Aumento do número
de casos de COVID-19 pode sobrecarregar ainda mais o sistema de saúde,
dificultar rotina de pacientes em tratamento de câncer e limitar ainda mais o
acesso a exames de prevenção da doença
As políticas atuais de relaxamento da quarentena
significam a reabertura de inúmeros comércios e o retorno dos trabalhadores às
suas rotinas. A consequência disso é uma maior exposição da população ao
coronavírus e o aumento das chances de contágio. Com mais pessoas doentes, mais
sobrecarregados ficam os hospitais, que já estão com taxa de ocupação acima de
80% em oito estados, e precisam dar conta tanto dos pacientes com coronavírus,
quanto daqueles em tratamento de outras doenças, como o câncer.
Para a Dra. Angélica Nogueira, diretora da
Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), os riscos são reais. “Para
uma doença que não temos vacina ou tratamento, um relaxamento no distanciamento
social em um momento de ascensão de casos e de mortalidade faz com que a
probabilidade de pacientes oncológicos contraírem a doença seja maior, o que,
para eles, pode ser ainda mais grave, já que fazem parte do grupo de risco”,
afirma.
“Para auxiliar os pacientes que não podem ter seus
tratamentos interrompidos, clínicas de oncologia e hospitais vêm se
organizando, traçando planos de contingência para mitigar o risco de infecção,
viabilizar a continuidade dos tratamentos e minimizar o impacto da pandemia
sobre o tratamento dos pacientes”. Ainda de acordo com a Dra. Angélica, “Com o
prolongamento da pandemia e redução da realização de exames de prevenção e
rastreamento, há um risco significativo de aumento do número de casos de câncer
diagnosticados em estágios avançados. Neste cenário, para a necessária
retomada de exames de prevenção/rastreamento de câncer torna-se fundamental a
criação de fluxos diferenciados e dedicados àqueles sem suspeita de COVID-19.
Desta forma, a realização de exames seria feita com mais segurança e sem a
necessidade de interromper a rotina de rastreamento, evitando um impacto
negativo em diagnósticos da doença em estágios mais avançados”, completa.
Outro ponto preocupa a SBOC: a falta de
transparência dos dados que permitiam a territorialização da pandemia, pelo
Ministério da Saúde. Para a Dra. Angélica, a decisão do governo aumenta o risco
à vida da população, pois a falta de visibilidade do tamanho do problema limita
a formulação de ações adequadas de combate ao coronavírus.
“Se compararmos o combate da pandemia do
coronavírus com a gripe espanhola, por exemplo, podemos observar as mesmas
dificuldades do início do século, como a falta de vacina e de tratamento. A
diferença é que agora temos a informação, que é essencial e nossa grande arma
até o momento. Os países que conseguiram o melhor controle do coronavírus
fizeram uma identificação adequada dos casos, rápido isolamento de pacientes e
contatos e pela orientação em larga escala. Por isso, a SBOC está ao lado de
tantas outras sociedades médicas e organizações civis na defesa da
transparência de informações e elaboração de estratégias baseadas em evidências
científicas para combater a doença”, completa.
SBOC recomenda
O relaxamento da quarentena e a incerteza sobre os
dados reais brasileiros pode influenciar a população a diminuir os cuidados
essenciais contra o coronavírus, aumentando o risco da nossa população. Por
este motivo, a SBOC recomenda a continuidade do isolamento social a todas as
pessoas que tiverem condições fazê-lo, além de cuidados rígidos de proteção,
como: circulação mínima, uso de máscara e lavagem das mãos. Para os pacientes
oncológicos, é muito importante que a decisão pela realização imediata ou pelo
adiamento de consultas, exames e tratamento seja feita em conjunto com o
médico, caso a caso. A SBOC e seus membros têm discutido continuamente soluções
e oportunidades de melhorias para garantir o melhor atendimento e segurança dos
pacientes de câncer em todo Brasil.
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