Profissionais, mães, empreendedoras, responsáveis
pelo lar são algumas das funções exercidas em dias comuns. Conciliar casa,
trabalho e filhos não é novidade na rotina de milhares de mulheres, fato que,
logicamente, exige muito esforço e estratégia. Contudo, o surgimento do coronavírus
e as recomendações de isolamento social impuseram viver todas essas realidades
juntas, 24 horas, evidenciando ainda mais a sobrecarga e o acúmulo de tarefas
que as mulheres precisam vencer diariamente.
Segundo dados de 2019 divulgados pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), mulheres dedicam em média 18,5 horas
semanais aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas, na comparação com 10,3
horas semanais dos homens. Ou seja, em tempos normais, as mulheres se dedicavam
quase o dobro às atividades de casa e aos filhos. O coronavírus só tornou isso
mais evidente, já que elas permanecem com todas essas funções, que se somam ao
fato de que as crianças agora estão em casa e é quase impossível contar com
ajuda externa. Obviamente, além de tudo, há a vida profissional que precisa ser
mantida e a exigência de que a qualidade das atividades permaneça igual.
Quem pode ficar em casa enfrenta uma alta pressão
de continuar sua carreira como se não houvesse empecilhos e isso gera uma
sobrecarga física e emocional que pode acarretar diversas patologias
posteriores. Uma das mais visadas é a síndrome de Burnout, também conhecida
como síndrome do esgotamento profissional. O distúrbio psíquico tem como
característica estados de estresse ocasionados por condições de trabalho
físicas, emocionais e psicológicas desgastantes. Se o cenário dito “normal” já
é desvantajoso para pessoas do sexo feminino, na atual conjuntura isso se torna
ainda mais crítico.
No Brasil, 18% dos ministros, 23% dos
desembargadores, 48% dos advogados e 50% dos servidores são mulheres, segundo a
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Ademais, de acordo com a Organização
Mundial da Saúde (OMS), 70% dos trabalhadores da área de saúde no mundo são
mulheres, sendo que, no Brasil, a enfermagem é composta por um quadro 85%
feminino. Dessas, quem não está se desdobrando para cuidar da família e da
carreira por meio de teleconferências, teleaudiências e trabalho remoto, está
atuando diretamente no combate à Covid-19.
Outro dado importante: cerca de 11 milhões de
famílias no Brasil são comandadas por mães solo, que muitas vezes não podem
contar nem com familiares próximos para ajudar nas tarefas diárias.
Todas essas informações e percepções, além de
outras como o aumento da violência doméstica, nos levam a pensar que as
atitudes destoam dos discursos. Guerreiras, heroínas, batalhadora e
diversos outros adjetivos são válidos, mas não ditam a obrigatoriedade das
mulheres precisarem carregar uma carga muito maior do que de fato suportam. É
valido enxergar força, mas covarde observar de longe as lutas pelas quais
passaram e estão passando. As mulheres podem e devem receber o devido valor que
merecem na sociedade e não se sentirem sobrecarregadas por serem responsáveis
pela maioria das esferas em que atuam.
Márcia Glomb - advogada especialista em Direito do
Trabalho, e atua no Glomb & Advogados Associados
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