Pesquisa indica que a hipertensão materna aumenta em 39% o risco de alta miopia, hipermetropia e astigmatismo. Entenda.
Pesquisa recém-publicada no JAMA, um dos maiores periódicos científicos do mundo, revela que os mais de 2,5 milhões de nascidos na Dinamarca entre 1978 e 2018 de mães com hipertensão arterial durante a gravidez, 39% apresentaram maior risco de alto erro refrativo, incluindo miopia, hipermetropia e astigmatismo. Pior: Nos filhos expostos à pré-eclâmpsia precoce ou eclâmpsia o risco foi ainda mais alto. Esta é a primeira pesquisa que associa hipertensão, pré-eclâmpsia e eclâmpsia aos erros de refração.
O oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier afirma que há evidências de que outras adversidades pré-natais contribuem com o desenvolvimento de problemas de refração. “Por exemplo, mulheres que desenvolvem diabetes gestacional e o tabagismo materno também aumentam a propensão na prole, mesmo que os pais não precisem usar óculos”, salienta.
O especialista diz que doenças infecciosas como a rubéola quando
contraídas durante a gestação pode causar catarata congênita, maior causa de
perda total da visão na infância. Isso acontece
porque o vírus atravessa a placenta e provoca alterações nos tecidos do feto em
formação. “Os sistemas mais atingidos são o cardíaco e nervoso, incluindo os
olhos. Significa que além da catarata congênita, o vírus da rubéola também pode
causar no feto surdez, retardamento mental, malformação do globo ocular
(microftalmia) e até interromper a gestação,” adverte. Outras doenças
infecciosas contraídas na gestação que afetam a visão do bebê são a
toxoplasmose e o sarampo.
Na pesquisa dinamarquesa as crianças apresentaram erros refrativos
precocemente com progressão até a idade de 12 anos. Para Queiroz Neto significa
que mais do que nunca nossas crianças devem passar por exame de refração nos
primeiros anos de vida. Isso porque, no
Brasil 29,3% das mulheres a partir dos 18 anos tem hipertensão ante 27,9% dos
homens.
A incidência da hipertensão na mulher brasileira é progressiva conforme
a idade aumenta, atingindo:
12% entre 25 e 34 anos.
19% dos 35 aos 44 e
36,7% dos 45 aos 54.
Os dados são do Vigitel 2023, (Vigilância dos Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas Não-Transmissíveis por Inquérito Telefônico) um
levantamento anual do Ministério da Saúde que retrata as doenças
não-tramissiveis no País.
Prevenção
Queiroz Neto afirma que o maior risco da alta miopia é o crescimento do
comprimento axial do olho que aumenta o risco de perda da visão na idade adulta
por glaucoma, degeneração macular e catarata precoce.
A boa notícia é que hoje a oftalmologia conta com recursos que além de corrigir miopia controla sua progressão que é mais intensa na infância. Um deles é o colírio de atropina na concentração de 0,01% que pode ser associado a lentes de contato ou óculos com um design capaz de inibir o crescimento do olho por projetar a imagem na frente da retina. Queiroz Neto afirma que os óculos e lentes convencionais projetam as imagens atrás da retina e por isso podem estimular a progressão da miopia.
“Diversos estudos mostram que as atividades sob o sol na infância
estimulam a produção de dopamina, hormônio capaz de fortalecer a esclera, parte
branca do olho, que funciona como o arcabouço do globo ocular”, saliente. Por
isso, a recomendação para proteger a saúde ocular das crianças é duas horas
diárias de atividades sob o sol.
“Até a idade de 10 anos os olhos estão em desenvolvimento e neste
período é essencial que sejam estimulados por imagens claras. A OMS
(Organização Mundial da Saúde) recomenda que o uso de computador e outros
equipamentos não ultrapasse duas horas/dia dos 3 aos 10 anos para não
comprometer o desenvolvimento nesta faixa etária. O excesso de esforço visual
para enxergar próximo diante das telas na infância induz
a um espasmo dos músculos ciliares que provoca miopia acomodativa, uma
dificuldade temporária de enxergar à distância que pode se transformar em
miopia permanente caso a criança não saia da frente das telas para descansar os
olhos. Isso ficou comprovado um levantamento que fiz no hospital com 360
crianças e se tornou um consenso entre os oftalmologistas”, finaliza
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