Segundo
o Observatório de Oncologia, em 58% dos casos a doença é diagnosticada em
estágio avançado
No dia 15 de setembro
é comemorado o Dia Mundial de Conscientização Sobre Linfomas, tumores derivados
das células chamadas de linfócitos, responsáveis por orquestrar a defesa do
organismo contra infecções e outras doenças. O descontrole dos linfócitos pode
fazer com que quando maduras, essas células se alojem nos gânglios e se
desenvolvam de forma maligna, ocupando essas estruturas, causando o seu
crescimento e, como consequência, o linfoma. O Instituto Nacional de Câncer
estima que 12.670 novos casos da doença sejam registrados no Brasil neste ano.
O hematologista e
professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Dr. Rony Schaffel,
estima que cerca de 90% dos linfomas diagnosticados são não-Hodgkin, que se
caracterizam por uma infiltração difusa por linfócitos de diferentes formas de
acordo com o subtipo. Já os linfomas de Hodgkin têm uma estrutura celular
diferente dos outros. Segundo o médico, apenas 5% do tumor é composto pelas
células malignas e o restante por células inflamatórias. Além disto, as células
malignas do linfoma de Hodgkin, conhecidas como células de Reed-Sternberg, são
bizarras, grandes e em forma de "olhos de coruja". "Por este
motivo, até os anos 90, o linfoma de Hodgkin era chamado de doença de Hodgkin.
Posteriormente foi confirmado que se trata de linfócitos e foi alterada a
nomenclatura", lembra.
Um levantamento
realizado pelo Observatório de Oncologia concluiu que o diagnóstico dos
pacientes com linfoma no Brasil atendidos pelo SUS entre 2008 e 2017 foi
tardio. Em 58% dos casos, a doença já estava avançada. Na opinião de Schaffel,
não existe uma forma de prevenir linfomas, pois eles dificilmente têm uma causa
definida, mas sinais e sintomas devem ser observados pelo paciente
principalmente o crescimento de massas. "O alerta vem, por exemplo, do
aparecimento de um gânglio grande nos locais de apresentação mais comuns, como
pescoço e na axila. Mas a verdade é que os linfomas podem surgir em qualquer
lugar, como na tireoide, no cérebro, testículos, estômago e até
intestino", explica o hematologista.
A busca pelo
diagnóstico
Por ser difícil de
rastrear, a jornada do paciente com linfoma pode ser longa e conturbada. Em
2011, com apenas 28 anos, a administradora e especialista em desenvolvimento,
Heloísa Orsolini Albertotti, foi diagnosticada com linfoma não Hodgkin, após
três longos meses investigando um sintoma inicial de uma dor forte no braço.
"No começo, eu desenvolvi uma trombose. Mas não foi diagnosticado de
início que, na verdade, era o linfoma que estava comprimindo uma veia e
causando o problema", conta. Ela explica que passou por diversos
especialistas como ortopedista, ginecologista, vascular e fez uma biópsia que
deu negativo para linfoma. Somente após a segunda biópsia mais aprofundada, ela
teve diagnóstico fechado e foi encaminhada a um oncologista e hematologista.
"É preciso perceber os sinais do corpo e ir atrás para investigar
alterações", afirma. Heloísa passou por oito sessões de imunoquimioterapia
e hoje está curada.
O Dr. Rony Schaffel
recomenda que em caso de aumento de gânglios o paciente seja encaminhado direto
para um hematologista. No entanto, alerta que é importante que o paciente tenha
um médico do seu relacionamento (clínico-geral, por exemplo), que ajude a
excluir as causas de aumento de gânglios que não tem ligação com linfomas, como
infecção de garganta. O especialista afirma que "o hemograma é um exame
fundamental, porque existem linfomas que aparecem no sangue na forma de
linfócitos aumentados. Além disso, é imprescindível a realização de biópsia
para confirmação do diagnóstico".
Tratamento e acesso
Segundo o professor da
UFRJ, a maioria dos linfomas são tratados com imunoquimioterapia, que combina a
administração de quatro medicamentos, conhecido como esquema CHOP, com o uso de
um anticorpo monoclonal chamado rituximabe.
O especialista afirma
que os medicamentos biológicos como o rituximabe são essenciais para a
oncologia. No tratamento dos linfomas, aumentam a taxa de cura dos pacientes.
"O monopólio e a patente dos medicamentos de referência vem acompanhada de
um preço bem alto dos produtos. A chegada dos biossimilares no mercado tem
diversas vantagens, principalmente a competição de alto nível, com substâncias
de qualidade eficácia e segurança testadas, similares ao de referência,
proporcionando queda do preço e com isso, naturalmente, o sistema tende a
absorver mais tratamentos e novas indicações dentro do mesmo valor de
orçamento", explica o hematologista. "Outra vantagem é que a
nacionalização da produção desse tipo de medicamento reforça e facilita o
sistema de farmacovigilância. O Brasil também ganha em termos de produção
intelectual, mercado de trabalho e, principalmente amplia a possibilidade de
desenvolvimento e produção de moléculas inovadoras", conclui.
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