Promoções agressivas e estímulos constantes podem
ativar gatilhos emocionais que levam ao consumo impulsivo, ao estresse
financeiro e a ciclos de culpa
A
Black Friday cresce a cada ano no Brasil e atrai milhões de consumidores que
buscam ofertas e vantagens. O que nem sempre é percebido é o impacto emocional
desse volume de estímulos. O excesso de notificações, contagens regressivas,
campanhas de oportunidade e apelos de urgência formam um ambiente que acelera
decisões e reduz a capacidade de reflexão.
“Embora
seja amplamente associada à economia, a data também pode funcionar como um
gatilho para impulsividade, ansiedade e desregulação emocional”, salienta Dr.
Guilherme Gois, psiquiatra da ViV Saúde Mental e Emocional em Curitiba.
Ele
explica que o cérebro humano responde de forma imediata ao sentimento de
oportunidade. Segundo o médico, quando o consumidor se depara com preços
reduzidos e mensagens que reforçam o risco de perder a promoção, a mente passa
a operar em modo de alerta.
Isso
intensifica o impulso de compra e diminui a análise racional. Ele conta que
esses mecanismos são naturais do funcionamento cerebral e que, em momentos de
vulnerabilidade emocional, ficam ainda mais evidentes.
Quando a emoção decide no lugar da razão
De
acordo com o especialista, emoções como ansiedade, insegurança, tédio e
comparação social influenciam de maneira significativa o comportamento de
compra. Muitas pessoas acabam comprando não pela necessidade real, mas pela
busca inconsciente de alívio emocional.
Ele
esclarece que a compra impulsiva costuma oferecer alguns minutos de sensação
positiva, seguida de arrependimento e culpa. Um ciclo comum e que tende a se
intensificar durante eventos como a Black Friday.
Dr.
Góis observa que, para algumas pessoas, esse padrão pode ser ainda mais
acentuado. Quem já apresenta dificuldades de autocontrole ou histórico de
comportamentos compulsivos pode enfrentar maior risco de perda de controle
durante a temporada de promoções.
Além
disso, o impacto emocional negativo que surge depois de compras feitas por
impulso pode afetar o sono, o humor, o foco e a autoestima.
O peso do estresse financeiro e seus efeitos emocionais
A
consequência prática mais frequente é o endividamento pós-Black Friday. Quando
o consumidor percebe que gastou mais do que poderia, o estresse financeiro se
instala e provoca repercussões emocionais importantes.
O
médico aponta que esse tipo de estresse não se limita ao orçamento. Ele
interfere no bem-estar emocional e pode agravar sintomas de ansiedade e
depressão. O sentimento de perda de controle sobre a própria vida financeira
costuma gerar tristeza, frustração e sensação de incapacidade.
Esse
conjunto de fatores pode criar um ciclo emocional desgastante. “Primeiro surge
o impulso e a compra. Depois vêm o arrependimento e o peso das contas. Em
seguida aparecem a culpa e a autocrítica”, relata.
Para
o especialista, é fundamental entender esse processo para reduzir o impacto da
data na saúde mental.
Como evitar que a Black Friday se torne um gatilho emocional
Segundo
o psiquiatra, a primeira estratégia para atravessar esse período com equilíbrio
é o desenvolvimento de autopercepção. Ele recomenda que cada pessoa observe o
que está sentindo antes de comprar.
A
pergunta essencial, para o médico, é muito simples: “Por que eu quero isso
agora?” Caso a resposta tenha origem emocional, esse é um sinal para pausar e
repensar o ato.
Criar
um intervalo antes de finalizar uma compra também é uma ferramenta eficaz. Dr.
Góis diz que aguardar algumas horas ou um dia inteiro pode reduzir
consideravelmente o risco de compra por impulsividade, além de permitir que o
raciocínio retome o controle da decisão.
Outra
recomendação importante é navegar por ofertas somente depois de estabelecer um
limite financeiro e uma lista objetiva de itens desejados. O foco aqui é se
proteger dos estímulos que conduzem a decisões apressadas.
O
médico destaca ainda a importância de reconhecer sinais físicos e emocionais
durante a temporada de descontos. Alterações de sono, irritabilidade,
dificuldade de concentração e aceleração podem indicar sobrecarga.
Buscar
maneiras de regular emoções, como pausas conscientes, exercícios respiratórios,
caminhadas ou conversas com pessoas de confiança, ajuda a diminuir impulsos. E,
para quem percebe que o padrão de compras serve como uma forma frequente de
aliviar tensão, o acompanhamento profissional pode ser necessário.
Um olhar mais compassivo sobre o consumo
Para
o Dr. Góis, é fundamental que o público trate esse tema com menos culpa e mais
compreensão. Ele explica que as decisões impulsivas não representam falha de
carácter, mas sim revelam a sensibilidade emocional das pessoas diante de um
ambiente que explora vulnerabilidades humanas.
A
Black Friday foi construída para estimular emoções intensas e rápidas. Por
isso, a prevenção emocional é tão importante quanto a comparação de preços.
O
psiquiatra afirma que, quando o consumidor reconhece seus gatilhos e se
planeja, a Black Friday deixa de ser um risco para o bem-estar emocional e pode
se tornar um momento de escolhas conscientes e compatíveis com necessidades
reais do momento.
ViV Saúde Mental e Emocional
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