Todo remédio
"derruba" o paciente? O psicólogo vai contar tudo que o adolescente
fala para os pais? Esses e outros questionamentos, bastante comuns, respondidos
por uma psiquiatra e uma psicóloga
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a
cada ano, cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida em todo o mundo.
Segundo a psiquiatra credenciada da Paraná Clínicas, Dra. Roberta Petrauskas
(CRM-PR 24.786, RQE 2.810), estudos recentes sugerem que apresentar sintomas
com necessidade de atenção em saúde mental é apenas uma questão de tempo. Os
levantamentos refletem o impacto social e evidenciam ainda mais a grandiosidade
do problema: estamos lidando com uma questão de saúde pública. O quadro atual é
ainda mais preocupante devido ao isolamento social e às crises de
relacionamento que surgiram com a pandemia do novo coronavírus – seja entre
casais, familiares, profissionais ou amigos.
O Setembro Amarelo coloca em discussão a prevenção
ao suicídio, mas também traz o lembrete de que ainda existem muitas barreiras
que impedem a busca por ajuda e que acabam aumentando o sofrimento das pessoas,
tornando os quadros ainda mais arrastados. Tudo isso porque muitas pessoas
continuam carregando medo dos rótulos que acompanham o tratamento. “Os
psiquiatras não são ‘médicos de loucos’. Na verdade, é um grande mito com
raízes no histórico da especialidade, que nasceu dentro dos antigos manicômios,
quando as medicações ainda não existiam e pouco se podia fazer pelos portadores
de transtornos mentais graves”, esclarece Dra. Roberta.
Para tentar combater um pouco desse preconceito,
Dra. Roberta e a psicóloga credenciada da Paraná Clínicas, Ana Paula Zanardi,
construíram uma lista com mitos e verdades sobre saúde mental:
Fazer terapia significa que sou fraco?
Psicóloga: Não. Medos, resistências por
julgamento ou crítica, a crença da fraqueza por buscar ajuda e vergonha, estão
entre as principais barreiras para o tratamento. Muitos pacientes evitam a
psicoterapia porque “o que as pessoas vão pensar se souberem que vou ao
psicólogo?”. Mas depois que começam, comentam: se eu soubesse que seria assim,
já teria começado antes, pois é libertador.
Só psicoterapia não resolve?
Psicóloga: Em alguns casos, dependendo do
sofrimento e do impacto que está trazendo ao paciente, se faz necessária uma
avaliação com o psiquiatra para um suporte medicamentoso. O trabalho
multidisciplinar é sempre bem-vindo e cada caso tem a sua particularidade.
Todo tratamento psiquiátrico é baseado em remédio?
Psiquiatra: Não, o tratamento também
envolve medidas não farmacológicas e psicoterapia, que são as ferramentas mais
utilizadas na prática clínica. Existem também tratamentos neuromoduladores,
como a Eletroconvulsoterapia (ECT) e a Estimulação Magnética Repetitiva
Transcraniana (EMRT), que são menos utilizados.
Com que frequência preciso ir ao psiquiatra?
Psiquiatra: Depende da avaliação
individualizada do caso e também da fase do tratamento em que o paciente se
encontra. No início do tratamento ou nas fases de agudização do quadro, por
exemplo, as consultas podem chegar a ser semanais. Na fase de estabilidade, as
consultas podem ser ainda mais espaçadas do que as mensais. O seu médico é quem
poderá dizer qual será o melhor intervalo para a próxima reavaliação.
Importante ressaltar que ele deve ser comunicado quando acontecer alguma
desestabilização do quadro.
Se eu começar a tomar remédio, vou ter que tomar
para sempre?
Psiquiatra: Depende da avaliação
individualizada do seu caso. Alguns dos principais fatores que influenciam na
duração do tratamento são: uma boa evolução, a duração dos sintomas antes do
início do tratamento e o risco de recorrência das crises.
Todo remédio antidepressivo ou ansiolítico
“derruba” o paciente?
Psiquiatra: Não. As medicações que usamos
em psiquiatria chamam-se psicotrópicos, não são todas iguais e têm propriedades
diferentes. A lentificação e a sonolência, que produzem esse efeito de
“derrubar” o paciente, são geralmente mais utilizadas em quem está muito
agitado ou para quem tem como um de seus sintomas a insônia. Quando esses
efeitos estão excessivos, é preciso comunicar o médico o quanto antes para uma
adequação de dose ou troca da medicação.
O remédio só mascara o problema e não oferece
solução?
Psiquiatra: Em geral, os problemas
psiquiátricos têm base genética, onde as medicações não têm poder de atuar.
Dizemos, então, que os medicamentos conseguem resolver os sintomas, às vezes
por completo. Mas, devido ao fato de não terem o poder de mudar as tendências
de desenvolvimento do problema novamente, nem sempre podemos dizer que o
paciente foi curado.
O corpo acostuma com o remédio e é preciso usar
medicamentos cada vez mais fortes?
Psiquiatra: Esse é o fenômeno da
tolerância, que corresponde a um dos critérios da dependência química. Ele não
ocorre com todas as medicações e nem com todos os indivíduos que fazem uso dos
psicotrópicos, pois poucos medicamentos realmente causam dependência – os que
causam, em geral, são identificados como “tarja preta”. Procuramos utilizá-los
de maneira pontual, pelo menor tempo possível e apenas quando são
indispensáveis. Às vezes, é preciso o uso contínuo, então tentamos contornar o
risco da dependência de outras formas para não causar danos ao paciente.
A psicoterapia dura para sempre?
Psicóloga: Não. Cada paciente e cada processo
psicoterapêutico tem a sua duração.
A psicoterapia aumenta o sentimento de culpa?
Psicóloga: Não. A psicoterapia tem o
objetivo da regulação emocional, alívio de sintomas, reestruturação de crenças
e mudanças de comportamento.
Fazer terapia por obrigação ajuda?
Psicóloga: Não ajuda e ainda pode
atrapalhar. O paciente precisa dar abertura ao processo psicoterapêutico.
A psicóloga pode convidar outras pessoas para minha
sessão?
Psicóloga: Sim. Às vezes, um atendimento
familiar traz alívio de sintomas e uma melhor relação familiar para o paciente.
No caso de crianças e adolescentes, a psicóloga vai
contar todos os segredos para os pais?
Psicóloga: Jamais. Um processo
psicoterapêutico é sigiloso e ético. Só é aberto aos pais quando é algo que
oferece riscos a criança, como abuso, ideação suicida. Mas a criança será
comunicada disso.
Por que alguns pacientes precisam ser internados?
Psiquiatra: Porque existem urgências em
psiquiatria, nas quais pode haver risco de vida para o próprio paciente e até
mesmo para terceiros. Assim como em outras especialidades médicas as
internações podem ser indicadas, entre outros motivos, quando há risco de vida
e se faz necessário monitoramento constante do paciente. O risco de suicídio, a
agressividade, a confusão mental, a perda grave do pragmatismo são algumas das
indicações de internamento em psiquiatria, sendo que o objetivo é não só a
resolução de sintomas agudos, como também a proteção do indivíduo enquanto as
medicações administradas ainda não conseguiram atingir efeito suficiente para
diminuir o risco de desfechos graves ou fatais.
Paraná
Clínicas
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