Camila M. Guerra conta suas próprias experiências e como é possível
lidar com o tema muito comum e explicado pela ciência
Já passou pela experiência de acordar no meio da
noite e perceber que não consegue mexer um músculo sequer? Se você está lendo
este texto, provavelmente já passou por isso ou conhece alguém que passa. Mas
calma, você não está sozinho! O nome disso é paralisia do sono, um fenômeno
muito comum e explicado pela ciência.
Não é raro a pessoa acordar no meio da noite,
sentir o ar faltar, observar o quarto escuro sem conseguir enxergar um palmo à
frente do nariz, mas sentir uma presença, algo estranho bem próximo à cama. Ou,
em muitos casos, e como acontecia comigo, sobre seu peito, sufocando,
enforcando você. Não é pouco comum a pessoa ter a sensação de que está
morrendo, o que aumenta muito a tensão do momento.
Saber como isso acontece ajuda a desmistificar o
assunto e a superar o medo da experiência e da repetição.
Minha experiência com a paralisia do sono começou
na infância e intensificou-se na adolescência. Naquela época eu vivia episódios
diários, normalmente seguidos a pesadelos horripilantes. Durante todo o tempo
em que ficava presa nos pesadelos, eu sabia que estava sonhando e tentava de
todas as formas me forçar a acordar. O desespero e a ânsia de acordar me faziam
passar pela terrível paralisia do sono ao despertar. Enquanto sonhava, tentava
dar-me pauladas, beliscões, chorar, rezar… Mas no torpor do retorno, nada fazia
meu corpo recobrar os movimentos.
Acordava em pânico, com o corpo formigando,
impedida de promover qualquer tipo de movimento. Assim que conseguia retomar o
controle do corpo, levantava desesperada, apavorada e, não poucas vezes,
acordei meus pais com meus pulos exagerados escada abaixo.
Na época, meus familiares e amigos não tinham ideia
do que era aquilo. Ninguém parecia ter vivido experiências tão fortes e tão
aterradoras quanto as minhas. Assim, ouvi as mais diversas explicações, desde
perseguição por obsessores, problemas mentais, traumas, comilança antes de
dormir, castigo de Deus por algo que eu havia feito. Cada um me oferecia suas
explicações com base nas próprias experiências de vida e filosofias que
abraçava. No entanto, nenhuma delas me satisfazia. Fui em busca de uma solução,
pesquisando sobre o assunto em diversas fontes.
Durante minhas pesquisas descobri que os sonhos
lúcidos e a paralisia do sono afetam muitas pessoas e é um fenômeno relativamente
comum e mais intenso na adolescência.
Aqueles episódios na infância e adolescência
tiraram meu sossego por muito tempo e, durante um longo período, tive medo de
dormir. Ainda enfrento a paralisia do sono hoje em dia, embora em muito menos
quantidade, com menor intensidade, sem medo e com bastante tranquilidade.
Conhecer a causa me ajudou a perder o medo, a reduzir os episódios e a lidar
melhor com o fato.
Desconhecer os motivos faz com que as pessoas
acreditem que algo sobrenatural está acontecendo com elas. Para evitar isso,
veja só o que acontece com você na paralisia do sono:
Vou começar explicando com o trecho retirado do meu
primeiro livro “A Última Chave – Realidade em um Mundo Paralelo”, um romance
que fala sobre sonhos lúcidos, projeções astrais e, claro, toca no assunto
paralisia do sono. Nele, Marcus e Sofia vivem intensamente suas viagens astrais
e seus sonhos lúcidos e, por meio deles, ajudam a desvendar um grande mistério
que dá vida à história. Aí vai a transcrição das explicações (a científica e a
mística) do professor Marcus (personagem do livro) para Sofia, a
protagonista:
“— Certo. O que você sentiu no retorno é o que
normalmente chamamos de paralisia do sono, um apelido para o fenômeno, que não
tem nada de místico. Em termos não científicos, é quando o que chamamos de
corpo astral volta, ativa a glândula da vigília, mas não encaixa totalmente.
Até acoplar-se perfeitamente, a pessoa sente essa dormência ou formigamento e
essa dificuldade em movimentar-se. Essa pequena glândula, chamada pineal, fica
no centro do cérebro e controla outras coisas, mas no nosso caso aqui,
interessa a função dela no que diz respeito aos ciclos do sono. Também é
considerada pelo pessoal ligado ao misticismo como ponto de união entre corpo e
alma, terceiro olho e por aí vai. Essa sensação que você sentiu é bastante
comum e é também conhecida por alguns como catalepsia projetiva. Não se
assuste.
O fenômeno é físico, já que não há tempo para
ativar os sistemas que inibem o movimento durante o sono REM. Durante essa fase
do sono, o cérebro bloqueia os neurônios motores, se não, sairíamos por aí
encenando o que estivéssemos vivendo nos sonhos, o que é um pouco o que os
sonâmbulos fazem. Também não é pouco comum que as pessoas que se veem nesse
estado de paralisia, acordem amedrontadas e vejam vultos (que alguns
classificam de espíritos, monstros ou criaturas estranhas), apertando seu
peito, tentando enforcá-las ou segurando seus braços e pernas. São fenômenos da
mente. — Explicou Marcus — E como nossa amígdala está ativa durante os sonhos,
eles são geralmente cheios de emoções, especialmente as relacionadas ao
medo.”
Ou seja, a paralisia acontece quando o cérebro e os
músculos do corpo “não se entendem”, e a pessoa acorda então durante o período
de sono REM (Rapid Eye Movement – movimento rápido dos olhos), a fase onde
acontecem os sonhos. Essa também é a fase em que o cérebro libera substâncias
que deixam os músculos paralisados. E mesmo a pessoa estando desperta, o
cérebro mantém a atonia, pois julga que ela está ainda dormindo.
Falando um pouquinho de tecniquês, durante o sono,
estão ativos o hipocampo (local onde ficam armazenadas as memórias), a amígdala
(responsável por identificar perigos e colocar o corpo em alerta), o cingulado
anterior (que regula, entre outras coisas, emoção, aprendizado, motivação e
detecção de conflitos). Mas ficam desligados, por exemplo, o córtex pré-frontal
dorsolateral (o comando central do cérebro. Sem ele, perdemos os centros de
racionalidade e planejamento do cérebro), o córtex órbito-frontal (que pode
funcionar como sensor ou verificador dos fatos) e a região têmporo-parietal
(que processa sinais motores sensoriais e a percepção de espaço).
Agora o motivo desse desespero todo parece muito
mais simples, certo?
Paralisia do sono tem algo a ver com projeção
astral e sonho lúcido? De uma certa forma sim, já que as experiências fora do
corpo que trazem medo, desespero, pavor ou emoções fortes, podem provocar o
despertar repentino. No entanto, quanto maior a experiência e o conhecimento do
sonhador, menos episódios de paralisia ele tende a sofrer, já que tem plena
consciência do fato de estar “dormindo”.
Estudos realizados em laboratório revelaram que as
experiências que definimos como “fora do corpo” acontecem, na verdade, dentro
do cérebro. Seja dentro ou fora do cérebro, elas existem e isso está
comprovado. Há inclusive pesquisadores trabalhando em projetos que gravam essas
experiências em imagens e os resultados começam a aparecer devagar.
Os sonhos lúcidos são uma área de pesquisa
interessante, comentada com propriedade pelo físico teórico norte-americano Dr.
Michio Kaku em seu livro “O Futuro da Mente”, que recomendo fortemente. No
capítulo 7, Dr. Kaku fala especificamente sobre sonhos, e começa o capítulo com
a seguinte frase: “O futuro pertence àquele que acredita na beleza de seus
sonhos” [Eleanor Roosevelt]. A primeira frase desse capítulo é: “Os sonhos
podem definir o destino”.
E podem mesmo. Você sabe.
Agora é hora de perder o medo da paralisia do sono.
Como você já sabe por que e como ela acontece, aproveite a experiência de
sonhar, viaje muito e durma em paz.
Camila M. Guerra - escritora.