A pandemia de coronavírus tirou o mundo do ciclo
contínuo e, aparentemente, infinito de nossas vidas e nos trouxe para dentro de
nossas casas, impossibilitados de continuarmos na “roda da vida” como no
período anterior à crise. E essa alteração de comportamento e de consumo trouxe
inúmeras novidades para muitos mercados e muitos segmentos, prometendo uma
retração mundial de 3% do PIB, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em outras palavras, neste ano teremos menos dinheiro em circulação (consumo) do
que no ano anterior.
O “novo normal” se refere exatamente ao novo modo
de consumir e de trabalhar nos mais diversos mercados e segmentos. Sem sombras
de dúvidas, algumas mudanças e adaptações são passageiras. Outras, significam
um marco e uma nova forma definitiva de pensar, consumir e operar. Segundo uma
pesquisa realizada pela Bain&Company, há 4 grandes grupos de segmentos
impactados pela crise: aqueles que tiveram aumento de demanda na crise e que
continuará com consumo promissor; aqueles em que a demanda aumentou mas deve se
estabilizar no longo prazo; aqueles que tiveram queda de demanda na crise mas
que prometem ter um pico subsequente; e aqueles que tiveram queda de demanda e
que, aparentemente, vão ter uma recuperação mais lenta.
Os diversos profissionais liberais,
aqueles com especificidade técnica elaborada e que podem exercer seu trabalho
de forma livre, e que possuem o poder de suas decisões estratégicas, estão
envolvidos em pelo menos 3 destes 4 grandes grupos de segmentos. No grupo de
segmentos que tiveram aumento de demanda na pandemia e que prometem continuar
em alta a longo prazo estão os profissionais de saúde (como nutricionistas,
médicos, psicólogos, fisioterapeutas, educadores físicos), professores e
teleprofissionais liberais.
Os profissionais de saúde estão sendo requisitados,
muito impulsionados pela crise de saúde mental e física decorrente da crise,
além dos atendimentos médicos que já ocorriam anteriormente. O mundo percebeu a
real importância de algumas necessidades negligenciadas anteriormente, que se
referem a nossa saúde mental e espiritual.
Os professores estão sendo recompensados pelas suas
iniciativas no ambiente online, e o mesmo vale para todos aqueles profissionais
liberais que conseguirem entregar seu valor para o cliente/paciente de forma
virtual, os chamados “teleprofissionais liberais”.
Sejam médicos, advogados, psicólogos, coaches,
professores ou educadores, o profissional que fizer uma rápida
transformação digital em seu modelo de negócios sairá na frente e beberá água
limpa. Isto porque conseguirá aproveitar algumas boas oportunidades na crise e
mais: após a crise, provavelmente os clientes e pacientes terão uma nova forma
de consumir que preze pela qualidade de vida, conforto e redução de
deslocamentos desnecessários.
Uma boa dica para este tipo de profissional liberal
é entender muito bem sua relação de valor entregue, preço e custos, além de
fazer esta transformação digital o mais breve possível, conforme já foi citado.
Pensando nos mercados que estão com baixa demanda durante a crise mas que
prometem ter um grande pico de consumidores no período, logo após a pandemia
passar, podemos citar os profissionais de setores de beleza.
Devido às restrições e ao distanciamento social, muitos desses profissionais
sofreram um grande impacto.
Entretanto, muitos consumidores voltarão aos salões
e aos estúdios no período subsequente. A dica para este tipo de profissional é
praticar a empatia, usando as redes sociais e a tecnologia para se manter em
contato com os clientes, nutrindo um relacionamento forte e criando cada vez
mais autoridade em seu mercado. Além disso, de nada adianta aumentar a
autoridade se não houver capacidade de atendimento no período pós-pandemia.
Então, fazer um planejamento estratégico adequado, balanceando muito bem os
investimentos em marketing e em capacidade operacional é primordial. Um “novo
normal” de consumo pode surgir quando falamos dos clientes deste tipo de
mercado, principalmente ligado à frequência do consumo de alguns tipos de
serviço, como corte de cabelo e unhas, por exemplo.
Quando falamos dos mercados mais impactados pela
crise, ou seja, que tiveram grande diminuição na demanda e que parecem demorar
mais na recuperação, devemos citar os profissionais liberais que trabalham com eventos e
nos setores imobiliários. Isto porque nem mesmo o especialista
com mais informações no mundo conseguiria, com alguma exatidão, passar as
projeções destes mercados. São segmentos que podem passar por transformações
imensas, tanto na forma como o cliente consome, até no valor percebido. Estes
profissionais podem enfrentar períodos com grandes necessidades de reinvenção,
com um “novo normal” bem diferente.
A pandemia trouxe um “novo normal” para um “novo
mundo”. E há oportunidades e desafios em todas as
atividades e profissões. O profissional liberal tem, a seu favor, a
possibilidade de decidir, em muitas ocasiões, para qual caminho seguir. E, sem
sombra de dúvidas, com empatia e coragem, os tempos podem ser de boas
oportunidades.
Victor Corazza Modena - professor de Pós-Graduação
na IBE Conveniada FGV, nas seguintes disciplinas de Empreendedorismo, Gestão
Financeira & Contabilidade Geral, Negociação & Conflito. É fundador da
empresa No Final das Contas.
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