Acompanhamento médico é fundamental para detectar as alterações e intervir imediatamente, favorecendo o funcionamento adequado e evitando a perda do órgão
A longa jornada para tratar uma doença renal crônica nem sempre se encerra com o transplante de rim. Algumas vezes, pode haver problemas no pós-operatório causados, principalmente, por infecção, por resposta imunológica ou, até mesmo, por complicações durante a cirurgia. Geralmente, com a intervenção adequada no tempo correto, é possível reverter o quadro e salvar o órgão.
“Entre os principais obstáculos que podem ocorrer durante a cirurgia estão o entupimento ou a trombose da artéria ou da veia do rim e a linfocele, uma complicação relativamente comum, que ocorre em até 18% dos pacientes. A maioria forma uma coleção de linfa (líquido linfático) e pode se resolver espontaneamente entre 15 dias e 6 meses após o transplante”, explica a nefrologista do Hcor, Dra. Leda Lotaif.
O acúmulo de linfa acontece porque, muitas vezes, os vasos
linfáticos que transportam o líquido são lesionados ou removidos durante o procedimento
cirúrgico. Com isso, a substância acaba ficando represada na região pélvica,
perto do rim, ou na região inguinal. “O excesso de líquido pode causar outros
problemas e precisar de drenagem. A embolização (interrupção do fluxo) desses
vasos impede que eles fiquem alimentando a produção de linfa para a região”,
esclarece.
Além de complicações por causas mecânicas, como a linfocele, há
diversos outros fatores que influenciam na “pega” do rim transplantado. “Um
órgão recebido de um doador vivo, principalmente se for da família do receptor,
costuma começar a funcionar antes daquele proveniente de um doador falecido. No
entanto, se o paciente não estiver em boas condições clínicas, ainda pode haver
dificuldades”, alerta.
Em geral, o prognóstico é muito bom. “Todavia, há casos em que o
rim recebido não funciona adequadamente. Nessas situações, mantemos ou
retomamos a hemodiálise. Se ainda não for o suficiente, existe a possibilidade
de realizar um novo transplante. Há pessoas que já se submeteram ao procedimento
mais de três vezes”, revela a especialista.
A médica ressalta que o transplante não é a cura da doença renal
crônica e sim umas das terapias. “Temos três tratamentos para a doença renal
crônica: a diálise peritoneal, que é feita na barriga, a hemodiálise e
variações, que são feitas no sangue, e o transplante de rim. Essa escolha,
quando possível, é feita em conjunto, ao longo de toda a jornada. Conversamos
sobre as possibilidades, os tratamentos, as diferenças, as opções disponíveis,
as vantagens e desvantagens de cada uma e qual se adapta mais ao estilo de vida
do paciente”.
Transplante de origem animal
Em 16 de março, uma equipe em Massachusetts (EUA) transplantou com
sucesso um rim de porco geneticamente modificado para um ser humano, pela
primeira vez. “Esse rim já está funcionando e o paciente, um homem de 62 anos,
se recupera bem. Está, praticamente, em condições de alta. Outras tentativas de
transplante de origem animal foram realizadas, mas não obtiveram êxito”, conta
a médica.
Saiba mais sobre transplante renal
A doença renal crônica leva a uma perda progressiva da função dos rins, até o ponto que se torna incompatível com a vida. Quando isso acontece, é preciso iniciar uma terapia para reposição do funcionamento do órgão. Uma dessas terapias é a hemodiálise, outra é a diálise peritoneal e a terceira é o transplante de rim.
Atualmente, há cerca de 30 mil pacientes no Brasil aguardando na fila para receber o órgão. Nos Estados Unidos, mais de 100 mil estão nessa mesma situação. A doação pode ser proveniente de indivíduo falecido ou vivo. A fila de transplante é única para cada estado e segue uma lista de prioridades. Uma pessoa que já tenha sido transplantada tem prioridade na fila do transplante de qualquer outro órgão.
O rim recebido de um doador falecido demora de sete a dez dias para começar a funcionar. “Nesse período o paciente continua fazendo diálise até que ele apresente um débito urinário adequado e que esse rim passe a filtrar o sangue adequadamente. Por outro lado, quando o órgão é de um doador vivo e quanto maior a compatibilidade, maiores são as chances de o paciente sair da sala cirúrgica já com o rim transplantado funcionando”, revela a especialista.
Os desafios dos transplantados, no entanto, não terminam depois da
cirurgia e do funcionamento do novo rim. “A imunossupressão, a qual o receptor
do órgão é submetido, faz com que ele fique mais vulnerável a infecções,
inclusive de germes oportunistas, que podem ser fatais. Em longo prazo, o deixa
mais suscetível a cânceres. Por isso, é importante o controle regular”, reforça
a Dra. Leda.
Hcor
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