Com expectativa de vida recorde, brasileiros redesenham carreiras e investem em nova formação profissional na maturidade
Aos 49 anos, Fernanda Assayg não parece a típica
estudante de medicina. Enquanto a maioria de seus colegas na Faculdade São
Leopoldo Mandic tem entre 17 e 25 anos, ela traz na bagagem uma carreira
consolidada como fonoaudióloga e a certeza de que nunca é tarde para investir
na qualificação profissional. "Entendi a medicina não como mudança de
carreira, mas como uma evolução", afirma a estudante que se forma este
ano. "Não deixamos conhecimentos para trás. Toda a minha experiência
prévia na fonoaudiologia é um acúmulo que agora se integra à medicina",
explica.
A trajetória de Fernanda espelha uma tendência nacional: cada vez
mais brasileiros estão trocando a estabilidade profissional pela aventura de
vestir o jaleco branco em idades pouco convencionais. Os números confirmam o
movimento. Segundo o Censo da Educação Superior, as matrículas no ensino
superior entre pessoas com mais de 40 anos mais que dobraram na última década,
saltando 109% entre 2012 e 2022.
Embora seja expressivo, esse crescimento é ainda mais robusto nos
cursos de medicina: estudo da Faculdade de Medicina da USP revela que a
quantidade de estudantes com 35 anos ou mais aumentou 554% entre 2013 e 2023.
Em dez anos, a participação desse grupo no total de matriculados subiu de 2,6%
para 7,1% - um salto que desafia o perfil tradicional do calouro de medicina.
Para o Dr. Guilherme Succi, coordenador do curso de Medicina da
São Leopoldo Mandic, esses alunos trazem uma maturidade que transforma as salas
de aula. Na própria instituição que coordena, esse grupo já representa 10% do
corpo discente de medicina, um percentual superior à média nacional de 7,1%.
"Eles chegam com bagagem de vida, experiência profissional em
outras áreas e uma determinação que inspira os mais jovens", observa.
"Enquanto muitos jovens ainda estão descobrindo sua vocação, esses
estudantes já sabem exatamente por que escolheram a medicina e o que esperam da
profissão", avalia.
O fenômeno reflete mudanças profundas no mercado de trabalho e nos
projetos de vida dos brasileiros. Com a expectativa de vida chegando a 76,4
anos, segundo o IBGE, e a saúde permitindo atividades profissionais por mais
tempo, a ideia de uma carreira única ao longo da vida dá lugar a múltiplas
trajetórias.
"A medicina atrai esses profissionais por oferecer tanto
realização pessoal quanto estabilidade financeira. Muitos vêm de áreas
saturadas ou que não oferecem mais desafios", analisa Succi.
Os benefícios, porém, vêm acompanhados de escolhas complexas. Para
esses estudantes, o projeto de se tornar médico envolve uma equação delicada
que vai além dos desafios acadêmicos. Fernanda viveu isso na prática: "Não
consegui conciliar minha carreira anterior, acho desafiador. O curso de
medicina é intenso, me dediquei a ser estudante em tempo integral. Como tive a
oportunidade de fazer faculdade novamente, aproveitei ao máximo", relata.
O coordenador destaca que a jornada exige lidar com o que chama de
"pressão do relógio biológico profissional". "É preciso lidar
com a pressão do relógio biológico, já que muitos terão carreiras mais curtas
que seus colegas mais jovens", pondera Succi. "Por outro lado, trazem
uma perspectiva humana enriquecida por outras experiências profissionais, algo
que beneficia diretamente os pacientes", completa.
Antes mesmo de encarar a graduação, porém, esses candidatos
enfrentam uma barreira inicial. Succi ressalta que o primeiro grande desafio é
retornar à disciplina de estudos e enfrentar o vestibular. “Para vencer essa
etapa, é fundamental criar uma rotina e um plano de estudos que abranjam todo o
conteúdo necessário. Os cursos preparatórios também podem ser uma ferramenta
eficaz nessa retomada de estudos para um vestibular tão concorrido quanto o de
Medicina", aconselha.
Se a tendência se confirmar, a relação entre cidadãos e
profissionais de saúde passará por profundas mudanças na próxima década. Para
Fernanda, a mensagem é clara: "Acho que sonhos são para ser vividos. Nossa
escolha profissional da adolescência não deve ser uma sentença de vida. A
medicina é tão ampla e complexa, ela precisa de todos os tipos de pessoas. A
diversidade é o que enriquece a ciência", afirma.
Enquanto isso, nas salas de aula da Mandic e de outras faculdades pelo país, uma nova geração de médicos mais experientes prova que, para quem tem vocação, o tempo não é obstáculo, e sim aliado.
São Leopoldo Mandic
slmandic.edu.br; facebook.com/saoleopoldomandic; instagram.com/saoleopoldomandic/.

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