No mês do “Setembro Amarelo”, campanha de prevenção ao suicídio, especialistas destacam a importância da farmacogenética, que pode salvar vidas
Setembro é conhecido mundialmente como o mês de prevenção ao suicídio, também chamado de “Setembro Amarelo”. No Brasil, a campanha teve início oficialmente no ano de 2015, com esforços do Centro de Valorização da Vida, do Conselho Federal de Medicina e da Associação Brasileira de Psiquiatria. A origem da cor amarela vem da história que inspirou a campanha: um jovem norte americano de apenas 17 anos que tirou a própria vida dirigindo seu Mustang 68, um carro que ele próprio restaurou e pintou de amarelo. No dia do funeral, os familiares e amigos distribuíram cartões com fitas amarelas presas a eles com a mensagem: se você precisar, peça ajuda!
No Brasil, o suicídio é considerado um problema de saúde pública e sua ocorrência tem aumentado assustadoramente entre jovens. Entre 2000 e 2016, as taxas de suicídio aumentaram 73%, passando de 6.780 para 11.736, segundo os últimos dados do Ministério da Saúde. Hoje, é de conhecimento de todos que os transtornos depressivos se devem a fatores genéticos, neuroquímicos e ambientais, sendo uma doença como outra doença qualquer, que merece atenção e deve ser tratada. Porém, durante muito tempo o assunto não era abordado devido ao preconceito e ao estigma.
Dentre os transtornos psiquiátricos, ansiedade, depressão, psicose e epilepsia destacam-se por possuírem elevada incidência na população, além de causarem grande impacto na qualidade de vida dos indivíduos afetados por estes problemas. Apesar da variedade de terapias medicamentosas disponíveis, muitos pacientes apresentam falta de efetividade do fármaco ou efeitos adversos graves, que podem fazer com que o paciente pare o tratamento sem a recomendação médica. “Falhas na adesão ao tratamento dos transtornos depressivos são cada vez mais preocupantes. Eles podem ocorrer devido ao aparecimento de efeitos adversos ou devido à ausência de resposta à medicação. Os antidepressivos são substratos do sistema enzimático Citocromo P450 em que existem várias isoformas enzimáticas codificadas por diferentes genes. Assim, variantes desses genes podem determinar enorme variabilidade na maneira como cada indivíduo irá metabolizar o medicamento ou, ainda, variabilidade na dose de medicamento adequada para uma resposta terapêutica eficiente. O estudo dessas variantes é chamado de farmacogenética”, comenta Nelson Gaburo, gerente geral do DB Molecular, do laboratório Diagnósticos do Brasil.
Os “Painéis Farmacogenéticos Psicotrópicos” representam um avanço
importante no tratamento personalizado dos transtornos psiquiátricos,
proporcionando informações importantes sobre a metabolização dos medicamentos
utilizados ou que possam ser prescritos no futuro. A farmacogenética estuda
como as variações presentes no genoma dos indivíduos podem influenciar na
resposta aos medicamentos, tendo como objetivo personalizar o tratamento de
acordo com as características genéticas de cada pessoa. “O teste de farmacogenética é um grande aliado no tratamento dos
transtornos depressivos. O conhecimento da presença ou ausência de mutações nos
genes envolvidos no metabolismo dos antidepressivos fornece subsídios para
auxiliar na personalização da escolha da medicação e no manejo de dosagens”,
detalha Nelson.
Segundo o especialista, os fármacos passam por cinco etapas desde
sua ingestão até eliminação: absorção, distribuição, interação com os alvos,
metabolização e excreção. Há dois grupos de genes que atuam na resposta aos
medicamentos. “O primeiro grupo é constituído pelos genes que influenciam como
o organismo modifica o fármaco, estes genes codificam enzimas que o metabolizam
assim como seus transportadores e, portanto, determinam em grande parte a sua
toxicidade. Já o segundo grupo, consiste nos genes que influenciam como o medicamento
modifica nosso organismo, estes genes codificam enzimas, receptores, canais
iônicos e suas rotas associadas e que determinam em grande parte, a eficácia do
medicamento”, explica.
A deficiência na atividade de uma enzima metabolizadora pode resultar
na eliminação insuficiente do fármaco, aumentando à probabilidade de que
ocorram reações adversas. No caso de pró-fármacos, este mesmo déficit pode
resultar em uma menor taxa de conversão do pró-fármaco em um fármaco ativo e,
portanto, em uma redução substancial da resposta terapêutica. “Portanto, o
teste farmacogenético pode ser utilizado para que o médico tenha informações
suficientes para prescrever um tratamento personalizado, escolhendo o
medicamento mais eficaz com menor toxicidade, respeitando a individualidade de
cada pessoa. A farmacogenética pode ainda ajudar na escolha da dosagem mais
adequada para cada paciente”, completa Nelson.
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