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terça-feira, 2 de junho de 2020

REMÉDIO OU VENENO? DEPENDE DA DOSE


Existe apenas um segredo para sobreviver: não morrer. O confinamento social que nos impuseram nos últimos meses, por decisões equivocadas, irresponsáveis e inconsequentes de governadores e prefeitos – e até de algumas autoridades do primeiro escalão do Executivo Federal – nos tem ensinado algumas lições. O preço é caro, caríssimo, não tenha dúvidas. Mas precisamos tirar alguma experiência da excepcionalidade barbaresca atual, a fim de nortear nossa conduta, nossas decisões e nossas atitudes no futuro que se avizinha.
 
Aqueles de nós (CPFs e CNPJs) que sobrevivermos à crise que se instalou no Brasil e em quase todas as nações do mundo, teremos de sair dela mais fortes, robustecidos e imunizados aos sopros contrários de outros ventos que certamente ainda haverão de assoprar. Lamentavelmente, o preço está sendo caro. E a história cobrará o seu tributo.
 
Países que adotaram, no início da epidemia, o uso obrigatório da máscara respiratória facial, dispensando o isolamento social, tiveram números muito mais favoráveis que o Brasil. O Japão, por exemplo, que tem 130 milhões de habitantes e uma densidade demográfica 15 vezes maior que o Brasil (tem 338 habitantes por quilômetro quadrado contra 23 no Brasil), não fez isolamento social e teve, até o dia 15 de maio, 729 mortes. Hong Kong, com 7,5 milhões de habitantes e uma densidade de 6.544 habitantes por quilômetro quadrado (284 vezes maior que o Brasil), teve quatro mortes. O Vietnã, com 95 milhões de habitantes e densidade populacional de 266 habitantes por quilômetro quadrado (11,5 vezes o Brasil), não teve nenhum morto por Covid-19 até 15 de maio de 2020. Taiwan, com 23 milhões de habitantes e densidade demográfica de 636 hab./Km2 (27,6 vezes o Brasil) teve sete mortes por Covid-19 até 15 de maio de 2020.
 
O que têm esses países em comum, além da alta densidade demográfica e do baixo número de mortes por corona? Todos eles adotaram o uso obrigatório da máscara respiratória facial e o isolamento vertical seletivo, ou seja, isolaram apenas os grupos de risco e os infectados, deixando a economia fluir e o povo trabalhar normalmente, observados, com todo o rigor, os protocolos sanitários.
 
As medidas restritivas impostas pelo isolamento social irão matar muito mais do que a Covid-19. A cada semana de paralisação, R$ 20 bilhões em riquezas (alimentos, medicamentos, bens e serviços) deixam de ser produzidos no Brasil. Estimam, os otimistas, uma queda de 4,8% no nosso PIB. Os pessimistas a projetam para -8,5%. Isso indica que entre 15 e 20 milhões de postos de trabalho serão fechados ainda este ano. O comércio no Brasil acumulou perdas de R$ 124,7 bilhões nas primeiras sete semanas de isolamento.
 
O contraditório é que, em plena pandemia, quando o setor médico hospitalar deveria estar faturando mais, os hospitais privados tiveram uma perda de R$ 2,7 bilhões. A maioria dos hospitais privados está com menos de 30% de sua taxa de ocupação. E o mais incrível: sobram vagas na rede pública, que, na maioria dos estados, está com apenas 82% de seus leitos ocupados. Pela primeira vez, nas três décadas do SUS, sobram leitos na rede pública. E o que isso significa? doentes crônicos e ocasionais estão deixando de se tratar. Um pré-cardiopata deixa de fazer os exames e se submeter a um cateterismo salvador, com medo da Covid-19, e morrerá de infarto daqui alguns meses. Da mesma forma um doente oncológico, à míngua de um diagnóstico precoce e um princípio de tratamento, irá “metastasar” em casa; e gestantes que não estão fazendo o pré-natal terão complicações obstétricas, podendo morrer ou matar/sequelar o bebê. O número de suicídios – cerca de 11.000/ano no Brasil, certamente irá aumentar de forma assustadora, pelo desemprego, endividamento, bancarrotas e a depressão, doença silenciosa que, além de baixar a imunidade (para o próprio coronavírus), fomentará os suicídios.
 
A Asbraf defende que se retome imediatamente a atividade econômica no País. Não é o caso de se afirmar que a economia seja mais importante que a saúde, mas sim de reconhecer que não há saúde sem economia. Se o SUS tivesse recursos suficientes, não morreriam pacientes nos corredores dos hospitais ou anos aguardando o agendamento de uma cirurgia de emergência.
 
O correto é que adote-se um isolamento vertical seletivo, mantendo em casa os pertencentes aos grupos de risco e os já infectados. Os demais devem ser liberados para trabalhar e produzir riquezas para o Brasil, com as cautelas sanitárias indispensáveis.



Raul Canal - presidente da Associação Brasileira de Franqueados (Asbraf)


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