimento desordenado das regiões. É bem verdade que daqui a um mês o país deverá viver a catarse coletiva da Copa do Mundo. E se perdemos? Serão dias de tristeza, desgosto e mais amargura. Vamos continuar a ver governos de todas as instâncias usando míseros tostões para administrar massas falidas.

Rezemos para afastar a maldição de Sísifo. 






Gaudêncio Torquato - jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato


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