Por décadas, a poupança ocupou um
espaço quase incontestável no imaginário financeiro do brasileiro. Simples, “segura”
e de fácil acesso, a caderneta se tornou o primeiro, e muitas vezes o único,
destino do dinheiro de milhões de famílias. Mas o cenário econômico mudou, a
educação financeira evoluiu e novas opções surgiram. O que não mudou, ao menos
não no mesmo ritmo, foi o comportamento do investidor médio.
Embora a taxa básica de juros permaneça
em patamar elevado, o rendimento da poupança segue entregando um retorno
modesto, frequentemente incapaz de superar a inflação.
Ainda assim, segundo dados do Banco Central, o produto mantém mais de R$ 900
bilhões aplicados. A pergunta é inevitável: até quando o brasileiro vai
aceitar perder dinheiro por comodidade?
Para o contador, educador financeiro e
autor do livro A Verdade Sobre o Dinheiro, André Charone, a resiliência da poupança não é mérito do
produto, é reflexo da falta de atualização do investidor.
“A poupança virou sinônimo de
estagnação financeira. Ela ‘funcionou’ por muito tempo, mas o contexto mudou.
Hoje, insistir nela como principal forma de guardar dinheiro é abrir mão de
rentabilidade e do próprio futuro financeiro”, afirma Charone.
O problema não é segurança. É
rentabilidade (ou a falta dela)
Pela regra atual, quando a Selic está
acima de 8,5% ao ano, a poupança rende 0,5% ao mês + TR. Na prática, isso tem
significado algo entre 6% e 7% ao ano, antes de descontar
o impacto da inflação.
Produtos conservadores como Tesouro
Selic e CDBs de liquidez diária têm entregado, no mesmo período, resultados
superiores e com risco equiparável.
Em outras palavras: o
investidor que deixa recursos parados na poupança está pagando um “custo de
oportunidade” elevado para manter o conforto da tradição.
Por que o brasileiro continua preso à
caderneta
Segundo Charone, três pilares sustentam
o apego do país à poupança:
• Herança cultural — “Investir” sempre significou “colocar na poupança”.
• Baixa educação financeira — O mercado evoluiu, mas o conhecimento médio não acompanhou.
• Narrativa de segurança absoluta — Um discurso conveniente aos bancos, que continuam se beneficiando da
imobilização do dinheiro do cliente.
“O mito de que a poupança é ‘o único
investimento seguro’ ainda faz o brasileiro aceitar rendimentos pífios. Só que
hoje existe segurança com rentabilidade maior. Falta disposição para sair da
zona de conforto”, reforça Charone.
Alternativas conservadoras (e
superiores) à poupança
Além disso, produtos como LCI, LCA e
até algumas contas remuneradas de bancos digitais podem superar a poupança,
especialmente para quem busca objetivos de curto e médio prazo.
Quando (e para quem) a poupança ainda
faz sentido
A caderneta não está “proibida”. Há
nichos nos quais ela pode funcionar como porta de entrada:
· Para
quem está formando o hábito de guardar dinheiro
· Como
degrau inicial até o investidor entender o básico
· Para
valores simbólicos de curtíssimo prazo
Mas Charone alerta: parar nela
é um erro estratégico.
“Começar pela poupança não é problema.
O problema é permanecer nela por anos. O dinheiro precisa evoluir junto com a
consciência financeira”, diz.
O recado ao investidor brasileiro
O Brasil avançou em educação
financeira, plataformas de investimento, acesso ao Tesouro Direto e produtos
conservadores competitivos. Mas a mentalidade do investidor médio permanece presa
ao passado.
Com a inflação corroendo
silenciosamente o poder de compra, manter grande parte do patrimônio na
poupança é, hoje, uma decisão que custa caro.
“O brasileiro precisa parar de tratar a
poupança como plano financeiro. Ela é ponto de partida, não de chegada.
Informação existe, acesso existe, falta decisão”, conclui Charone.
André Charone - contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA). É sócio do escritório Belconta – Belém Contabilidade e do Portal Neo Ensino, autor de livros e centenas de artigos na área contábil, empresarial e educacional. Seu mais recente trabalho é o livro "Empresário Sem Fronteiras: Importação e Exportação para pequenas empresas na prática", em que apresenta um guia realista para transformar negócios locais em marcas globais. A obra traz passo a passo estratégias de importação, exportação, precificação para mercados externos, regimes tributários corretos, além de dicas práticas de negociação e prevenção contra armadilhas no comércio internacional.
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e digital: https://play.google.com/store/books/details?id=nAB5EQAAQBAJ&pli=1
Instagram: @andrecharone

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