Vivemos
uma revolução silenciosa, que até pouco tempo parecia invisível, mas que agora
se revela em cada mensagem respondida, música composta, imagem gerada ou
conversa simulada por inteligência artificial. Em meio a tanta eficiência
tecnológica, um novo dilema emocional surge: como preservar nossa autenticidade
em tempos em que até as emoções podem ser imitadas?
Saber
diferenciar o REAL do simulado se torna cada vez mais desafiador e necessário.
Pesquisa realizada com mais de 3,5 mil pessoas pela World no Brasil reflete
este contexto. Mais de 66% dos pesquisados se sentem preocupados quanto à
possibilidade de encontrar bots ou perfis falsos em apps de relacionamento e
72% dos entrevistados disseram que já suspeitaram ou descobriram que um de seus
matches poderia ser um robô ou uma IA.
A IA
não sente, mas simula sentir. Isso tem confundido a nossa percepção: se um
texto nos emociona, mesmo sendo criado por uma máquina, o sentimento é real? Se
um avatar fala tudo o que queremos ouvir, isso basta? Essa mistura entre o que
é gerado artificialmente e o que vem de um ser humano está gerando um novo tipo
de crise: a crise da identificação.
Começamos
a nos perguntar:
–
Isso foi feito por uma pessoa ou por uma IA?
–
Essa emoção é verdadeira ou programada?
E
nos relacionamentos?
Essa
confusão não afeta apenas a forma como consumimos conteúdo — ela impacta
diretamente a forma como nos relacionamos. No mundo dos filtros, dos chats
automatizados e das respostas perfeitas, começa a faltar espaço para o erro, a
dúvida, o silêncio, a pausa, o imprevisto — ou seja, para o humano. Relacionar-se
de forma autêntica exige vulnerabilidade, mobiliza nossas emoções e é
justamente nesse impasse, no emaranhado das sensações que nos CONECTAMOS e nos
vinculamos realmente. Mas, cada vez mais, estamos trocando essa vulnerabilidade
por versões otimizadas de nós mesmos — versões editadas, práticas, seguras,
agradáveis.
Estamos
tentando ser o que “funciona”, não quem realmente somos.
O
curioso disso tudo é que as ferramentas da IA otimizam e muito diversas
atividades, encurtam etapas, nos poupam tempo e viabilizam caminhos, mas quando
o assunto é RELACIONAMENTO entre humanos, a dinâmica natural das trocas fomenta
o processo e é justamente nele que construímos pontes sólidas de interações,
que nutrem nossos corações do que mais necessitamos: amor.
Reconhecer
o quanto antes se estamos nos comunicando com uma máquina ou um ser humano
torna-se indispensável para nossa segurança e a certeza de que não estamos
confiando o que é mais precioso da gente (nossos sentimentos) a um robô que não
sente e nunca foi o que se diz ser.
É
preciso cultivar autenticidade:
1.Reivindicando
o seu sentir
Não
terceirize sua experiência para a máquina. Sentir confusão, dúvida ou até tédio
é humano — e essencial para amadurecer emocionalmente.
2.
Exercendo presença
A IA
é rápida. Os vínculos reais, não. Eles exigem tempo, escuta, paciência e
imperfeição. Conexão não é sobre quantidade de interações, e sim sobre
profundidade.
3.
Questionando a idealização
O
relacionamento perfeito não existe. Buscar respostas exatas para emoções
complexas é algo que nem a melhor tecnologia pode entregar.
4.
Sendo curioso sobre si
A
autenticidade nasce do autoconhecimento. Quem é você sem os filtros? O que te
move, te toca, te paralisa? Cultive esse olhar interno.
No
fim das contas…
Talvez
a grande pergunta da era da IA não seja o que é real ou irreal, mas sim: O que
ainda é verdade para mim, mesmo em meio ao artificial?
A
autenticidade, nesse cenário, é um ato de coragem. É escolher sentir, errar,
experimentar e construir conexões reais, ainda que imperfeitas. Porque nenhum
algoritmo, por mais avançado que seja, será capaz de substituir o impacto de
uma presença viva, de um olhar que compreende ou de uma escuta que acolhe.
E
você? Já se perguntou se está se relacionando com alguém — ou apenas com uma
projeção que parece segura, mas não sente nada? Caminhos para um futuro mais
confiável.
Nesse
novo mundo, onde as fronteiras entre humano e máquina se confundem, tecnologias
como a que a World oferece surgem como uma tentativa de restaurar a confiança
digital. A proposta é ousada: uma credencial digital pioneira baseada em prova
de humanidade, permitindo que redes sociais e plataformas verifiquem se você
está interagindo com uma pessoa real, e não com uma IA.
Esse
tipo de solução ainda levanta debates importantes, mas já mostra que a
sociedade está buscando formas de reconhecer e valorizar o humano — não apenas
no toque, no olhar ou na escuta, mas também nos espaços digitais, onde cada vez
mais vivemos, amamos e nos relacionamos. E, portanto, pensar, ponderar, falar e
pesquisar mais sobre o assunto pode ser justamente a forma de não nos tornarmos
reféns da IA, mas termos o melhor dela.
Pamela Magalhães - CRP:06/88376 - Psicóloga e Especialista em Relacionamentos
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